"O tigre pode saltar e morder." Carvalho da Silva alerta para risco de protestos dos Coletes Amarelos

Lisboa, 7/11/2018 - Manuel Carvalho da Silva durante uma entrevista no seu novo gabinete em Lisboa do Centro de Estudos Sociais. Antigo sindicalista - foi líder da CGTP - intersindical por mais de 25 anos - é investigador e professor universitário associado à Universidade de Coimbra. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
O antigo sindicalista Manuel Carvalho da Silva, hoje sociólogo e investigador, alerta contra "o caldeirão da sopa de pedra ao contrário" que são os protesto inorgânicos, como acontece em França com os "Coletes Amarelos".
Na história da sopa da pedra, o frade usa a pedra como pretexto para acrescentar ingredientes "positivos" ao caldo, mas para Carvalho da Silva, hoje a metáfora é outra: "Surge para dentro do caldeirão social um fator objetivo, uma causa concreta e sensível para as pessoas mas, depois, pela ausência de mediação estruturada, tudo vai caindo para dentro do caldeirão, gerando contradições e perversidades", como acontece em França com os "Coletes Amarelos".
Para o antigo líder da CGTP, hoje sociólogo e investigador, a ausência do papel mediador de estruturas como os sindicatos, é um dos sinais mais fortes da degradação da democracia.
"Não há democracia sem estruturas de mediação, os sindicatos, como muitas outras organizações, existem para representar interesses específicos, e a quem a sociedade pode responsabilizar, nestes movimentos inorgânicos perante a ausência de estruturas de mediação, isso torna-se uma bagunça e nega a democracia".
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Em ano de eleições europeias, Carvalho da Silva cita um estudo que mostra que os ingleses (em processo de saída da União Europeia) dão mais créditos à União Europeia do que os italianos. "Os poderes europeus deviam estar a refletir profundamente sobre como evitar o desastre".
"Nós estamos a chegar à fase em que uma instabilização de caráter geral pode mesmo provocar com que o tigre que está infiltrado salte e nos morda com gravidade".
O sociólogo defende a necessidade de "reacertos profundos" e "muita inovação" para reforçar a agenda social "para que esta pressione a agenda política a apresentar novas soluções".
"Nós não estamos em crise, mas deixamo-nos levar por um rumo que é extremamente perigoso", avisa Manuel Carvalho da Silva.
Questionado pela TSF sobre se este tipo de movimentos pode chegar a Portugal, o antigo sindicalista considera que já houve, entre os anos de 2010 e 2012, uma forte movimentação "não tanto inorgânica como se pensa", que teve efeitos positivos e permitiu com que Portugal enfrentasse os anos da Troika "melhor do que a Grécia".
Carvalho da Silva considera que a atual solução governativa serviu de "antídoto" ao surgimento deste tipo de movimentos inorgânicos, mas avisa que "há muitas fragilidades" e que "nada está garantido para o futuro".