"Orgulho brutal." Maria Odete Isabel foi uma das cinco mulheres eleitas nas autárquicas de 1976
Até ao 25 de Abril, a política não fazia parte da vida de Maria Odete Isabel.
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Maria Odete Isabel foi uma das cinco mulheres eleitas nas eleições autárquicas de 1976. Foi na Mealhada pelas cores do Partido Socialista.
Até ao 25 de Abril, a política não fazia parte da vida de Maria Odete Isabel, licenciada em Farmácia, no Porto.
“Até aí, só era contra a contra a guerra colonial porque os rapazes iam todos para a guerra e morriam na guerra colonial”.
Depois da revolução, Maria Odete Isabel conta que começou “a participar em tudo” e chegou a ser convidada para pertencer ao Partido Comunista.
“Eu disse ‘não, não vou para o partido comunista’. Porquê? Porque as minhas influências religiosas lá estavam e, portanto, comunismo não”.
Adere depois ao Partido Socialista e quando são anunciadas as eleições autárquicas de 1976 decidiu candidatar-se. “Pensei, se eu quero ajudar a mudar o mundo, se quero um Portugal desenvolvido, se não quero esta desigualdade entre ricos e pobres que eu sentia no sítio onde vivia, na Mealhada - eu vivia na zona proleta e sentia muito bem a diferença desde pequena e me apercebi da diferença que havia. E entretanto comecei a pensar, eu quero mudar o mundo, eu vou mudar o mundo para a Mealhada”.
A intenção de se candidatar foi melhor aceite pela mãe do que pelo pai que lhe disse que enquanto fosse presidente não a reconheceria como filha. “E assim foi. Fê-lo”.
Já no hospital onde trabalhava, quando disse ao presidente da administração que se queria candidatar a primeira reação foi negativa. “Ele diz-me “ó dra Odete, deixe a política para os homens, nós precisamos é de si aqui”. E eu dei um murro na mesa e disse-lhe ”é a segunda vez que um homem me diz que não eu posso fazer porque sou mulher. A segunda vez não”. E ele diz-me “eu não lhe dou autorização para ir””.
Ainda assim acabou por ceder, com a promessa de Maria Odete Isabel de que, caso fosse eleita, iria cumprir apenas um mandato.
Em 1976, Maria Odete Isabel foi uma das cinco mulheres eleitas que, recorda, foram “logo rotuladas: as cinco magnificas”. “E eu tenho um orgulho brutal em ser a primeira da lista”, confessa.
Para Maria Odete Isabel, a mãe foi uma das suas influências na vida, assim como a sua professora. “Sem a ação da minha professora primária junto do meu pai, não teria a vida que tive”.
Maria de Lurdes Pintassilgo foi outra referência na vida de Maria Odete Isabel. “Fez-me acreditar que o mundo pode ser melhor desde que a responsabilidade seja assumida por cada um e, fundamentalmente, que a mulher tem que ser mais respeitada. E eu acredito que sim”.
Maria Odete Isabel destaca ainda uma bandeira que, diz, lhe foi dada por Maria de Lurdes Pintassilgo: “Deixou-me uma mensagem que é a humanidade é como uma ave. Uma asa é o homem, a outra asa é a mulher. Enquanto as asas não estiveram equilibradas a humanidade não pode voar. E por isso, eu luto, e lutarei, em relação à igualdade, à liberdade que é o bem mais fundamental e à fraternidade também”.
Sobre os últimos 50 anos, Maria Odete Isabel diz que teve “coisas muito boas”, mas considera que “a democracia de hoje está doente”. “A democracia somos nós todos e está doente porque a grande maioria ou continua preconceituosa, ou continua ignorante ou continua realmente a olhar só para o seu umbigo. E veja que as desigualdades sociais são mais do que muitas”.
