Pacheco Pereira e Graça Fonseca alertam para mudanças com crescimento do Chega. Lobo Xavier desdramatiza
Que condições de governabilidade terá o vencedor das eleições antecipadas? O tema esteve em discussão no programa O Princípio da Incerteza.
Corpo do artigo
Pacheco Pereira acredita que só um acordo entre o PS e o PSD - que considera impossível - poderia abrir um espaço de estabilidade. Sem um bloco central, vai ser muito difícil a qualquer partido governar, considera.
Em declarações no programa da TSF e CNN Portugal O Princípio da Incerteza, o social-democrata antecipa uma previsível descida do partido mais à esquerda e a subida do partido mais à direita.
Quem “tem experiência política sabe que as coisas mudam de um dia para o outro. E uma das coisas que vai mudar de um dia para o outro, dependendo da configuração eleitoral, vai ser a atitude em relação ao Chega. Porque vai tornar-se normal se for necessário, ou vai tornar-se um empecilho se tal for a sua política”.
"O crescimento do Chega é relevante do ponto de vista político”, nota Pacheco Pereira. “Pela primeira vez temos um partido de direita radical, de extrema-direita, com um partido populista, um partido que que tem crescido e que vai crescer significativamente em termos do seu grupo parlamentar e, portanto, vai mudar.”
“Do outro lado, ao mesmo tempo, temos o PCP com risco de não ter um grupo parlamentar”, aponta.
Pelo PS, esta semana respondeu no Princípio da Incerteza a antiga ministra Graça Fonseca, que também antevê uma mudança estrutural no relacionamento político que passa pela ascensão de André Ventura.
“Não é uma questão de diabolizar o Chega, é uma questão de facto: se o Chega crescer aquilo que as sondagens apontam que cresça - e vamos assumir que não cresce tanto como as sondagens dizem - é extraordinariamente difícil haver uma maioria à direita.”
“Os governos de direita em Portugal, tirando as duas maiorias de Cavaco Silva, foram sempre em coligação entre o PSD e o CDS. Nesse desaparecimento, em 2022, do CDS, com a fragmentação à direita que existia no campo da esquerda, mas não existia da mesma maneira no campo da direita durante muitos anos, muda de facto as condições de governar à direita no país, na minha perspetiva, pela primeira vez.”
Já o centrista António Lobo Xavier desdramatiza a mudança no panorama político que vai surgir associada ao crescimento do Chega.
“A extrema-direita nacionalista, xenófoba e antieuropeísta é um drama, obviamente, que ela progrida, mas não vamos agora inventar que nós temos um problema especialmente grave, porque ainda vamos ter agora incertezas na formação do Governo e dos apoios parlamentares.”
“A nova situação resultante das eleições gerará um novo tipo de relações. Eu não sei o que será as relações de um PSD vencedor com um PS profundamente derrotado. Não sei se fica lá Pedro Nuno Santos... não sei o que vai ser.”
“Isto vai mudar, sim, vai mudar, mas não vejo isso como nenhum drama”, defende o centrista.