À margem do XX Congresso do PCP, o repórter João Alexandre conversou com a histórica militante comunista, que admite surpresa por, ao contrário de outros tempos, o PCP não andar "às turras" com o PS.
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Foi deputada do PCP durante quase trinta anos e há mais de quatro décadas que é militante do partido. Aos 75 anos, Odete Santos, eterna apaixonada pelo teatro, pela poesia e pelo valor da palavra, não rejeita a expressão pela qual ficou conhecida a atual solução política, defendendo que tem funcionado em prol da melhoria das condições de vida dos portugueses.
"Esta nova aliança que foi formada - e que a direita chama sarcasticamente de 'geringonça' - tem conseguido um novo rumo para o país e tem funcionado. Portanto, é uma 'geringonça muito útil que funciona no sentido de encontrar o rumo certo para o país', afirma, em declarações à TSF, a ex-deputada.
Atualmente na Comissão Concelhia de Setúbal do PCP, Odete Santos continua a seguir de forma atenta o quotidiano e as grandes decisões do Comité Central - de onde saiu em 2012 -, sublinhando, no entanto, que ficou surpreendida com o passo dado, em 2015, por comunistas e socialistas.
"Eu julgava que, como antigamente, o PS ia andar às turras connosco e nós às turras com o PS, portanto, isto foi uma agradável surpresa", diz.
Quanto à durabilidade da atual solução política, segundo Odete Santos, será ditada pelo tempo, mas, também, pelo Partido Socialista,
"Previsões em política... não sei se alguém poderá fazer. Se poderá ser uma solução para além da legislatura? Isso dependerá do PS. 'Para além de' é uma expressão que indica que há coisas que têm de ser superadas e isso vai depender muito do PS, que conhece as propostas do PCP e que sabe com o que conta", acrescenta.
Ainda assim, entre risos, Odete Santos atira: "Penso que é possível, mas não me vão bater se não for possível, porque isso não depende só de mim", sublinhando a ex-deputada que, até à posição conjunta assinada entre os dois partidos, o país viveu governado por uma "direita troglodita".