O Presidente da República está hoje a ouvir vários economistas sobre a situação política e económica do país. Leia o que disseram Vítor Bento, Daniel Bessa, João Salgueiro, Campos e Cunha, Teixeira dos Santos, Bagão Félix e Augusto Mateus.
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Vítor Bento, conselheiro de Estado
Defendeu "a estabilidade política e estabilidade de propósitos para que se possa planear a prazo, de rigor e estabilidade financeira, de flexibilidade e de baixos custos de contexto".
Acrescentou ainda que "é razoável esperar e desejar que a sociedade política consiga produzir as soluções governativas que assegurem essas condições".
Daniel Bessa, ex-ministro da Economia (Governo PS de António Guterres)
Disse aos jornalistas que tem passado a sua vida com a economia e que de política sabe "muito pouco", escusando-se a antecipar o efeito na economia dos atrasos na entrega do Orçamento do Estado para 2016.
"Estamos a falar de questões que não consigo antecipar", disse.
Acrescentou que "a única questão que se tem vindo a discutir com a qual eu posso estar menos de acordo com o que tenho ouvido tem que ver com a importância que do meu ponto de vista se está a conceder ao consumo e ao mercado interno que me parece, do meu ponto de vista, excessiva".
Defendeu também a necessidade de manter o rumo nas contas públicas, apesar das melhorias registadas nos últimos anos.
João Salgueiro, ex-ministro das Finanças (Governo PSD/CDS/PPM de Pinto Balsemão)
Considerou que "difícil ver" nas propostas da esquerda "um programa de desenvolvimento e uma estratégia conjunta" defendendo que "é uma estratégia de oportunidade".
Lembrou que "a atual convergência de esquerda não foi a eleições", e que o único objetivo comum, tático e não estratégico, "é ver-se livre de um governo de direita".
Considera que a convergência de esquerda é "uma ideia útil" de António Costa, que devia ter sido pensada antes, porque "não se muda o desempenho e o panorama partidário em semanas".
Alegou experiência num governo de gestão: "O preço que se paga não é o que se faz naquele período, mas é o que não se faz e a herança que fica que é muito má".
Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças (Governo PS de José Sócrates)
Defendeu que a "estabilidade governamental é necessária para garantir outro tipo de estabilidade muito mais fundamental para a economia portuguesa, a estabilidade das leis fiscais, a estabilidade das leis laborais, sem as quais não pode haver previsibilidade e não havendo previsibilidade não há investimento e a economia portuguesa poderá entrar novamente em recessão".
Argumentou ser "crucial" a estabilidade legal do ponto de vista fiscal e do ponto de vista laboral.
Pediu aos aos agentes políticos que tenham "outra calma e outra posição face aos problemas nacionais e que saibam discutir questões políticas sem ataques pessoais".
Defendeu que neste momento, existe em Portugal "instabilidade governativa" e não "instabilidade política".
Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças (Governo PS de José Sócrates)
Defendeu "uma solução governativa" que permita a aprovação "o mais rápido possível" do Orçamento do Estado para 2016 e sublinhou a importância de Portugal sair da situação de défice excessivo.
Não quis pronunciar-se sobre soluções governativas e apontou o crescimento como o grande desafio que o país enfrenta.
Bagão Félix, conselheiro de Estado e ex-ministro da Seg. Social e Finanças (Governos PSD de Durão Barroso e Santana Lopes)
Defendeu que a solução para o impasse político terá de ser "a menos gravosa do ponto de vista nacional e do ponto de vista das consequências internacionais".
Considerou que "o pretenso acordo entre o PS, o BE, o PCP e o PEV" é um acordo de "curto prazo" sem alusão a reformas sistémicas, ao sistema financeiro, à divida pública e às questões europeias.
Destacou que das 27 medidas anunciadas, 16 significam aumento da despesa pública, seis representam diminuição da receita fiscal, só três é que são neutras.
Lembrou que o Presidente da República "não é obrigado a aceitar uma qualquer solução governava que lhe seja oferecida previamente pelo parlamento".
Insistindo que Portugal está perante uma "situação muito complexa", apontou duas soluções possíveis: um governo de gestão ou um executivo liderado pelo PS.
Augusto Mateus, ex-ministro da Economia (Governo PS de António Guterres)
Defendeu que o acordo à esquerda serve para dar "uma oportunidade" aos socialistas de governar e que vai num sentido de "hipervalorizar a margem de manobra" orçamental que existe.
"Esse acordo vai muito no sentido de que nós teríamos mais margem de manobra nomeadamente na gestão das finanças públicas do que temos",
Frisou que "não é um acordo de substância para governar" e criticou a estratégia de crescimento assente no consumo e no mercado interno, considerando que não será "a mais certa".
As audiências no Palácio de Belém terminaram com um encontro entre Cavaco Silva o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que foi a único a sair sem prestar declarações aos jornalistas.
Amanhã, Cavaco Silva ouve os partidos com assento parlamentar, mas a Presidência da República não esclarece se as audiências ainda fazem parte da série de reuniões que o Presidente tem vindo a fazer esta semana (com vista a tomar uma decisão sobre o futuro governo) ou se já fazem parte do processo de formação de governo.
O artigo 187 da Constituição refere que "O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais". Mas esse artigo não foi invocado na convocatória dos partidos para as audiências de amanhã.
Contactada pela TSF, a Presidência não descarta, ainda assim, a hipótese de Cavaco Silva invocar esse artigo amanhã, no decorrer das audiências com os partidos.