Mário Soares protagonizou alguns dos debates mais importantes da democracia portuguesa. Em 1975 com Álvaro Cunhal, em 1986 com Freitas do Amaral. Foi Soares quem inaugurou os debates na TV.
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A estreia dos debates televisivos durou 3 horas e 40 minutos.
No ecrã, do lado esquerdo - estava Mário Soares, então líder do PS, do lado direito de quem assistia estava Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP.
Os moderadores, José Carlos Megre e Joaquim Letria fumavam, num estúdio simples, na imagem a preto e branco.
Apesar de esse não ser ainda o tempo dos soundbytes, uma tirada de Álvaro Cunhal ficou para a história.
Quando Soares o acusou o PCP de "querer transformar o país numa ditadura", Álvaro Cunhal meteu o aparte: "Olhe que não, olhe que não!".
Mais de 20 anos depois, quando a SIC recriou o debate, Soares vinha preparado...
Álvaro Cunhal falava da "ditadura do banco alemão, do Deutsche Bank, a palavra é sua", disse para Soares.
O antigo Presidente da República replicou "Olhe que não, olhe que não!", provocando uma gargalhada na plateia.
Anos antes, em 1986, Mário Soares e Freitas do Amaral enfrentaram-se em dois debates, em cada uma das voltas das eleições que elegeram o primeiro Presidente civil na história da democracia.
Soares foi emotivo, confrontacional, Freitas mais sereno e racional.
O candidato apoiado pela direita acusou Soares de ser "a encarnação do sistema naquilo que ele tem de mais negativo" e a incapacidade de reformar.
Mário Soares contra-atacou acusando Freitas de "por falta de firmeza ou de energia" não dar as mesmas garantias do que Sá Carneiro de "conter a direita não democrática". E chegou a dizer que Freitas "nada" tinha feito pela democracia, antes do 25 de abril.
O segundo debate havia de contribuir para a vitória de Soares na segunda volta.
Freitas tinha partido com 47 por cento na primeira volta mas, com a esquerda unida, Soares venceu por dois pontos percentuais - 51% contra 49%, depois da mais prolongada campanha presidencial da história da democracia.