Vasco Cordeiro afirma que "instabilidade existe" por culpa dos partidos à direita e que viabilizar um governo da AD "condicionaria a liberdade" do PS.
Corpo do artigo
O líder do PS/Açores, Vasco Cordeiro, anunciou esta sexta-feira que não vai viabilizar um governo da AD liderado por José Manuel Bolieiro, no arquipélago. A decisão foi tomada por unanimidade.
"Para nós hoje, como no passado, a vontade do povo açoriano não pode ser atropelada pelo interesse político passageiro, a tática partidária interesseira ou o serviço a interesses externos à nossa autonomia", começou por dizer Vasco Cordeiro, em declarações aos jornalistas, sublinhando que os socialistas não fogem "às responsabilidades de ser oposição".
"O caminho que agora se oferece ao PS/Açores (...) é de, com humildade democrática, honrar a confiança depositada nos nossos valores e princípios", prosseguiu.
Para Vasco Cordeiro, "não é aceitável a ideia de que escolhido um projeto político, todos os outros se lhe devem submeter até às próximas eleições". "Isso é um absurdo."
"É importante não esquecer que os Açores vivem um momento de instabilidade por três razões essenciais: a coligação PSD-CDS-PPM, Chega e Iniciativa Liberal não foi capaz de manter um apoio contínuo ao poder regional. (...) Os partidos de direita e extrema-direita não foram capazes de se entenderem. Em segundo, o Chega após ter sido acarinhado (...) cresceu eleitoralmente e assume-me agora como o fiel da balança da direita nos Açores. Em terceiro, a coligação do PSD-CDS-PPM fracassou em alcançar uma maioria absoluta nas eleições de 4 de fevereiro", enumerou.
Vasco Cordeiro argumentou que viabilizar um governo da AD, "em nome da suposta estabilidade", colocaria o PS na posição de viabilizar "orçamentos anuais e planos de investimento" e "condicionaria a liberdade" do partido nessas situações.
"Acresce, nesse cenário, a consequência política da subversão total e absoluta da vontade dos açorianos. O principal partido de oposição seria o Chega e o PS/Açores passaria a muleta política da coligação PSD-CDS-PPM", disse.
Nestas declarações aos jornalistas, o líder socialista criticou ainda a pretensão "absolutamente ridícula" de quando o PS perde eleições ter uma "suposta responsabilidade de apoiar o PSD para evitar que o Chega o chantageie".
A instabilidade é responsabilidade de quem criou o quadro político em que vivemos.
Esta sexta-feira o jornal Público adiantou que a posição do partido também pode vir a ser aplicada nas eleições legislativas de 10 de março.
Segundo a mesma fonte, os socialistas não querem permitir que o Chega se apresente como a única alternativa, em futuros momentos, para "negociar medidas concretas e leis estruturais, como orçamentos regionais".
Além disso, o PS acredita que ao viabilizar o governo de José Manuel Bolieiro estaria a "normalizar" o Chega, dando espaço para "alimentar a imagem de ser a única oposição aos partidos do sistema e André Ventura poder fazer a propaganda de que há um acordo de bloco central dos partidos do regime assente em compromissos não assumidos publicamente".
O novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, já tinha sugerido esta quinta-feira que os socialistas não iam viabilizar o Governo minioritário do PSD, nos Açores. Numa conferência organizada pelo jornal ECO, no Porto, Pedro Nuno disse que "a pressão sobre o PS tem sido gigante" e que é preciso "começar também na vida política a ser coerentes e exigir coerência aos políticos".
No mesmo dia, o PSD/Açores afirmou que já viabilizou um Governo minoritário do PS na legislatura de 1996-2000, ao abster-se na votação de três orçamentos regionais apresentados pelo executivo socialista. No entanto, Pedro Nuno respondeu: "É falso."
"O PSD votou contra o Governo do PS em 1996 e, em 2020, o PS ganhou as eleições e o PSD aliou-se ao Chega para que o PS não governasse e, por isso, temos que ter aqui alguma justiça", argumentou o secretário-geral do PS.
PS/Açores vota contra programa do XIV Governo regional
O líder do PS/Açores anunciou também esta sexta-feira que o partido não vai aceitar o programa do XIV Governo regional.
"O PSD e o Chega estão a tratar os Açores não em função do que interessa aos açorianos, mas sim em função do que interessa aos diretores nacionais desses partidos, nomeadamente para aquilo que lhes interessa para as eleições de 10 de março", defendeu Vasco Cordeiro.
"Por tudo isto, a decisão do PS/Açores sobre a votação do programa do XIV Governo regional dos Açores (...) é a de voto contra. A decisão foi votada por unanimidade, quer na reunião do secretariado regional, quer na reunião da comissão regional do PS/Açores", concluiu.
Questionado sobre se Pedro Nuno Santos influenciou a decisão, Vasco Cordeio respondeu "não" e sublinhou que aquilo que o secretário-geral "respeitaria sempre em qualquer circunstância a decisão que o PS/Açores tomasse".
A coligação PSD/CDS/PPM venceu as eleições regionais dos Açores, com 42,08% dos votos, e elegeu 26 deputados, mas ficou a três da maioria absoluta, segundo dados oficiais provisórios.
José Manuel Bolieiro, líder da coligação de direita, no poder no arquipélago desde 2020, disse que irá governar com "uma maioria relativa" nos próximos quatro anos.
O PS foi a segunda força no arquipélago, com 23 mandatos (35,91%), seguido pelo Chega, com cinco mandatos (9,19%).
O Bloco de Esquerda (2,54%), a Iniciativa Liberal (2,15%) e o partido Pessoas-Animais-Natureza (1,65%) elegeram um deputado regional cada, completando os 57 eleitos.
O representante da República para os Açores, Pedro Catarino, prevê ouvir os partidos políticos com representação na Assembleia Legislativa nos dias 19 e 20 de fevereiro, depois de publicados os resultados oficiais.
Notícia atualizada às 11h51