"Os militares do 25 de Novembro foram os que fizeram o 25 de Abril", mas extrema-direita comanda "ofensiva contra a História"
Ouvido no Fórum TSF, o historiador Fernando Rosas aponta que "isolar o 25 de Novembro (...) e tentar fazer disso o verdadeiro espírito da democracia é um artifício político ideológico, sem nenhuma espécie de rigor histórico"
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A extrema-direita e a direita-extrema estão a comandar uma "ofensiva contra a História e a memória" num ato de "vingança contra a Revolução", mas capitães e historiadores sublinham: "Os militares que se envolveram no 25 de Novembro, basicamente, foram os militares que fizeram o 25 de Abril."
Em causa está a aprovação do Governo, a 28 de agosto, da criação de uma comissão para promover e organizar as celebrações do 50.º aniversário da operação militar do 25 de Novembro de 1975.
Ouvido no Fórum TSF desta quinta-feira, o coronel Rodrigo Sousa e Castro, capitão de Abril, que também participou no 25 de Novembro, recorda apenas alguns dos nomes que tornaram possível ambas as datas.
"Vasco Lourenço, Sousa e Castro, Jaime Neves, Salgueiro Maia e outros militares que estavam pelas unidades espalhadas pelo país e que faziam parte do plano de contenção de qualquer aventureirismo que pretendesse destruir a Assembleia Constituinte e o processo custoso e frágil que estávamos a construir para chegarmos à democracia", esclarece.
Rodrigo Sousa e Castro evidencia, assim, que os "militares que se envolveram no 25 de Novembro, basicamente, foram os militares que fizeram o 25 de Abril" e questiona-se sobre qual o motivo para que agora se procure "convencer os portugueses de que a História não foi essa". Destaca igualmente que o Exército português, a quem pede "tento", "devia comemorar era o 25 de Abril".
A decisão do Governo de criar uma comissão para assinalar os 50 anos da operação militar de 25 de Novembro de 1975 é vista, por isso, como uma tentativa de "reescrever a História". O PS já recusou integrar a comissão por considerar que oculta o “papel central” de Mário Soares e do partido.
O historiador Fernando Rosas defende mesmo que isolar este acontecimento é um sinal do Executivo liderado por Luís Montenegro de que se quer "unir com a extrema-direita" numa comemoração que mais não é do que "uma paródia, do que uma farsa". Acrescenta ainda que isto revela um espírito "desconhecedor" do Processo Revolucionário e do próprio 25 de Abril.
"Isolar o 25 de Novembro (...) e tentar fazer disso o verdadeiro espírito da democracia é um artifício político ideológico, sem nenhuma espécie de rigor histórico. Ainda por cima entregue a uma comissão, que é uma espécie de comissão surrealista", acusa.
Mas este é, sobretudo, "um sinal dos tempos": esta celebração isolada é vista pelo historiador como um "ato de vingança" contra a Revolução dos Cravos.
Já Irene Flunser Pimentel, também historiadora, confessa ficar "revoltada" com "o facto de a História não ser ensinada em todo o ensino", nomeadamente nas disciplinas de Filosofia e História, que são "duas grandes armas" para que cada um "possa fazer a sua interpretação" dos acontecimentos, mas com base em "factos, aqueles que se passaram".
Neste momento, há uma ofensiva da extrema-direita e da direita-extrema, em parte, contra a nossa História recente e contra a memória, denuncia.
Já o presidente da Associação 25 de Abril reitera o lamento "profundo" pela criação desta comissão, que considera ser uma "fantochada": essa mesma opinião já foi transmitida ao primeiro-ministro e presidente da Assembleia da República, mas também ao tenente-general Alípio Tomé Pinto, que vai presidir à comissão criada pelo Governo para promover e organizar as celebrações do 50.º aniversário da operação militar do 25 de Novembro de 1975
"É o país que temos", atira.
