"O PAN será o único partido claramente animalista e também ambientalista no Parlamento Europeu"
Pedro Fidalgo Marques, licenciado em dança e com pós-graduação em ciência política pelo ISCSP da Universidade de Lisboa, é membro da Comissão Política Nacional do partido PAN, Pessoas, Animais e Natureza. Foi candidato a deputado nas últimas eleições legislativas, encabeça a lista para o Parlamento Europeu
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Bem-vindo ao TSF Europa…
Falei nas suas qualificações académicas… sei que já deu inicio ao processo de doutoramento, mas que a política obriga a fazer uma pausa nessa empreitada… O PAN apresentou-o não com dados concretos, isto é, com qualificações académicas, projetos, empresas, mas sim como alguém com “vasta experiência em ativismo comunitário e cultura”… em que é que isto se traduz? Quer apresentar-se aos portugueses através da TSF?
Muito bom dia. Antes de mais, quero agradecer o convite e a oportunidade de estar aqui, a apresentar esta candidatura verde à Europa. Eu penso que neste percurso que tenho feito em ativismo na parte cívica e tive e conduzi alguns projectos de ativismo cívico em termos de uma associação cívica em Oeiras em que procurávamos trabalhar a educação para a cidadania e trazer as pessoas também para esta informação do que é que a vida política, como é que podem participar no dia a dia, como é que podem interagir com os órgãos locais, mas depois também nessas vertentes tão importantes para o PAN. Eu fui Vice-presidente da Liga para a Proteção da Natureza, ou seja, estive aqui ainda cerca de 6 anos ligados ao corpos sociais da que é a ONG de ambiente mais antiga da Península Ibérica, uma das maiores de Portugal, e também na parte animal, onde diariamente - hoje em dia se calhar já não diariamente, infelizmente, mas recorrentemente costumo cuidar mais a minha área. Costumo brincar: sou um cat person, por isso cuidador de colónias de gatos e muitas vezes estando na rua, ajudando alguns gatos e por isso acaba por ser toda esta minha.
Experiência de vida?
Certo, e também na parte da cultura, a minha área é a dança, como disse, sou licenciado em dança; na pandemia, vimo-nos todos bastante perdidos e houve ali um momento, na reabertura…
O setor da cultura…
O setor da cultura, mas acho que todo o país se sentiu um bocado perdido na realidade, principalmente na reabertura, quando sabíamos que…
Mas houve profissões e áreas de actividade mais vulneráveis?
Ficaram mais afectados. A cultura foi um desses; na dança, particularmente, porque é algo muito físico. Neste caso, na minha área profissional, que era o ensino de dança, passámos para online, mas não podíamos estar no dia-a-dia com os alunos, é algo que é muito físico não é muito presencial. E houve ali um período em que não sabíamos o que é que ia acontecer; se podíamos abrir, se não podíamos, a que é que nos equiparávamos, que éramos ensino, que éramos desporto, que éramos atividades económicas, que éramos educação e houve todo um período em que liderei o processo da fundação da Plataforma Dança, que junta a Associação de Profissionais, escolas e companhias de dança e mais nesta parte, também de um ativismo na área da cultura da dança, que permitiu fundar a Associação Profissional e liderar o processo, junto com o governo, na área da cultura, depois o Estatuto dos Profissionais na área da cultura e daí ter aqui um bocadinho este percurso que o PAN optou por relevar, porque realmente eu acho que quando nos candidatamos a um órgão a nossa formação, claro, é fundamental, a nossa experiência política, mas eu diria que também o nosso percurso no terreno, o nosso ativismo, deve ser algo que deve ser valorizado.
Pedro Fidalgo Marques, espera mesmo ser eleito?
Eu conto com isso, a trabalhar para para isso, eu e todo o coletivo do PAN, estamos a trabalhar para elegermos um eurodeputado. Até por um simples princípio que acho que é preciso importante as pessoas que nos estão a ouvir a terem essa percepção: o PAN será o único partido claramente animalista e também ambientalista e com esta Visão ecocêntrica. Podemos equilibrar os 3 pilares das Pessoas, Animais e Natureza que estará terá assento nos lugares elegíveis de Portugal no Parlamento Europeu.
Que ideias e que prioridades pretende levar para o Parlamento Europeu?
Sintetizando, talvez, as três prioridades e, como disse, nesta visão, ecocêntrica em que vamos ter os 3 pilares começando, claro, até pela parte dos animais. Nós temos estas medidas que queremos levar: uma é a questão do transporte dos animais de companhia nos aviões é algo que é tão sensível e tão caro tantas e tantos portugueses. Os estudos dizem que mais de metade das famílias portuguesas têm um animal de companhia em casa e quando pensamos que quando queremos ir de férias, ou temos que mudar para outro país para trabalhar, ninguém quer que os animais sejam considerados carga que vão no porão, sem qualquer cuidado. Todos os meses temos situações de animais que chegam em mau estado, que chegam mortos e achamos que os animais devem ser considerados com toda a sua dignidade, ir na cabine. E as pessoas têm essa possibilidade. É um dos passos por que queremos lutar em termos de relação União Europeia. Assim como também quando vamos com os animais de férias ou mudamos de país, não existe uma base de dados comum de registo na União Europeia, ou seja se o nosso animal, por acaso fugir, o nosso animal de companhia, nosso cão ou nosso gato se perder, é muito difícil lendo o chip descobrir quem é que é o responsável.
