O que falta para Portugal sair da "cepa torta"? Consensos de regime, diz Marcelo
Sobre a possibilidade de uma nova crise, o Presidente da República diz que "financeiramente estamos preparados, mas é preciso fazer mais". Se os incêndios de 2017 se tivessem repetido "haveria dissolução do parlamento".
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O Presidente da República disse que para Portugal avançar é necessário que existam consensos de regime, nomeadamente nas áreas da justiça, saúde e segurança social.
Questionado sobre o que falta a Portugal para "sair da cepa torta", Marcelo Rebelo de Sousa disse, em entrevista à TVI, que "não é compreensível a falta de consensos de regime" e defendeu que falta capacidade de antecipação e de fortalecimento da sociedade civil.
Durante a entrevista que serviu como um balanço dos três anos de mandato, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que o momento de "maior tensão" com o Governo foi a questão dos incêndios e por isso decidiu falar na altura:
"Eu não escondo que foi a única circunstância que me levou a dizer aquilo que eu disse e que, traduzido em miúdos, é que se, no ano seguinte, houvesse uma situação idêntica haveria dissolução do parlamento", disse o Presidente que disse ter lido o sentimento do país.
"Entendi que a maioria esmagadora dos portugueses olhava para o poder político dizendo "eles descolaram da realidade, eles não estão a perceber que não podem morrer impunemente mais de 100 pessoas e não haver uma mudança de vida"", lembrou.
De acordo com Marcelo, perante os incêndios de junho e outubro de 2017, Presidente e Governo "não foram coincidentes no tempo sobre a realidade".
Marcelo Rebelo de Sousa garantiu não estar preocupado com uma eventual queda da popularidade, tendo em conta que a última sondagem lhe confere uma popularidade de 81% e que a percentagem mais baixa até agora foi de 67,5%. "Não é uma coisa que cause depressão", assegurou.
Até às eleições, o Presidente da República dará protagonismo aos partidos e promete ser "mais discreto".
Quanto a uma possível recandidatura, Marcelo Rebelo de Sousa reitera que só tomará uma decisão "em meados do ano que vem", se estiver "de boa saúde" e caso "o equilíbrio de forças e a situação internacional" forem semelhantes aos que encontrou na primeira candidatura, em 2015.
Sobre a possibilidade de uma nova crise, o Presidente da República diz que "financeiramente estamos preparados, mas é preciso fazer mais". Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que o cenário futuro depende da evolução de questões externas como a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos da América, o Brexit e outras questões que dependam de decisões da União Europeia.
Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para alertar para os perigos do populismo avisando que "alguém há de preencher o vazio" se os políticos, os patrões e os sindicatos não souberem dar resposta às preocupações das pessoas.