PS admite apresentar moção de censura adiante. Por enquanto, aposta no desgaste e nos esclarecimentos de Montenegro
Embora o voto do PS inviabilize a moção de censura do PCP (e apesar das pressões, Pedro Nuno Santos vai manter a posição), os socialistas não descartam apresentar uma moção própria mais tarde
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As críticas têm surgido mesmo dentro do PS. Há quem lamente que Pedro Nuno Santos tenha permitido que Luís Montenegro desse o dito por não dito quanto à moção de confiança, mas também por não apresentar uma moção de censura quando acusa o primeiro-ministro de não estar em exclusividade de funções - algo que vai contra a Constituição.
A direção PS (e, principalmente, o seu líder) entende que, por enquanto, “não faz sentido censurar” o Governo de Luís Montenegro, até porque as dúvidas quanto à empresa familiar do primeiro-ministro ainda estão “num plano ético e não à margem da lei”. Um dirigente e deputado socialista, que pertence ao núcleo duro de Pedro Nuno Santos, ouvido pela TSF, acrescenta que este é um momento para se perceber se a avença da Solverde é “apenas a ponta do icebergue ou o icebergue”.
Os socialistas apostam, por isso, no pedido de explicações de Luís Montenegro, que se tem refutado a responder às quatro perguntas que Pedro Nuno Santos já deixou ao primeiro-ministro, o que adensa as dúvidas quanto à idoneidade e ao elo de confiança com os eleitores.
Embora o voto do PS inviabilize a moção de censura do PCP (e apesar das pressões, Pedro Nuno Santos vai manter a posição), os socialistas não descartam apresentar uma moção de censura mais tarde, se aparecerem novos indícios que afetem Luís Montenegro ou se o próprio primeiro-ministro continuar sem esclarecer as dúvidas que pairam sobre a empresa.
Outro dirigente socialista nota que, em vista, pode estar o crime de tráfico de influências, até porque “o preço pago pela Solverde à empresa está bastante acima do valor de mercado”. Ora, o PS joga também com a possível entrada em cena do Ministério Público, que pode abrir um inquérito por denúncia anónima ou por iniciativa própria.
“Se aparecer um parágrafo da PGR, o Governo cai”, acrescenta o dirigente, numa referência ao último parágrafo da antiga procuradora-geral da República, Lucília Gago, que levou à demissão de António Costa no Governo de maioria absoluta.
Marcelo pode estar “à espera para ver no que dá”
Entre os socialistas reina também a estupefação pelo silêncio do Presidente da República, que adotava uma postura mais incisiva para com os ministros socialistas de António Costa. O antigo ministro das Infraestruturas, João Galamba, foi um dos que fez críticas públicas a Marcelo Rebelo de Sousa, nas redes sociais e o deputado Eurico Brilhante Dias, na TSF, lamentou os “dois pesos e duas medidas” do Presidente, questionando “onde anda o Presidente que praticamente exonerava ministros a partir de jornais”.
O PS entende que Marcelo Rebelo de Sousa pode estar na expetativa, “para ver no que dá” o caso Montenegro, que pode “tornar-se mais grave” e, aí sim, tomar uma posição pública.
Certo é que, nesta altura, o PS “não pensa em eleições”, embora “não tenha medo de ir a votos”. Um deputado socialista nota à TSF que, em caso de eleições, “o PS até poderia ganhar, mas a margem seria curta”. “E depois? Fica tudo na mesma, é impossível termos maioria com a esquerda”, acrescenta.
Pedro Nuno Santos convoca secretariado
Pedro Nuno Santos convocou o secretariado do PS, a direção do partido, para esta segunda-feira para discutir a instabilidade em torno do Governo de Luís Montenegro, e para ouvir os 25 elementos que compõem o órgão, de costistas a pedronunistas. A reunião tem início marcado para as 18h00. A coordenação política, o núcleo duro de Pedro Nuno Santos, costuma reunir-se às terças-feiras.
No sábado, o secretário-geral do PS ouviu o núcleo duro antes de reagir à comunicação do primeiro-ministro. Os conselhos não foram unânimes, mas Pedro Nuno Santos manteve a posição de princípio: não viabiliza moções de censura, mas vota contra moções de confiança.
Quanto às críticas que, entretanto, recebeu de militantes do PS, com o eurodeputado Francisco Assis que desafiou o partido a apresentar uma moção de censura, um dirigente socialista lamenta à TSF que “tanto critiquem o Pedro por ser um ‘esquerdista impulsivo’ como por ter ‘cabeça-fria’”.