Promessas eleitorais? "Era bom que houvesse mais responsabilidade na campanha"
No programa O Princípio da Incerteza, Pacheco Pereira pede que haja mais responsabilidade nas campanhas eleitorais. Miguel Macedo considera que o Governo e a oposição devem ser responsabilizados pelas decisões que tomam e Alexandra Leitão defende que os partidos devem continuar a apresentar propostas
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Pacheco Pereira acredita que o Governo de Luís Montenegro é mais um em que as promessas feitas em campanha eleitoral não vão ser cumpridas. No programa da TSF e CNN Portugal, "O Princípio da Incerteza", o historiador sublinha que deveria existir mais responsabilidade nas campanhas eleitorais.
"Nenhum governo, sem pôr em causa as contas públicas, tem condições para responder às reivindicações. Nenhum. Era bom que houvesse mais responsabilidade na campanha, quer por parte da AD, quer por parte do PS, que houvesse alguma responsabilidade nas propostas que foram feitas. Toda a gente andou a dizer que este é um Governo de combate. Eu acho essas coisas um bocado irónicas, sorrio ironicamente quando alguém dizia isso por uma razão muito simples: é que um governo de combate não é um governo, um governo de combate é um governo de combate à oposição. E, portanto, o Governo, que teve uma entrada complicada e difícil, que tem uma enorme dificuldade em fazer passar as coisas na Assembleia da República, tentou levantar a questão das contas públicas. Em alguns aspetos, provavelmente tem razão, mas o valor do excedente que o próprio governo aceitou como válido dá-lhe, com certeza, em teoria, para cumprir algumas das suas promessas. Foi o que ele disse", afirma Pacheco Pereira.
Na mesma linha, Miguel Macedo, antigo ministro da Administração Interna, antecipa um país onde nem o Governo, nem a oposição são responsabilizados pelas decisões que tomam.
"Se nós não tivermos cultura democrática e uma atuação política subordinada ao compromisso democrático (não é negociações por baixo da mesa, não são aquelas coisas de que se costuma falar muitas vezes), é a necessidade de encontrar compromissos para avançar e concretizar soluções em favor do país e dos portugueses, então vamos cair num impasse político que é extraordinariamente complicado de gerir e tem uma consequência: cria um pântano de irresponsabilidade", considera.
Miguel Macedo diz que "se estão a impor a um governo medidas de tal monta que impeçam a concretização dos objetivos maiores que estão inscritos no programa do Governo, então, evidentemente, temos uma situação em que não vai ser possível apurar responsabilidades do Governo, o que é mau e vão ficar dissipadas as responsabilidades das várias oposições que, em geometria variável, impediram o governo de governar".
Já Alexandra Leitão defende que os partidos devem continuar a apresentar propostas. "Devem os partidos de oposição e, designadamente o partido que lidera a oposição, recusar a possibilidade de fazer aprovar as suas propostas que têm no programa eleitoral?", questiona. "Podem apresentá-las, mas não vá haver o risco de serem aprovadas é melhor não as apresentar, tem sido isso que temos ouvido."
"Como temos uma Assembleia muito fragmentada, com um partido que tem imensos deputados que nunca se sabe para que lado vai cair, aquilo que restava aos partidos é: 'bom, não vá isto passar, o Governo não quer, eu não apresento o projeto'. Só devem apresentar recomendações e resoluções, porque projetos-leis não podem apresentar porque se forem aprovados, estão a minar a atuação do governo, estão a governar a partir do Parlamento? Eu francamente não consigo ver as coisas assim", acrescenta.
