A proposta partiu do PAN depois do falecimento do argentino Fabián Tomasi. O socialista Sérgio Sousa Pinto votou contra. O Parlamento congratulou-se, entretanto, com uma decisão judicial, na Índia.
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Na mesma sessão, o Parlamento aprovou um voto de pesar pelo falecimento de uma alegada vítima da utilização de glifosato, na Argentina, e um voto de congratulação pela despenalização da homossexualidade pelo Supremo Tribunal da Índia.
A votação ficou marcada pelo protesto de dois deputados do PS.
"É um triste sinal dos tempos que estejamos a votar um voto sobre um alegado mártir do glifosato, no plenário da Assembleia da República, Sr. Presidente", a expressão de Sérgio Sousa Pinto provocou alguns aplausos e sorrisos na sala do hemiciclo e outros olhares de reprovação.
O socialista que preside à Comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, fez questão de dizer que o assunto nem sequer estava relacionado com essa função mas, causou-lhe estranheza que o Parlamento votasse a proposta nos moldes apresentados pelo PAN - Pessoas, Animais, Natureza.
O presidente da Assembleia da República lembrou que está a decorrer na conferência de líderes, um debate "que não está concluído", sobre os procedimentos a adotar em matéria de votos de pesar.
"E, portanto, hoje continuaremos a fazer como fizemos. Possivelmente na próxima sessão já não será o caso", disse Ferro Rodrigues.
O texto de pesar foi aprovado com o voto contra de Sérgio Sousa Pinto, a abstenção do PSD, de seis deputados do PS - Fernando Rocha Andrade, Isabel Santos, Renato Sampaio, Isabel Moreira, Fernando Anastácio e José Magalhães - e da deputada do CDS-PP Patrícia Fonseca, tendo recebido os votos favoráveis das bancadas do PS, BE, PCP, PAN, PSD e CDS.
Já Renato Sampaio, também deputado socialista, pronunciou-se antes da votação sobre a despenalização da homossexualidade pelo Supremo Tribunal da Índia, considerando que a "Assembleia não devia votar" por se tratar de um "interferência num Estado soberano". Apesar de "aplaudir" a decisão do tribunal, Renato Sampaio ausentou-se da sala e não fez parte da unanimidade que aprovou o voto apresentado pelo PAN.
"De qualquer maneira, eu não participarei nesta votação", disse o deputado socialista.
O presidente da Assembleia da República recordou que o deputado "não pode deixar de participar porque as regras não permitem que os deputados que estão na sala não participem nas votações" mas Renato Sampaio acabou por sair da sala durante a votação,
O outro voto entregue pelo deputado André Silva expressava o pesar pelo falecimento de Fabián Tomasi, "uma referência na luta contra o uso de glifosato na Argentina".
Fabián Tomasi faleceu dia 7 de setembro, vítima de uma polineuropatia tóxica severa alegadamente causada pela sistemática utilização de agrotóxicos nas práticas agrícolas da Argentina, sem qualquer proteção no manuseamento do glifosato.
O PAN sublinha que "parte da comunidade científica considera que o glifosato consubstancia com elevada taxa de probabilidade uma substância cancerígena, adiantando-se que a própria Organização Mundial da Saúde subscreveu em 2015 esta tese".
O voto termina com a exigência da erradicação "de uma vez por todas o uso destes produtos agrotóxicos", e manifesta "a profunda tristeza" do Parlamento português e o "reconhecimento coletivo da vida e do trabalho de Fabián Tomasi, lamentando o seu falecimento".