O PAN entregou um projeto de lei que visa alterar o Código do Trabalho e aprovar o "regime de faltas justificadas ao trabalho por motivo de morte ou assistência a animal de companhia"…. É um tipo de medidas que espera poder apresentar no PE?
Sendo que nas leis laborais há muita coisa que é de domínio nacional, mas eu acho que pode haver um conjunto de recomendações, porque isso deve ser uma medida que deve ser concretizada e às vezes as pessoas têm todo o tipo de reacções a essa medida, mas nós temos que pensar assim: ninguém quer usar esse dia. Quem tem um cão, quem tem um gato, quem tem outro animal de companhia sabe que é um dia extremamente difícil quando perdemos um animal companhia e acho que isso deve ser valorizado. E esta medida vai de encontro às pessoas e para o PAN será sempre uma medida que iremos defender, seja cá nacional, seja depois no Parlamento Europeu.
Vou citar o DN: O PAN considerou que apresenta uma "uma equipa diversificada e dedicada" e reafirmou o seu "compromisso com os ideiais de liberdade, justiça e sustentabilidade, que tão profundamente caracterizam o espírito do 25 de Abril"… assim sendo, quais são as batalhas concretas que leva para o PE?
Temos várias. Na questão ambiental há uma prioridade fundamental que temos que ter, que é a questão da neutralidade carbónica, o combate às ações climáticas e a preservação da bio diversidade. O PAN defende que devemos antecipar a meta que existe no Pacto Ecológico Europeu da neutralidade carbónica em 2050 para 2040.
Mas já parece difícil cumprir 2050. Como é que vamos conseguir cumprir 2040?
Tem que existir muito maior compromisso de todos Estados Membros, de todos os cidadãos, inclusive do Parlamento Europeu. E damos um exemplo: envolver os cidadãos nas políticas, por exemplo, do Sol para todos, algo que o PAN já apresentou cá a nível nacional, que cada um de nós pode ser um produtor de energia solar, de podermos todos beneficiar essa produção, em muito maior escala. Temos que ser mais ambiciosos, inclusive porque um dos argumentos que se coloca é a questão económica, mas os vários estudos dizem que as energias renováveis irão criar mais um ponto 1, 2 milhões de empregos na União Europeia.
Eu estava precisamente agora aqui a olhar para uma citação de um especialista ouvido pelo Jornal de Negócios numa revista que publicaram a propósito do Prémio nacional de Sustentabilidade. André Winston diz que “durante muito tempo, mais economia significou mais energia e emissões”. Agora já não é assim?
Aqui, a questão não tem a ver com: que tipo de energia? Nós temos que ter uma energia limpa, uma energia que seja sustentável e inclusiva; voltando aqui à questão do Pacto Ecológico Europeu e neutralidade carbónica, tem que ser muito mais que isso. Temos que ter uma questão de mobilidade suave, de uma agricultura mais biológica e verde, de todo um modo de vida que não se cinge só às energias renováveis. Mas claro, temos que reduzir o consumo, tem sido feito esse trabalho, tornando as casas mais eficientes, por exemplo, parte do fundos da União Europeia devem ser ainda mais canalisados para a eficiência energética, que em Portugal está visto que temos uma pobreza energética em Portugal, tanto no Verão como no Inverno, que as famílias têm dificuldade em manter a casa quente e isto não pode ser feito com paliativos, que são importantes, como tem sido feito com vários apoios que existiam até a altura de pandemia para que as pessoas tenham um mínimo de qualidade de vida, mas têm de trabalhar a médio e longo prazo na eficiência energética e na reformulação das casas para essa eficiência energética.
É verdade que há o Fundo para a Transição Justa e há essa preocupação, pelo menos na Comissão Europeia, em apoiar de alguma forma os países e as regiões que vão ser mais afectadas e impactadas pela transição ecológica, digamos assim, pela transição verde. Mas apesar dessa intenção e desse investimento numa transição justa, não lhe parece que o grande problema desta transformação das nossas sociedades é mesmo as pessoas que possam ficar deixadas para trás à custa desta transição, as pessoas possam perder empregos que não voltam a recuperar e que não têm qualificações para conseguir outros empregos?
Mas o que tem que se colocar em cima da mesa é: o mundo não pode parar com o medo ou com o receio, inclusive isso tem sido a arma de muitas negociações, que não se faz uma transição verde, que pelo medo queremos retroceder em direitos sociais. O que nós temos de saber é: as profissões que realmente possam ser necessárias, deve existir apoio à reconversão dessas profissões, porque todos os estudos dizem que iremos criar novas profissões, que as profissões podem ser adaptadas para esta tradição verde, e, volto a dizer, este mito - se me permitem - que uma transição verde para um mundo mais justo, mais verde, mais amigo do ambiente, irá fazer perder trabalhos, todos os estudos dizem o contrário.
