Alexandra Leitão lembra ainda que a composição do Parlamento é o reflexo do voto dos portugueses
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“A estabilidade política só é um bem quando vamos no caminho certo”. As palavras são da líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, que rejeita que os socialistas tenham a obrigação de aprovar o Orçamento do Estado. E se o Parlamento está fragmentado, “a culpa é dos portugueses” que colocaram os votos nas urnas.
Os discursos começaram à mesma hora da entrevista da procuradora-geral da República. No jantar do PS, na Covilhã, o nome de Lucília Gago não entrou nas conversas: o foco está em contrariar o Governo de Luís Montenegro.
E com o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, na primeira fila, o palco foi para a líder parlamentar, Alexandra Leitão: “Querem fazer crer que ao PS compete apenas suportar o Governo em nome de um bem maior que é a estabilidade”.
Alexandra Leitão avisa, no entanto, que “a estabilidade não é um bem em si mesmo”. “A estabilidade política só é um bem quando vamos no caminho certo. A estabilidade política só é um bem quando é negociado e consensualizada. Não quando é imposta”, acrescentou.
O ónus está do lado do Governo, na narrativa socialista, a quem compete negociar para garantir a aprovação do Orçamento do Estado em novembro, em nome da “estabilidade política”. Até porque, no Parlamento, PS e PSD têm o mesmo número de deputados: 78.
“Mais do que afirmar-se contra as opções do Governo que considera erradas, o PS tem tentando influenciar proativamente a governação. Se isso colocar em causa algumas das medidas do Governo, pois a culpa não é do PS, mas dos portugueses, que votaram e criaram a composição que temos na Assembleia da República”, defendeu.
O reflexo do voto dos portugueses já contribuiu para a aprovação da proposta para o fim das portagens nas antigas SCUT, a partir de 2025, com a abstenção do Chega e os votos favoráveis da esquerda. Castelo Branco é um dos distritos beneficiados, e o presidente da câmara da Covilhã e líder da federação albicastrense, Vítor Pereira, aponta o dedo ao social democrata Hugo Soares.
“Como é que alguém com as responsabilidades do líder do grupo parlamentar do PSD pode um dia vir aqui e dizer-nos, olhos nos olhos, como teve a desfaçatez de dizer há poucos dias noutras paragens, que defender a abolição das portagens no interior é uma infantilidade? Mas que conceito de coesão territorial e social tem esta gente”, questionou.
Uma pergunta, em tom amargo, do autarca covilhanense par que chama ao distrito de Castelo Branco “o coração do interior do país”. O distrito escolhido pelo PS para as primeiras jornadas parlamentares da era de Pedro Nuno Santos.