Pacheco Pereira vê "enormes fragilidades" na escolha de Pinto Luz e Nuno Melo para o Governo
Os nomes escolhidos por Montenegro para o novo Governo não reuniram consenso no programa "O Princípio da Incerteza".
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A composição do novo Governo não é consensual e prova disso é a opinião do historiador José Pacheco Pereira em relação a duas pastas, que considera problemáticas. No programa da TSF e CNN Portugal, o ex-deputado do PSD manifestou dúvidas quanto à escolha de Miguel Pinto Luz como ministro das Infraestruturas e de Nuno Melo como ministro da Defesa porque vão liderar pastas com dossiers difíceis e complexos para os quais podem não estar preparados.
"Se fosse o PS a apresentar aqueles nomes havia para aí um escândalo nacional, de que era um partido de boys, um Governo de boys. Não acho isso. Não achava em relação ao PS nem acho em relação a este Governo do PSD, mas é evidente que há ali enormes fragilidades. Só quem não conheça as nossas Forças Armadas é que pensa que Nuno Melo vai ser respeitado. Não vai. E o homem que vai suceder a Pedro Nuno Santos e Galamba nas Infraestruturas vai tomar a decisão sobre a TAP. É espantoso que ninguém lembre que é o principal responsável por uma privatização da TAP que foi um desastre", explicou Pacheco Pereira.
Pelo contrário, o advogado António Lobo Xavier louva a capacidade de recrutamento do novo primeiro-ministro, sobretudo em circunstâncias tão difíceis, e não vê boys para jobs no Executivo.
"Os académicos são todos competentes e prestigiados no seu meio e os que não são académicos são, obviamente, militantes do PSD e até dirigentes. Quando falamos de boys e de aparelho não podemos confundir as coisas. De Paulo Rangel pode-se dizer que é um homem do aparelho? Até mesmo de Castro Almeida, que é um homem do aparelho. O que se critica dos boys é os boys que não têm existência fora dos partidos e da nomeclatura partidária. Não há, no Governo, ninguém nessas circunstâncias e realmente é um naipe de ministros a que tiro o meu chapéu ao Luís Montenegro", defendeu Lobo Xavier.
Já a socialista Alexandra Leitão contesta a orgânica do novo Executivo, sobretudo o acumular de pastas no Ministério da Educação, mas sublinha a benevolência com que o conjunto de ministros tem sido recebido.
"Não sou daquelas pessoas que ache que o facto de haver muitos ministros com cartão partidário seja, por si, um tipo de coisa má ou algo, só por si, criticável. Não acho isso para o Governo do PSD e não achei para os governos do Partido Socialista. Agora, não deixa de ser curioso ouvir - e já passaram três dias - e ver a generalizada benignidade que está a ser tecida sobre este Governo", afirmou Alexandra Leitão.
No programa "O Princípio da Incerteza" de domingo à noite foi também discutido o imbróglio à volta da escolha do presidente do Parlamento. António Lobo Xavier destacou o que chama de "falta de ética" de André Ventura.
"O entendimento nos parlamentos é para cumprir. São palavras de cavalheiro, é uma coisa típica da democracia parlamentar e liberal. O que se combina cumpre-se. O que se passou foi que Ventura não gostou de umas declarações secundárias e resolveu incumprir o acordo sem o denunciar. O que fazem os cavalheiros parlamentares? O que faria o Pacheco Pereira ou Alexandra Leitão? Informariam a parte com quem fizeram o acordo de que não estavam em condições de o cumprir e que não o cumpririam. Ventura montou uma emboscada. Não denunciou o acordo, nem com o seu interlocutor nem publicamente, e apresentou-se às eleições para o vexar, para vexar a pessoa ou o partido com quem fez um acordo", sublinhou Lobo Xavier.
Pacheco Pereira não vê grande problema na forma como o impasse se formou e se resolveu.
"Vamos raciocinar em termos de bom-senso. Um homem pega no telefone, fala com outro homem e diz: 'Vamos apresentar o Aguiar-Branco e, portanto, esperamos que nos apoiem.' De certeza que do outro lado deve ter sido dito qualquer coisa deste género: 'Bom, então esperamos de que haja uma garantia de que o nosso candidato à vice-presidência seja aprovado. Isto é um acordo. Quando depois Nuno Melo e Rangel vêm dizer que não há acordo nenhum põem o Chega numa situação de perda de face depois de dizer que houve um acordo. Estas coisas, se forem vistas com bom-senso, não justificam o alarido que tiveram. Qual é a lição que devem tirar? É que esta é a situação política portuguesa neste momento", imaginou Pacheco Pereira.
Fica a lição para Luís Montenegro, que sabe com o que pode contar daqui para a frente, enquanto Alexandra Leitão acredita que faz tudo parte de uma estratégia do partido Chega.
"No fundo a estratégia é clara. Se forçarem o PSD a negociar com eles quebram o 'não é não' do Luís Montenegro. Se não conseguirem forçar, também não faz mal porque aí, como dizia o António, tentam assumir-se como líderes da oposição e metem o PS e o PSD no mesmo saco de bloco central. Não vai funcionar. O PS desbloqueará os impasses institucionais, como desbloqueou este, poderá viabilizar medidas que constem também do seu programa eleitoral, mas não vai viabilizar nem aprovar medidas programáticas que não sejam do seu programa", acrescentou.