É um mito ou é uma mensagem ideologicamente motivada, nesta altura?
Se olharmos para os partidos mais do espectro da direita, mesmo a nível europeu do Partido Popular Europeu, dos Liberais do Renewal, mesmo depois de mais conservadores e nacionalistas, há aqui toda uma agenda socialmente de lobby, que seria outro tema que poderíamos discutir da regulamentação do lobby, que provavelmente poderá estar a estar aqui a minar toda esta agenda, porque mesmo até pensando em empregos que não são novos, mas quando
fazemos a transição verde, voltaríamos a implementar os guardas-florestais, os guarda-rios, há todo um conjunto de trabalhos que a transição verde poderá trazer e que serão benéficos para todos os cidadãos.
É por tudo isso que o Pedro Fidalgo Marques, já li esta citação algures, realça que é "preciso fazer muito mais" em relação ao bem-estar animal e ao pacto ecológico ambiental?
Exatamente porque é preciso sermos mais ambiciosos, precisamos de perceber o que temos que falar e trabalhar para em termos das instituições, podermos ser mais ambiciosos na negociação das medidas e na apresentação de políticas e, ao mesmo tempo, trabalhar com esta informação junto das pessoas para poder desmistificar e informar; porque a informação será a base de tudo, inclusive no combate a alguma desinformação que tem existido e que existe nas eleições nacionais e que, seguramente, agora também irá grassar, infelizmente, nas eleições europeias.
Qual vai ser o vosso posicionamento no Parlamento Europeu, se for eleito, relativamente à exploração de hidrogénio verde e de lítio?
Na exploração do hidrogénio verde, o PAN, sendo uma energia considerada limpa - há vários estudos que temos que fazer e que evoluir nesta ótica, nestas energias ainda temos que sempre acompanhar a investigação -, mas não somos contra o hidrogénio verde; na questão do lítio já é diferente, principalmente quando vemos várias situações em Portugal em que não são aplicados devidamente ou não são de todo aplicados, estudos impacto ambiental, em que as explorações de lítio põem em causa os valores naturais e destruição de valores naturais. Temos um caso, eu fui visitar agora nas relativas a Serra da Argemela, em que, inclusive não falamos só da questão natural, estamos a falar da questão da saúde humana e das populações, porque aquela mina, a ser aberta, vai ter poeiras a poucos quilómetros, que, com o vento, diariamente irão cair nos telhados e nas casas das pessoas. Trata-se de micropartículas que põem em causa a saúde daquelas crianças, daquelas pessoas idosas. E é isso que temos que ter noção: que a extração do lítio como está a ser feita, muito opaca, nada transparente, põe em causa os nossos valores naturais e a nossa saúde, até como saúde integrada humana, animal e do planeta. E é isso que o PAN será sempre frontalmente contra qualquer exploração que põe em causa estes valores.
O PAN alinha no discurso, às vezes muito dramático - provavelmente o tom dramático decorre da situação que vivemos, que o Secretário-Geral das Nações Unidas tem dito relativamente ao facto de estarmos a atingir um ponto de não retorno em termos de situação ambiental…
Isso não é estamos a atingir: vamos atingir o ponto de não retorno se não fizermos nada para o travar e neste momento acho que é incontornável, está visível aos olhos de todos, as nossas várias catástrofes naturais que temos tido, a seca extrema, ou, como, por exemplo, as situações de cheias. Agora mesmo esta geadas fora da época, que estão a danificar várias culturas. Ainda há pouco tempo vi a da cereja que iria ter um grave problema de produção por causa das geadas. E mesmo pelo mundo inteiro, vimos que temos agora uma crise humanitária acontecer no Brasil também com as cheias.
E por isso, não é uma questão de ser dramático, é uma questão de chamar as pessoas à realidade e mostrar que é necessário realmente ter uma mudança. Temos jovens já com eco-ansiedade, é algo que está estudado. Temos que pensar no futuro destes jovens, no nosso futuro, porque há várias situações que estão a decorrer já na nossa geração, não será na geração do futuro. E é preciso que as pessoas tenham esta consciência, porque só se todas e todos nós mudarmos os nossos hábitos e contribuirmos para essa mudança, é que vamos realmente conseguir travar o atraso no ponto de não retorno.
Já estamos a mudar o necessário na questão da mobilidade urbana?
Poderíamos estar a mudar muito mais se o Governo investisse melhor em termos de mobilidade urbana, em termos de uma melhor rede de transportes e, por exemplo, as medidas que o PAN defende de termo passes gratuitos para toda a gente que é possível. O que damos em borlas fiscais, os 300 milhões de borlas fiscais à indústria petrolífera, seriam suficientes para pagar os cerca de 4 milhões de passes anuais, que é o que os estudos dizem que seria necessário para podermos ter uma mudança para uma mobilidade muito mais suave e e transportes públicos.
*Em atualização.