A imigração foi o prato principal do debate que juntou, na RTP, António Tânger Corrêa (Chega), Catarina Martins (Bloco de Esquerda), Francisco Paupério (Livre) e Pedro Fidalgo Marques (PAN). Defesa e guerra também foram tema no debate em que o Bloco desafiou o Livre a mudar de família política europeia
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Os temas da imigração e da defesa foram os pratos principais do debate para as europeias que juntou os candidatos do Chega, Bloco de Esquerda, Livre e PAN, com Tânger Corrêa a falar em "portas escancaradas" para discordância dos restantes, e associando nacionalidades a problemas relacionados com a imigração.
Tendo sido o primeiro assunto colocado em cima da mesa, o candidato do Chega realçou a necessidade "imigração controlada" e deu exemplo de uma nacionalidade concreta. Se por um lado elogiou a imigração "excelente" dos brasileiros, que "melhoraram a parte comercial em Portugal, com um atendimento muito melhor", logo em seguida completa que "quando há imigração de portas escancaradas entram os maus elementos, como entraram brasileiros, como entraram de outras nacionalidades".
Diz o candidato do Chega que "o problema não é a origem da imigração, o problema é quem vem sem um mínimo de escrutínio". Aproveitou a candidata do Bloco de Esquerda para o reparo: "Tânger Corrêa acaba de fazer um discurso que explica o que é a xenofobia e o discurso de ódio que a extrema-direita vai fazendo pela Europa".
Para Catarina Martins, "a extrema-direita é, neste momento, a maior ameaça à segurança da Europa, não é quem vem para a Europa à procura de trabalho e de uma vida melhor". Considerando que Portugal tem regras e que as fronteiras estão controladas, a bloquista nota que "separar nacionalidades entre as boas e as más" e que "desvalorizar os incidentes e dizer que há por toda a Europa, é um tipo de discurso a que a extrema-direita já nos habituou".
Posição corroborada pelo candidato do Livre que destaca que "nunca houve a questão das portas escancaradas" porque "todos os imigrantes que chegam, chegam com regras". Daí parte para a necessidade de existir uma "coordenação europeia" para a integração das pessoas que procuram os espaço europeu para seguirem as suas vidas. "Se a pessoa cumprir os requisitos para entrar, deve entrar", defende o candidato do Livre.
Já Pedro Fidalgo Marques também aponta às políticas de integração, como por exemplo, no ensino da língua portuguesa. "Não faz sentido as pessoas que já cá estão estarem anos à espera de uma autorização, às vezes meses à espera de uma reunião, estamos a falar de direitos humanos básicos", vinca o candidato do PAN.
Ainda na imigração, Tânger Correa é confrontado por Fidalgo Marques porque o candidato do Chega considera que há pessoas em campos de refugiados em melhores condições do que os migrantes que estão, atualmente, em situação de sem-abrigo na zona dos Anjos, em Lisboa.
Arrumado este tema, surgem as questões da guerra e da defesa com todos os candidatos a salientar que a Europa pode fazer mais em relação à Ucrânia. Para o candidato do Chega, "é preciso apoiar a Ucrânia e dar-lhe força para não ir para a mesa das negociações numa posição de inferioridade" considerando até que a invasão da Rússia foi um "erro de cálculo fatal" cometido por Vladimir Putin.
Na posição do Bloco de Esquerda, Catarina Martins aponta à União Europeia que, diz, "não assumiu a responsabilidade de ser promotora de uma conferência de paz sob égide da ONU". "A UE não tem tido uma estratégia autónoma, fala muito de armas, nunca fala da paz, claro que a Ucrânia tem direito a defender-se, mas é preciso uma estratégia para a paz. As guerras acabam em conferências para a paz", nota Catarina Martins que usou várias vezes o conceito de "eurocinismo".
Já o número um do Livre rejeita uma intervenção com militares europeus no terreno, até porque isso corresponderia a uma "escalada do conflito". Vincando que o objetivo deve ser a paz, Paupério nota que "o que a UE tem de fazer é respeitar a decisão do povo ucraniano" e que, "se a decisão for o cessar-fogo", deve ser apoiada, mas "se for defender integralmente o seu território", essa decisão também deve ser apoiada com material de defesa. "Através da entrega de armas de defesa, sempre, e, mais tarde, o que já foi aprovado no Parlamento Europeu, a ajuda económica para financiar a reconstrução já da Ucrânia e não esperar pelo fim da guerra", sublinha.
Para o PAN, quando se fala de apoiar a Ucrânia, estamos a falar de "apoiar direitos humanos, de apoiar aquelas famílias, aquelas pessoas que estão lá a defender essa guerra". Além de ser sinónimo de defesa do projeto europeu, Fidalgo Marques aponta que o apoio militar deve continuar paralelamente com negociações. "As pessoas têm direito a defender-se e à sua autodeterminação, não se podem é esquecer que têm que ter em paralelo o caminho da negociação e da diplomacia, ultimamente não temos visto tantas conferências entre partes e não temos visto na UE falar-se a uma só voz", nota.
Já sobre mais investimento em Defesa, o candidato do Chega não tem dúvidas que 2% do PIB deve ser o mínimo de investimento possível, notando até que a indústria militar pode beneficiar com parcerias público-privadas. Além disso - e que mereceu contestação na hora por parte de Catarina Martins - Tânger Corrêa notou que o equipamento militar dos países pode servir de dissuasão.
"Diz-se que os japoneses não invadiram os EUA na Segunda Guerra Mundial porque os americanos eram um povo armado. Diz-se, eu não estava lá, mas pelo menos é o que corre nos meios diplomáticos", notou mesmo o candidato do Chega.
Para o Bloco de Esquerda, mais do que pensar em mutualizar a dívida na área da Defesa, deve-se pensar na emergência climática. No caso do Livre, Paupério apela à reflexão sobre como deve ser feito o investimento ("não tem de ser maior, tem de ser pensado") e o PAN sugeriu uma contribuição extraordinária sobre "lucros excessivos" da indústria militar com aplicação humanitária ou ambiental.
No que diz respeito ao alargamento, o tema foi relativamente consensual, com luz verde das várias partes, mas com reparos de que o ritmo não deve ser acelerado, mas o do cumprimento das condições efetivas de cada país para poderem ser membros do bloco europeu.
Já mesmo no final do debate, a antiga coordenadora do Bloco desafiou o candidato do Livre a mudar de família política europeia, dos Verdes para a Esquerda, alegando Catarina Martins que nessa família política estão partidos que estão em governos que foram favoráveis ao pacto das migrações e que estão a vender armas a Netanyahu.
Resposta pronta de Paupério: "o Livre está muito feliz nos Verdes europeus porque tem três pilares basilares: democracia, ambiente e direitos humanos".