"PS fica mole sempre que tem uma derrota eleitoral séria, mas crise de esquerda é mais funda"
No programa O Princípio da Incerteza, da TSF e CNN Portugal, Pacheco Pereira defendeu que o PS foi capturado pela AD
Corpo do artigo
A derrota do PS nas legislativas esteve este domingo em debate no programa “O Princípio da Incerteza”, da TSF e CNN Portugal. O historiador Pacheco Pereira defendeu que o PS foi capturado pela AD, enquanto o social-democrata Pedro Duarte atirou responsabilidade para a estratégia “sempre do contra” dos socialistas. Alexandra Leitão contestou e espera que nas autárquicas o rumo do eleitorado possa mudar.
OUÇA AQUI O PRINCÍPIO DA INCERTEZA
Pacheco Pereira começou por dizer que o “PS fica mole” sempre que tem uma derrota eleitoral “séria”. Ainda assim, desta vez “a crise da esquerda é mais funda” e vai além das explicações relacionadas com a liderança ou com o “pseudoradicalismo”, sublinhou.
“É sobre o que se está a passar com os jovens. Não é um problema de os conquistar, é perceber porque é que, por exemplo, o vocabulário dos jovens é cada vez menor. É perceber porque razão é que os jovens não leem jornais nem livros, mas conduzem-se inteiramente pelas redes sociais”, considerou.
Para Pacheco Pereira, “o mecanismo do ressentimento deixou de estar associado à luta de classes e aos conflitos sociais para passar a ser em grande parte um protesto contra a democracia”.
Pedro Duarte atirou, por sua vez, responsabilidades para “postura de esquerdização” e “política de ser sempre do contra” adotadas pelo PS.
“Foi uma postura constantemente de destrutiva, no sentido de ser permanentemente de nos colocar uns contra os outros. Qual era o desígnio principal que Pedro Nuno Santos assumiu na sua liderança? Combater a direita, isso pela negativa”, disse.
Pedro Duarte notou ainda que, embora o “erro original” seja do PS, há outros partidos políticos de esquerda, como o PCP e o Bloco de Esquerda, que “já estão a criar um inimigo”, nomeadamente pela possível revisão constitucional.
Tudo isto foram teorias constestadas pela socialista Alexandra Leitão.
“Eu acho que uma das coisas que o PS (...) tem de fornecer medidas e soluções concretas para os problemas reais das pessoas. E acho mesmo que é esse o discurso que é preciso fazer”, atirou, sublinhando que este é um trabalho que deverá já ser feito nas eleições autárquicas.
Sobre o resultado do partido nas legislativas, com o PS a cair a pique, Alexandra Leitão concluiu: “Acho que é uma reflexão da democracia, do Estado de direito e de todos aqueles partidos que defendem soluções desse espectro democrático, não populista.”
Segundo os resultados provisórios, o PS tem neste momento 58 lugares no parlamento, com um resultado de 23,38%, ou seja, 1.394.501 votos.
Com este resultado, o PS surge quase empatado com o Chega e, em comparação com os mesmos resultados do ano passado, também sem a emigração, perdeu mais de 365 mil votos num ano.
Este é o terceiro pior resultado da história do PS em termos de percentagem, tendo a marca só sido pior apenas em 1985, com Almeida Santos, e em 1987, com Vítor Constâncio.
No discurso no qual assumiu a derrota, o líder do PS assumiu a responsabilidade do resultado, disse que deixa de ser secretário-geral se “puder ser já” e que não quer "ser um estorvo nas decisões" que o PS tem que tomar.