Pedro Nuno responsabiliza Montenegro por crise no INEM e pede consequências: "Negligência e incompetência"
O líder dos socialistas defende que o Executivo tem "falhado naquilo que é mais essencial: a competência com que serve a população"
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Pedro Nuno Santos denunciou esta sexta-feira uma situação "muito grave de negligência, de irresponsabilidade e de incompetência do Governo" na gestão da greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar. Apesar de "avaliar negativamente" a ministra da Saúde, o socialista sublinha que este "não é só um problema" de Ana Paula Martins, mas "do primeiro-ministro em particular", acusando-o de ter "desvalorizado" a situação. Cabe a Luís Montenegro, na opinião de Pedro Nuno Santos, explicar o que "correu mal" e retirar "consequências políticas".
"Este não é só um problema da ministra. Este é também um problema do Governo todo e do primeiro-ministro em particular. E é um problema do primeiro-ministro, que poderia ter optado por dizer que estamos perante uma situação grave, que vai averiguar o que aconteceu e retirar as consequências, mas optou por dizer diferente: optou por desvalorizar a greve, dizendo que não podem andar sempre atrás de pré-avisos de greve", lamentou, em declarações aos jornalistas.
As consequências "têm de ser políticas", desde logo, "na forma como o Governo lida com os problemas. Ao fim de oito meses de governação, Pedro Nuno Santos ainda vê uma atitude de "partido da oposição". Diretamente da oposição, que consequências exige o líder do PS?
"Não me quero substituir ao primeiro-ministro. O primeiro-ministro tem de fazer avaliação do que aconteceu, para termos a certeza que percebeu o que aconteceu", respondeu.
Demissão da ministra da Saúde? Decisão está nas mãos do PM
Questionado sobre se apoia os pedidos de demissão de Ana Paula Martins, Pedro Nuno Santos considera que tem "revelado uma grande incapacidade na gestão" da pasta da Saúde, mas atira a decisão para as mãos de Luís Montenegro.
"Esta desvalorização preocupa-nos ainda mais porque fica evidente - como o próprio primeiro-ministro diz -, que este problema não se resolve apenas com a substituição da ministra, mas sim com uma alteração muito importante na forma como o Governo gere os problemas com que se vai confrontando", diz.
O líder dos socialistas recupera uma frase já muito utilizada e insiste que "governar não é apresentar PowerPoints". Pedro Nuno Santos defende que só "quando os Governos são testados com casos concretos" é possível avaliar a "sua competência" e o Executivo de Luís Montenegro tem demonstrado, "em demasiados casos", que tem "falho naquilo que é mais essencial: a competência com que serve a população".
"Sabemos hoje que o Governo sabia - e sabia já há muito tempo - que esta greve, primeiro, poderia ocorrer, e, pelo menos há 10 dias, que a greve ia ocorrer. Sabemos também que o Governo nada fez para evitar a greve, nem para minorar os impactos desta greve. Aliás, sabemos que bastava uma reunião para impedir que a greve acontecesse, tal como agora foi sucedido", aponta.
"Uma reunião podia mudar tudo"
O secretário-geral do PS critica que o Governo só tenha "sentido necessidade de intervir" após a morte de oito pessoas por atrasos nas linhas de emergência e socorro.
"Desde logo, não foram decretados serviços mínimos e, ao contrário do que tenho ouvido, os serviços mínimos também podem ser decretados às greves ao trabalho suplementar e, neste caso em concreto, o PGR tinha obrigação de procurar decretar ou apresentar uma proposta de serviços mínimos para esta greve, porque o Governo sabe que o trabalho suplementar é fundamental para o bom funcionamento dos serviços de emergência", destaca.
Pedro Nuno Santos insta igualmente a que Luís Montenegro pare de se "esconder atrás do Governo anterior", ressalvando que, apesar de estarem a "responsabilizar" o Governo de António Costa, o "PS não se furta a ser parte da resolução deste problema".
Marcelo? "Foco é o Governo"
Marcelo Rebelo de Sousa não se tem alongado sobre o caso, recusando comentar as condições de Ana Paula Martins para se manter no Governo, mas Pedro Nuno Santos não aponta o dedo ao Presidente da República. "O foco" é o primeiro-ministro.
"O meu foco é o Governo, não é o Presidente da República. Quem gere o país, quem gere a saúde, quem gere o INEM é quem governa", respondeu.
Os técnicos de emergência pré-hospitalar iniciaram no dia 30 de outubro uma greve às horas extraordinárias para pedir a revisão da carreira e melhores condições salariais.
A paralisação foi suspensa na quinta-feira, após o sindicato ter assinado um protocolo negocial com o Ministério da Saúde.
Na segunda-feira, a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar obrigou à paragem de 44 meios de socorro no país durante o turno da tarde, agravando-se os atrasos no atendimento da linha 112.
Pelo menos seis pessoas terão morrido na última semana em consequência dos atrasos no atendimento na linha 112, tendo o INEM já confirmado o impacto da greve.