Para evitar "instrumentalização". BE recomenda ao Governo adoção de definição de antissemitismo da Declaração de Jerusalém
Em declarações à TSF, Fabian Figueiredo explica que a preocupação do partido passa por garantir que a luta contra o antissemitismo "não é instrumentalizada, como foi noutros países, para a evitar críticas à política do Governo de Israel", nomeadamente no que diz respeito à ocupação da Palestina
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O Bloco de Esquerda (BE) apresentou um projeto de resolução que recomenda ao Governo que adote a definição de antissemitismo na Declaração de Jerusalém e que desenvolva um plano nacional de combate à descriminação dos judeus.
No documento, a que a TSF teve acesso, o partido lembra a perseguição que tem marcado a história dos judeus e argumenta que a definição de antissemitismo apresentada pela Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), que foi adotada diversos Governos, apresenta "evidentes limitações em termos de ambiguidade e imprecisão".
"A definição da IHRA tem gerado acesa controvérsia no plano global, em particular no que se refere à sua interpretação no contexto da crítica a políticas prosseguidas por Governos do Estado de Israel", lê-se na nota de recomendação.
É neste contexto que surge então a Declaração de Jerusalém sobre o Antissemitismo, adotada em 2018, que procurou responder às críticas apontadas à IHRA, desde logo o facto desta última "poder ser usada para silenciar a crítica legítima a políticas do Governo de Israel, confundindo-a com antissemitismo".
Ouvido pela TSF, Fabian Figueiredo, líder parlamentar do BE, apela que o combate ao antissemitismo se faça, então, através da "preservação da memória da perseguição aos judeus na Europa e em Portugal", lembrando Aristides de Sousa Mendes, que "ajudou a salvar milhares de judeus e foi depois perseguido e votado à pobreza pelo regime de Salazar". A preocupação do partido, explica, é sobretudo garantir que esta luta "não é instrumentalizada, como foi noutros países, para a evitar críticas à política do Governo de Israel".
"Vários judeus têm-se mobilizado em Portugal e têm alertado e escrito, nomeadamente, o Coletivo de Judeus pela Paz, tem tido uma intervenção pública nesse sentido", acrescenta.
A par disto, Fabian Figueiredo aponta que o partido quer assegurar a existência de uma "estratégica nacional" para resolver este problema, reforçando que tal não deve "limitar a crítica às políticas do Governo de Israel", desde logo no que diz respeito à ocupação israelita da Palestina.
Para o líder parlamentar, combater o antissemitismo é também lutar contra o ódio, que tem "herdeiros" no atual panorama político europeu.
"Essa política odiosa tem os seus herdeiros na Europa, que hoje procuram novamente mobilizar o ódio contra minorias étnicas, contra pessoa LGBT. É por isso que é tão importante conciliar memória com a mobilização para uma política solidária que promova a igualdade e que não dê espaço à intolerância e à violência", alerta.
A Declaração de Jerusalém sobre o Antissemitismo sublinha que "criticar as políticas de Israel não é antissemitismo" e propõe uma definição com a seguinte redação:
“O antissemitismo é a discriminação, o preconceito, a hostilidade ou a violência contra os judeus enquanto judeus (ou contra as instituições judaicas enquanto instituições judaicas).”
