O Princípio da Incerteza. Santana Lopes e Gonçalo da Câmara Pereira: duas razões para o PSD ter "vergonha"
A convenção da Nova Aliança Democrática (AD) esteve este domingo em destaque no programa da TSF e CNN Portugal O Princípio da Incerteza.
Corpo do artigo
Para José Pacheco Pereira, o PSD mostrou não ter vergonha quando convidou Pedro Santana Lopes para discursar na convenção da Nova Aliança Democrática (AD), este domingo, sendo alguém que saiu do PSD para criar um partido que concorreu, nas urnas, contra o PSD.
“Tive vergonha por um partido que, no fundo, premeia quem o combateu – e não foi há 50 anos - criando um partido. E não é apenas combater do ponto de vista ideológico, isso eu também faço, o problema, não é esse. O problema é que combateu nas urnas, criando um outro partido e só quando as suas ambições foram perdidas é que realmente deixou a Aliança dependurada, como deixa a maioria das coisas dependuradas, portanto aquilo custou-me."
O historiador e antigo dirigente social-democrata fala de “um péssimo sinal” dado pelo PSD. “Os partidos têm que ter uma certa capacidade de ter vergonha daquilo que fazem. E hoje, em particular, o PSD mostrou não ter vergonha nenhum”, reforça.
Pacheco Pereira afirma ainda que, apesar das divergências que tem tido com o PSD, não tenciona afastar-se. “Não lhes faço o gosto de sair do partido, se quiserem expulsem-me", diz o social-democrata, condenando o que diz ser a “atitude de dirigentes de carreira”, contrastante com figuras do partido que “respeita”, como Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite ou Rui Rio.
Por outro lado, o historiador exclui completamente mudar de partido. “Não vou para o PS por uma razão muito simples: é porque sou social-democrata e não socialista, e sei qual é a diferença, porque há muita gente que não sabe qual é a diferença”, condena.
"Nunca votei no PS e não tenho intenção de votar no PS. Estou muito bem onde estou”, acrescenta.
Por sua vez, a antiga ministra e deputada socialista Alexandra Leitão destaca duas ausências na convenção da AD: Pedro Passos Coelho e Gonçalo da Câmara Pereira.
O líder do PPM, considera, “vai ser uma fonte de grande embaraço e até de vergonha, portanto é normal que o tenham a eliminado da convenção”, nota.
“Já a ausência do Pedro Passos Coelho deve ser explicável por razões que têm a ver com uma certa vontade de descolar do que foi o período de governação PSD-CDS entre 2011 e 2015.”
Sobre as medidas anunciadas por Luís Montenegro, Alexandra Leitão diz que o PSD parece apontar a privatização do estado social como solução.
"O argumento da subsidiodependência, que para grande estranheza minha, Luís Montenegro usou, é um argumento populista, é um argumento ‘cheguista’”, defende. “Maior fiscalização nos subsídios estamos todos de acordo, agora falar em subsidiodependência?”
No caso da habitação, “dar crédito a 100% a uns e reduzir o IMT é dizer que quem pode pagar uma casa em Lisboa – e hoje quem pode pagar uma casa em Lisboa é classe média/alta - tem vantagens fiscais, e quem não pode comprar não tem vantagens fiscais e também não pode comprar. Portanto, é uma solução para alguns, não há uma solução para todos”.
Em sentido contrário, António Lobo Xavier elogia o caminho que está a ser trilhado pela AD e na resposta a Alexandra Leitão não entende como alguém que integra o Governo PS pode questionar as medidas apresentadas este domingo por Luís Montenegro.
“O PS não fez nada para as pessoas a que a Alexandra chama ricas, que são jovens que podem comprar casas, e não fez absolutamente nada para aqueles que nem sequer isso podiam fazer”, atira.
Sobre a questão dos subsídios, António Lobo Xavier defende que “o que o Luís Montenegro disse não foi uma boca 'à Chega' de perseguir o rendimento social de inserção, foi dizer que o PS tem uma política em que prefere ter impostos altos para depois os distribuir em subsídios e prestações variadas", argumenta.
Lobo Xavier considera que aos argumentos usados pelo PS na corrida às legislativas revelam apenas “lata”. "O PS vem para as eleições, depois de por sua própria culpa ter sido apeado do poder, perante um cenário complexo de falência dos serviços públicos, de crise de habitação, etc, apresenta-se como ‘agora nós vamos pôr o país em ordem’. É preciso ter imensa lata para passar esta mensagem”, condena.