No dia em que arranca o Congresso que irá consagrar o novo líder do PSD, recordamos alguns dos momentos daquela que, em 2010, foi a última reunião magna a contar com a presença de Rui Rio.
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Abril de 2010. Março de 2012. Fevereiro de 2014. Abril de 2016. São estas as quatro datas de congressos do PSD em que se notou a ausência daquele que é agora o líder eleito pelos social-democratas. Quatro congressos nacionais em que outras foram as figuras que empolgaram as hostes do partido liderado, nos últimos oito anos, por Pedro Passos Coelho.
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Mas, se há oito anos, o Congresso Nacional, realizado em Mafra, marcava o adeus de Rui Rio aos congressos, era também nessa reunião magna, em março de 2010, que Rui Rio, então vice-presidente da direção de Manuela Ferreira Leite - uma líder de saída, após a derrota nas eleições legislativas - manifestava o apoio a um dos candidatos ao lugar da então líder do partido.
Em campo, para suceder à ex-ministra das Finanças, estavam quatro nomes: Castanheira Barros, Pedro Passos Coelho, Paulo Rangel e José Pedro Aguiar Branco - que contava com o apoio de Rui Rio.
"A minha escolha pelo doutor Aguiar Branco não é exatamente por considerar que é o melhor tribuno, que manifestamente não é. O doutor Paulo Rangel tem qualidades de tribuno muito boas e como líder da oposição pode desempenhar um excelente papel", dizia, durante o XXXII Congresso Nacional do PSD, em 2010.
Mas, antes, tal como agora, o ex-autarca do Porto separava as águas. Por um lado, a liderança do PSD, por outro a condução dos destinos do país: "Eu preocupo-me é com o primeiro-ministro e eu quero escolher para líder do PSD aquele que tem melhor perfil para ser primeiro-ministro, porque o que me preocupa é o país".
Uma opção justificada, diria, com a "conduta ética" de Aguiar Branco e com "percurso comum" de ambos, com Rui Rio, que pede agora, em 2018, um "grande sinal de unidade" dentro do partido, a sublinhar, também nesse tempo, que o PSD sairia mais unido e mais reforçado do ato eleitoral que viria a ocorrer depois do congresso.
"O PSD vai sair reforçado ganhe quem ganhar, é a minha perceção em torno de uma unidade nos discursos. Todos os discursos têm traços muito comuns e satisfaz-me, por exemplo, que se vá caminhando para o que eu venho dizendo, que o primeiro problema de Portugal é político e de justiça", afirmava.
As críticas a José Sócrates e a justiça
A justiça, um tema repetido vezes sem conta por Rui Rio, e que, no última reunião magna presenciada por Rio, não passaria ao lado dos discursos, com muitas criticas a José Sócrates, então primeiro-ministro do Governo liderado pelo Partido Socialista.
"Se, em Portugal, muitos estão convencidos de que há uma proteção especial que possa estar a ser feita a figuras públicas e figuras do Governo, de que estamos à espera para perguntar ao primeiro-ministro de que receia ele para propor a substituição do Procurador-geral da República, se está de consciência tranquila relativamente à sua atividade", assinalava Passos Coelho.
As críticas não se ficavam por aqui, com Luís Marques Mendes a acusar José Sócrates e o PS de fazerem "chantagens e ameaças" em áreas como a economia, a comunicação social ou a justiça; e Marcelo Rebelo de Sousa, a afirmar que Portugal era conduzido por um primeiro-ministro que "mente e que mente tanto que, por vezes, se esquece que está a mentir".
Mas, em 2010, o Congresso Nacional ficaria ainda marcado pela polémica em torno da chamada "lei da rolha" proposta por Santana Lopes, com o objetivo de que que os estatutos criassem uma sanção contra os militantes que assumissem posições contra "as diretrizes" do partido, por um período de 60 dias antes de uma eleição.
"É bom porque acima de alguns direitos estão alguns deveres", dizia Santana Lopes, com o apoio de Manuela Ferreira Leite: "Concordo que no partido há regras que quando são violadas devem ter consequências". Contra a proposta, que chegou a ser aprovada - caindo pouco tempo depois -, estavam os então candidatos à liderança: Castanheira Barros, Pedro Passos Coelho, Paulo Rangel e José Pedro Aguiar Branco
A unidade, o PS e como fazer oposição
Durante o congresso, com o PSD na oposição, Marcelo, agora presidente da República, deixaria ainda clara a necessidade de os social-democratas manifestarem apoio à recandidatura de Cavaco Silva e de se mostrarem unidos quando o tempo era de, tal como agora, fazer oposição ao Governo do PS.
"Temos de fazer oposição nacional e, por isso, inteligente e responsável. Temos de preparar uma solução de Governo que não dure um instante", salientava Marcelo Rebelo de Sousa, secundado por Marques Mendes, que avisava para o período pós-eleições diretas - que se seguiriam pouco depois: "O líder eleito não pode ser demolido, minado ou fragilizado. Dizem-nos isto: como é que querem liderar o país se não se conseguem entender dentro do partido?".
Eram, na altura, recados e avisos à navegação, que podem até ser repetidos no congresso deste fim de semana, o mesmo que, oito anos depois, marca a consagração de Rui Rio como novo líder social democrata. O líder eleito em janeiro de 2018 e que, enquanto vice-presidente da então líder Manuel Ferreira Leite, também ouviria, em Mafra, as palavras da presidente do partido sobre a derrota nas eleições legislativas frente ao Partido Socialista.
"Em democracia e os eleitores têm razões que não se discutem e, portanto, eu não o faço. Não o faço, mas lamento, por Portugal", afirmava, num discurso de despedida, no XXXII Congresso Nacional do PSD, o último de Manuel Ferreira Leite como líder, aquele que daria o empurrão necessário à eleição de Passos Coelho nas diretas, e o derradeiro de Rui Rio, que faltaria aos quatro congressos seguintes.
Oito anos de ausência de congressos "com menos história"
Durante oito anos - e quatro congressos nacionais -, Rui Rio evitaria sempre marcar presença nos congressos do partido. Em 2012, por exemplo, as notícias que chegavam às redações davam conta de que Rio estaria no Brasil a braços com "compromissos" enquanto presidente da Câmara do Porto.
Mas, mais tarde, em 2016, e prestes a falhar mais uma reunião magna, explicaria, de viva voz, na TSF, o motivo por detrás de mais uma ausência, naquele que se revelava uma justificação para os oitos anos de ausência.
"Os congressos, desde que deixaram de ser eletivos, têm muito menos história e, se eu lá fosse ainda me arriscava a ser um elemento central do congresso", afirmava, sublinhando que a sua presença poderia dar azo a questões sobre a influência que teria no encontro social-democrata. "Já não tenho feito nem paciência para isso", rematava.
Agora, Rui Rio é mesmo a figura central do 37º Congresso Nacional do PSD, que poderá, ou não, ficar marcado por outras ausências.