Presidenciais: Seguro diz que partidos devem "fugir das escolhas partidárias" e pede "espaço para a cidadania"
"Ao querer partidarizar uma eleição que, pela sua natureza, não é partidária, eu penso que os partidos não estão a ir pela via correta", afirma o antigo líder socialista
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António José Segura nunca se refere, diretamente, ao PS, mas lamenta que, nas presidenciais, os partidos "partidarizem" as eleições e aconselha os líderes partidários a deixarem espaço para a cidadania, sem se intrometerem na escolha individual de cada candidato.
"O Partido Socialista deveria fugir deste pecado original, que é o das escolhas partidárias. A eleição presidencial é a expressão da cidadania, a expressão da vontade individual. Não há nenhuma democracia no mundo que não tenha partidos políticos, mas os partidos políticos não podem ser os donos da democracia e, sobretudo, nestas eleições presidenciais têm que deixar espaço para a cidadania. Uma coisa são os candidatos, as pessoas que avançam, porque consideram que têm compromissos essenciais e que podem ser úteis ao país, numa fase importante e singular da vida nacional e da vida europeia. Outra coisa são os partidos e os apoios que os partidos vão fazer. Ora, ao querer partidarizar uma eleição que, pela sua natureza, não é partidária, eu penso que os partidos não estão a ir pela via correta", disse o ex-líder socialista, no espaço de comentário na CNN Portugal.
No sábado, a Comissão Nacional do PS reúne-se para discutir as eleições presidenciais, embora ainda sem candidatos definidos: António Vitorino mantém-se em silêncio e António José Seguro continua em reflexão.
António José Seguro abordou ainda a questão da justiça, numa semana marcada por vários desenvolvimentos em processos judiciais. O antigo secretário-geral do PS considera que devem ser os políticos a dar o exemplo, mas também o Presidente da República deve assumir um papel, ao pedir celeridade à Justiça (sempre com a "separação de poderes").
"Eu julgo que o Presidente da República pode ter aqui uma atitude importante, discreta, mas importante, designadamente em pedir à justiça explicações, no sentido da separação de poderes, mas, no fundo, de exigir que as instituições da Justiça sejam mais céleres no seu tempo para que a Justiça se possa fazer e não se envolvam nomes e cidadãos inocentes durante um processo longo, longo, longo, longo, longo, que nunca mais acaba", argumenta.
Seguro deixa ainda uma achega a Henrique Gouveia e Melo: "Esta situação afasta os cidadãos da vida política, afasta os cidadãos das instituições, esmorece a sua confiança e começam a perguntar: ‘Acredita em quem?’ E, portanto, aí talvez se possa colocar a pergunta se é alguém de fora que vem resolver estes problemas. Eu julgo que o mais importante é que aos de dentro lhes exija que cumpram com as suas funções."
Notícia atualizada às 09h55