Politólogo diz que só "medidas efetivas que funcionem" podem enfraquecer partidos populistas
Pedro Silveira entende que ainda é cedo para perceber se o fenómeno de crescimento da extrema-direita veio para ficar e dá exemplos na Europa para justificar que tudo é possível.
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O politólogo e professor na Universidade da Beira Interior Pedro Silveira considera que os partidos tradicionais têm sido táticos em relação ao Chega, o que permitiu o crescimento do partido nestas eleições. No entanto, o especialista em Ciência Política entende que ainda é cedo para perceber se este fenómeno veio para ficar e dá exemplos na Europa para justificar que tudo é possível.
"Temos o caso espanhol em que o Vox, apesar de tudo, pelo menos para já, estabilizou a sua votação eleitoral e temos o caso italiano, em que subiu bastante em relação àquilo que é o resultado do Chega. Nós não sabemos. O primeiro-ministro António Costa ontem fazia exatamente esse raciocínio, que era o ser útil perceber em que medida é que esta seria uma questão estrutural ou questão conjuntural, esta mudança e esta votação no Chega. Se seria algo que veio para ficar ou se seria algo mais conjuntural que tinha a ver com o momento em que vivemos. Essa maneira de olhar para o Chega revela uma maneira um bocadinho tática de os partidos olharem para o Chega, que é que é uma tentativa de perceber bem se vai crescer então vamos agir desta maneira, ainda vai crescer mais, ainda há espaço. Isso é uma maneira muito tática de olhar para o crescimento deste tipo de partidos, o que faz com que não se olhe de uma maneira que é mais substantiva. O esvaziamento dos partidos populistas de direita radical tem que ser feito através de medidas efetivas que funcionem e que façam com que as pessoas, de facto, sintam que não têm necessidade de protestar, não têm necessidade de optar por uma solução mais radical, revendo-se nas soluções que são típicas dos partidos mais moderados, ou seja, só se esvaziam partidos populistas de direita radical resolvendo problemas. A questão aqui é que a resolução destes problemas é, na verdade, muito difícil agora, porque são problemas que já têm alguns anos. A educação, a habitação, a saúde não são problemas que se vão resolver nos próximos meses e isso torna a situação bastante complicada, porque vai permitir que o Chega continue a dizer que ainda não é Governo, tudo ficou na mesma e que os problemas continuam por resolver", explicou à TSF Pedro Silveira.
Já a CDU perdeu dois deputados nestas eleições, mas manteve a representação parlamentar. Para Pedro Silveira, a coligação está numa tendência de queda, muito por causa do enfraquecimento do poder sindical.
"É um resultado que mantém a sua presença e que, de alguma maneira, não é surpreendente na medida em que o eleitorado do PCP é um eleitorado bastante fiel, com bastante identificação partidária e, nesse sentido, seria sempre difícil que a CDU descesse muito mais, mas a verdade é que tem descido e tem descido de modo consistente a que não será alheia uma perda acentuada no mundo sindical, na importância que o PCP tinha no mundo sindical e na representação das lutas de muitos trabalhadores de modo organizado e também nas autarquias, que eram no fundo as duas arenas preferenciais de grande visibilidade e de grande força da CDU e do PCP", justificou o politólogo.