O Parlamento Europeu assinala, em Bruxelas, o percurso de Mário Soares, com uma cerimónia em que se inaugura a sala do político português, que em1985 assinou a adesão de Portugal à então CEE.
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Soares foi eleito eurodeputado em 1999, para um mandato de cinco anos. Nos corredores de Bruxelas ainda há quem dele se recorde. É o caso do assistente pessoal, que ainda hoje trabalha entre Bruxelas e Estrasburgo, José Alberto Alves.
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"Ele [Soares] chegava [a Estrasburgo] na segunda-feira à tarde. E, a partir desse momento, eram 24 horas, praticamente, com ele", contou o assistente, recordando-se também de "várias viagens com ele - de Bruxelas para Estrasburgo [ou] Bruxelas para o Luxemburgo -, fui também algumas vezes com ele à Alemanha e à Holanda a conferências em que ele participava".
"Íamos de carro e ele tinha receio que eu adormecesse - normalmente eram viagens à noite - e, então, contava-me praticamente a história toda da vida", contou com ironia.
Nesta conversa com a TSF, registada em Bruxelas, nos corredores do Parlamento Europeu, José Alberto Alves recordou-se ainda de episódios como o do dia em que Soares disse que queria ir-se embora.
"Ele queria ir-se embora, porque o objetivo dele nunca foi ficar os cinco anos e, disse na altura, ao António Campos, que era o grande amigo dele aqui, "vou-me embora", "não vais nada" e Soares respondeu-lhe "só se o "Zé Alberto ficar comigo", contou o próprio "Zé Alberto", como é mais conhecido nos corredores do Parlamento.
"Foi uma chatice na altura, porque a delegação era composta por 12 deputados, uma [quantidade] de trabalho incrível", conta com humor, saudando "felizmente" ter conseguido "arranjar tempo, porque, de facto, foi um prazer imenso [trabalhar com Soares]".
"Ele queria sempre ter à volta dele muita gente. Os amigos mais próximos. Havia sempre um grupo que participava nesses jantares e nesse almoços que, no fundo, eram quase tertúlias, em que se discutia sobre o futuro da Europa que, na altura estava numa encruzilhada" e não se sabia ainda se a Constituição Europeia avançaria ou se acabaria por ser rejeitada, como veio a acontecer, em 2005, já depois de Soares ter concluído o mandato de eurodeputado.
"Foi um golpe. Ele ficou muito triste por não ver avançar mais um passo da Europa", recorda. No arranque do mandato, Soares tinha enfrentado outro revés, ao perder a presidência do Parlamento Europeu para a francesa, Nicole Fontaine.
"Era uma derrota anunciada. Todos sabíamos que depois do não acordo entre os Socialistas e o PPE. Em 1999 deixamos de ser o primeiro grande grupo político no Parlamento Europeu (...) e por imposição do PPE, ficaram com a primeira metade da legislatura", contou o antigo assistente, recordando também Soares como um político "combativo", capaz de afirmar ao mais alto nível o papel da Europa, na defesa dos direitos humanos".
"A coisa mais brilhante que assisti aqui no Parlamento Europeu, [foi] numa reunião do grupo político, em que o convidado especial era o Shimon Peres. Houve um debate entre os dois que foi uma coisa do outro mundo. Ele defendia, como sempre defendeu, os direitos humanos, para além da amizade pessoal que tinha com o Shimon Peres. Foi dos momentos mais extraordinários que assisti aqui no Parlamento Europeu", lembra.