O antigo primeiro-ministro acusa o Estado de "encolher os ombros" em relação aos casos de corrupção " ao mais alto nível" que têm sido trazidos a público.
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O presidente do PSD afirmou esta sexta-feira que "é inquietante", numa altura em que são registados "casos de corrupção ao mais alto nível da sociedade", que o Estado "encolha os ombros e se refugie no andamento da Justiça".
"É inquietante [que], num tempo em que tantas dúvidas vêm para a opinião pública sobre a transparência, a lisura de procedimentos, envolvendo casos de corrupção ao mais alto nível da sociedade, e o Estado, de um modo geral, encolha os ombros e se refugie no andamento da Justiça para que alguma coisa se faça", afirmou Pedro Passos Coelho.
O líder nacional do PSD falava na Guarda, onde presidiu à sessão de abertura da IV Academia do Poder Local, organizada pelo PSD e pelos Autarcas Social-Democratas (ASD).
No seu discurso, deixou o apelo "a que, de um modo geral, as forças políticas, mas em particular o Governo também saia da sua modorra e comece a pronunciar-se sobre isto e a tomar iniciativas sobre isto".
"A Justiça tem o seu papel, mas a política também tem o seu papel e não é por certas matérias estarem em investigação penal que não podem ou não devam merecer discussão política e social", disse, acrescentando: "é possível recuperar ainda algum do tempo que se perdeu nestes meses e poder dizer aos portugueses que o que quer que tenha ocorrido faremos tudo o que está ao nosso alcance para que não se repita no futuro".
"[Há] algum tempo atrás, um órgão de comunicação social, uma televisão, trouxe à opinião pública o conhecimento de irregularidades graves que ocorreram no âmbito da adoção de menores", lembrou.
O ex-primeiro ministro acrescentou que "parece que não espanta ninguém que passado todo este tempo o Governo não tenha tomado nenhuma iniciativa que visasse esclarecer junto das entidades públicas a responsabilidade pelo que se passou".
"Como se a questão tivesse prescrito, como se não fosse nada com o Estado. Os políticos têm fugido de falar deste assunto como o diabo da cruz - e cá vem outra vez o diabo", afirmou.
Ainda sobre os políticos, afirmou que "ninguém lhes ouve uma palavra sobre o assunto e quando com insistência alguém tem de se pronunciar sobre isto vai dizendo que a Procuradoria [Geral da República] que atue e que investigue, como se o Estado ele próprio, como edifício administrativo, não devesse também, com mecanismos inspetivos, apurar o que se passou, tentar apurar o que se passou".
Descentralização não avançou "porque Governo não quis"
O presidente do PSD afirmou ainda que a reforma da descentralização não foi feita porque a maioria que governa o país "não entendeu que isso fosse uma prioridade".
"O Governo, como é público no país, dispõe de uma maioria absoluta no parlamento. O que significa, portanto, que se a reforma da descentralização não foi feita, foi porque essa maioria não quis, não foi com certeza porque o PSD o tivesse impedido. Não temos força para impedir tal", afirmou Pedro Passos Coelho.
Passos recordou que o PSD apresentou no parlamento, em abril de 2016, o primeiro pacote de medidas de orientação e outro mais alargado em novembro e "todas elas foram chumbadas na altura".
"O Governo esperou quase pela primavera de 2017 para, nessa altura, então, mostrar pressa em fazer aquilo que até aí não tinha preparado. E já passaram as eleições autárquicas e já estamos em 2018. O Governo não se cala nem perde oportunidade para dizer que quer fazer esta grande reforma, mas entre aquilo que diz e aquilo que faz vai uma diferença imensa e até à data ainda não se fez nada", afirmou.