O Princípio da Incerteza: eleições nos Açores mostram que não há "soluções de estabilidade"
Há consenso entre Alexandra Leitão, José Pacheco Pereira e António Lobo Xavier: o resultado das eleições nos Açores não traz estabilidade e podem repetir-se no continente.
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A socialista Alexandra Leitão afirma que os resultados eleitorais dos Açores provam aquilo que o PS tem vindo a afirmar: a direita precisa do Chega para um cenário de estabilidade.
Em declarações no programa da TSF e CNN Portugal O Princípio da Incerteza, Alexandra Leitão considera que a vitória da coligação PSD, CDS e PPM não é assim tão expressiva.
O somatório dos votos que os três partidos que compõem a AD “tiveram quando concorreram separados, em 2020, comparado com o resultado atual, é a diferença de um deputado”, aponta: de 25 deputados para 26.
“É um resultado semelhante. Foi o suficiente para ganhar, é verdade, mas que acaba por não ser o crescimento que, a certa altura, as projeções davam.”
Para Alexandra Leitão, “o que se confirma nestas eleições regionais é que há uma incapacidade do centro-direita para providenciar uma solução de estabilidade governativa sem o Chega. Tem vindo a ser dito pelo Partido Socialista muitas vezes e é o que se confirma nestas eleições: a AD sem o Chega não consegue providenciar uma solução de estabilidade”.
Já o social-democrata José Pacheco Pereira sublinha que uma vitória é sempre uma vitória e deve ter uma leitura nacional. No entanto, a ausência de uma maioria absoluta esvazia o balão a Luís Montenegro e à AD, considera.
Aquilo que ganham pelo facto de terem tido uma vitória, e Partido Socialista uma derrota, pode ser completamente estragado não apenas por uma das soluções, mas por todas as soluções. Em primeiro lugar, se houver um acordo com o Chega, coisa que, aliás, o presidente do PSD dos Açores sempre admitiu, isso será terá um enorme peso na discussão nacional e pode, inclusive, estragar a dimensão da vitória nos Açores.
Já “se o PS viabilizar um governo minoritário da AD, que não tenha o apoio do Chega, com o argumento que pior seria ter um apoio do Chega, todo o discurso virulentamente, agressivamente, antissocialista, no qual assenta muita da campanha da AD, perde um pouco o sentido. Porque a campanha da AD foi colocou o Chega à parte, mas nunca foi muito clara sobre as razões que o punham à parte, enquanto, pelo contrário, o conteúdo antissocialista da campanha era particularmente virulento. Agora pode haver uma tentativa para mendigar uma abstenção do PS”, nota.
“Nenhuma das duas soluções, nem o Chega nem uma abstenção do PS no primeiro orçamento, garante estabilidade”, defende José Pacheco Pereira.
Por sua vez, o conselheiro de Estado e antigo deputado do CDS António Lobo Xavier afirmou que seria mais positivo para a AD conseguir um acordo com o PS nos Açores do que recorrer ao Chega para viabilizar um governo.
Lobo Xavier acredita que os cenários que se vão desenhar nos próximos dias nos Açores podem repetir-se nas eleições que o país vai enfrentar em 2024.
“A dificuldade de formar governos estáveis é o novo normal. E isso será na Madeira, nos Açores, mas será provavelmente também em Portugal [continental].”
"Aconselharia, se eles me pedissem conselho, a que [os partidos da AD] não se metessem nas mãos do Chega, porque Montenegro está nas ilhas, a vitória é muito importante para a dinâmica de vitória da AD, mas se Montenegro vier das ilhas e depois de a AD ter feito uma coligação governativa com o Chega, a campanha no continente está altamente prejudicada, porque a campanha no continente assenta na declaração de Montenegro de que não fará governo com Chega.”
Já uma variante do bloco central seria muito diferente nos Açores, incomparável com o cenário no continente, defende António Lobo Xavier. “O bloco central em Portugal, com estes protagonistas, é absolutamente impensável. É impensável imaginar pedir a Pedro Nuno Santos que viabilize um governo da AD de Montenegro e vice-versa. No continente isso é absolutamente inaceitável, nos Açores as coisas são diferentes.”