O "supra-sumo da máquina de guerra" nos oceanos: submarino Barracuda volta a emergir
Mais de dez anos depois da última missão, o submarino mais antigo de todas as Marinhas de guerra da NATO está de novo no ativo. Agora como navio-museu, começa a receber visitas a partir de sábado. A inauguração está marcada para esta quinta-feira
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O casco negro está fora de água. As escotilhas estão fechadas, mas o Barracuda renasce esta quinta-feira, junto ao terminal fluvial de Cacilhas.
Mais de dez anos depois da última missão, o submarino mais antigo de todas as Marinhas de guerra da NATO transforma-se num navio-museu, que vai estar aberto a visitas a partir de sábado, dia 11 de Maio.
Para acolher o público, foram feitas obras de renovação. Colocaram-se portas, torniquetes e material de segurança.
O Comandante Daniel Véstias Letras conduz a TSF numa visita ao Barracuda, em sentido contrário ao que será seguido pelos visitantes.
Começamos pelo posto da ré, onde ficavam 15 sargentos. Além de pequenos beliches, há um lavatório onde "se lavava os dentes, se fazia a barba", mas banhos "nem pensar", poque havia pouca água a bordo (cerca de 13 mil litros) para uma guarnição de 54 homens. "Usávamos toalhetes Dodot", recorda Daniel Letras, que descreve também o sistema de "cama quente". Um terço da tripulação estava sempre a trabalhar. Por isso, "só precisávamos de camas para dois terços" dos homens, que se revezavam nos beliches.
Ainda no posto da ré, encontramos equipamento de lançamento de torpedos, com quatro tubos de lançamento. O submarino é "o supra-sumo da máquina de guerra, a arma mais temível no mar", refere o capitão de guerra e mar, evocando o disparo de um tornedo de combate, em 1983, contra um navio que transportava gás butano. "O butaneiro estava naufragado, semi-submerso, o que constituía um perigo para a navegação", explica Daniel Letras.
O Barracuda cumpriu mais de 300 missões, percorrendo mais de 800 milhas, o equivalente a 36 voltas ao mundo.
O comandante, que navegou no submarino, guarda boas recordações. "Havia muita camaradagem a bordo, a vivência era muito boa", pois o espaço era tão exíguo que seria difícil, "se houvesse mau ambiente". Divertido, Daniel Letras lembra um submarinista que tinha um "plano para sacar dinheiro ao sogro. Numa semana, contava como o plano tinha falhado. Na semana seguinte, dava conta de um novo plano". Nas memórias, guarda-se também o susto provocado por uma colisão com um navio mercante. Aconteceu em Inglaterra, em 1995, quando o Barracuda subia dos 50 para os 12 metros, a chamada quota periscópica.
Os visitantes vão poder espreitar pelo periscópio, percorrer o chamado corredor higiénico (onde duas retretes estão frente a frente com a cozinha), a cabine de comunicação, o posto de controlo, com os lemes e sonares,, num submarino que esteve 42 anos ao serviço da Marinha.
Na nova vida do Barracuda, Daniel Letras admite o receio de uma grande afluência, em especial aos fins-de-semana. A Marinha avisa que os visitantes podem ter de aguardar na fila, cerca de meia hora. Daí, a instalação de torniquetes que serão bloqueados quando se atingir o limite máximo de 30 pessoas a bordo e o pedido do Comandante: "não venham à pressa. Ele (o Barracuda) não vai sair daqui. Disfrutem" a visita.
A inauguração do novo espaço está marcada para esta quinta-feira, com a presença do Chefe do Estado Maior da Armada, o almirante Gouveia e Melo, e a presidente da câmara de Almada, Inês de Medeiros.
As visitas começam no sábado, a partir das 10 horas. O Barracuda estará aberto a visitas de terça a domingo, entre as 10h e as 18h.