Otília Vaz: "Seria bom que fossem sempre votar. Já que não tivemos este direito durante tantos anos, que o possam aproveitar"
O Voto é a Arma do Povo: as primeiras eleições livres em Portugal fazem 50 anos e a TSF convida 25 personalidades a falar sobre a importância da democracia participativa. Presença assídua nas mesas de voto desde 1975, Otília Vaz conta que "ainda hoje" adora votar
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Em 25 Abril de 1975 Portugal foi chamado, pela primeira vez, a eleições livres e universais. Era também a primeira vez que Otília Vaz, de 73 anos, participava nas mesas de voto. Tomou-lhe o gosto e é desde então que marca presença assídua neste dia decisivo para a democracia.
É com emoção que recorda o dia em que as mulheres, "que não tinham direito a nada", puderam finalmente contribuir para definir o rumo do país. Mas a "euforia" foi generalizada e isso traduziu-se na "enorme" adesão, que atingiu o valor recorde de 92%.
"Era uma loucura nos primeiros anos. Era a primeira vez que [as pessoas] iam votar. Até lá, ninguém podia votar. Foi tudo diferente", conta.
Com 73 anos, Otília confessa que "ainda hoje" adora votar e é por isso que exerce "sempre" esse direito, que "também é um dever".
Participou, nesse mesmo ano, como delegada da mesa. Mais recentemente, tem assumido o cargo de vice-presidente. Mas foi em 1975, no dia das eleições para Assembleia Constituinte, que ouviu algo que a "marcou".
"Na altura, as pessoas estavam identificadas com os partidos [que representavam]. Estava tudo identificado. Eu tinha um cartão que me identificava 'delegada de tal partido'. E passa um grupo de miúdos e diz assim: 'Ah, comunista malvada. Para a próxima põe um cartaz dos grandes ao peito'", lembra.
Assim que se dá a Revolução dos Cravos, Otília Vaz inscreve-se "logo" no PCP, ligação que mantém até hoje. E desde então, sempre que são convocadas eleições, Otília Vaz marca presença nas mesas de voto porque tem "muito gosto em ir" e faz questão de dar esse dia de trabalho partido.
"E já estou convocada novamente para as eleições [legislativas] no dia 18 [de maio]", revela, com orgulho.
Volvidos cinquenta anos, "muita coisa mudou". Desde logo, a adesão registada nos últimos anos tem sido "muito pequena" e a sucessão de eleições fá-la temer que este ano possa ser ainda pior. E Otília nota também outro aspeto: normalmente, "aderem mais mulheres do que homens" às mesas de voto.
Portugal atravessa um momento "muito complicado", mas Otília Vaz afirma que "seria bom" que os eleitores fossem "sempre votar". Até porque importa "tentar mudar" o estado das coisas. Os conflitos bélicos, por exemplo, são uma das preocupações expressadas.
"A pessoa deve sempre votar. É um direito. Já que não o teve durante tantos anos e agora tem, que possa aproveitar", argumenta, acrescentando que também vai às manifestações "sempre que pode", sobretudo ao desfile do 25 de Abril e 1.º de maio.
Há, contudo, situações que não deixam de ser "caricatas" para alguém que já trabalha nisto há muitos anos: A comunista mostra-se aborrecida com o facto de haver algumas pessoas que "escrevem asneiras no boletim de voto".
"Há muitas pessoas que fazem isso: põem riscos, ou cruzam todos e chamam nomes. Eu acho que isso é uma falta de respeito, porque a pessoa, se quer ir votar, não vai", defende.
Depois de uma revolução quase sem sangue, Portugal está há 50 anos a utilizar a arma mais forte que o povo tem: o voto. A TSF convida 25 personalidades a falarem sobre a importância da participação dos eleitores. Para ouvir todos os dias na antena da TSF de manhã, à tarde e à noite, e a qualquer hora em tsf.pt