"O tigre pode saltar e morder." Carvalho da Silva alerta para risco de protestos dos Coletes Amarelos
O antigo sindicalista Manuel Carvalho da Silva, hoje sociólogo e investigador, alerta contra "o caldeirão da sopa de pedra ao contrário" que são os protesto inorgânicos, como acontece em França com os "Coletes Amarelos".
Corpo do artigo
Na história da sopa da pedra, o frade usa a pedra como pretexto para acrescentar ingredientes "positivos" ao caldo, mas para Carvalho da Silva, hoje a metáfora é outra: "Surge para dentro do caldeirão social um fator objetivo, uma causa concreta e sensível para as pessoas mas, depois, pela ausência de mediação estruturada, tudo vai caindo para dentro do caldeirão, gerando contradições e perversidades", como acontece em França com os "Coletes Amarelos".
Para o antigo líder da CGTP, hoje sociólogo e investigador, a ausência do papel mediador de estruturas como os sindicatos, é um dos sinais mais fortes da degradação da democracia.
"Não há democracia sem estruturas de mediação, os sindicatos, como muitas outras organizações, existem para representar interesses específicos, e a quem a sociedade pode responsabilizar, nestes movimentos inorgânicos perante a ausência de estruturas de mediação, isso torna-se uma bagunça e nega a democracia".
TSF\audio\2018\12\noticias\17\entrevista_manuel_carvalho_da_silva_por_judith_menezes_e_sousa
Em ano de eleições europeias, Carvalho da Silva cita um estudo que mostra que os ingleses (em processo de saída da União Europeia) dão mais créditos à União Europeia do que os italianos. "Os poderes europeus deviam estar a refletir profundamente sobre como evitar o desastre".
"Nós estamos a chegar à fase em que uma instabilização de caráter geral pode mesmo provocar com que o tigre que está infiltrado salte e nos morda com gravidade".
O sociólogo defende a necessidade de "reacertos profundos" e "muita inovação" para reforçar a agenda social "para que esta pressione a agenda política a apresentar novas soluções".
"Nós não estamos em crise, mas deixamo-nos levar por um rumo que é extremamente perigoso", avisa Manuel Carvalho da Silva.
Questionado pela TSF sobre se este tipo de movimentos pode chegar a Portugal, o antigo sindicalista considera que já houve, entre os anos de 2010 e 2012, uma forte movimentação "não tanto inorgânica como se pensa", que teve efeitos positivos e permitiu com que Portugal enfrentasse os anos da Troika "melhor do que a Grécia".
Carvalho da Silva considera que a atual solução governativa serviu de "antídoto" ao surgimento deste tipo de movimentos inorgânicos, mas avisa que "há muitas fragilidades" e que "nada está garantido para o futuro".