PS pede "avaliação sobre o que tem acontecido na AR". PSD alerta para "radicalização" e defende "maiorias" no Parlamento
Em entrevista à TSF, os deputados Mariana Gonçalves e António Rodrigues foram confrontados com a crise política e questionados sobre as perspetivas dos partidos que integram com eleições legislativas antecipadas no horizonte
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A deputada socialista Marina Gonçalves alertou esta quarta-feira para a necessidade de o país "avaliar o que tem acontecido na Assembleia da República", notando que o debate da moção de confiança "não foi um momento bonito" e pode pôr em causa a confiança dos portugueses nas instituições democráticas. Já António Rodrigues, deputado do PSD, confessou olhar sem "estranheza" para o pingue-pongue político, até porque as posições estão "cada vez mais radicalizadas e crispadas", defendendo a necessidade de "maiorias" no Parlamento.
Em entrevista à TSF, Marina Gonçalves adianta que os socialistas vão "explicar", esta quarta-feira, ao Presidente da República "a situação" em que o país atravessa. "São reuniões normais e naturais neste contexto. Vamos explicar e aguardar que o chefe de Estado tome a iniciativa quanto ao futuro do país, tendo em conta o cenário real e objetivo", afirma, sublinhando que o Governo "não quis" retirar a moção de confiança e "preferiu" ir a eleições, em vez de "esclarecer o Parlamento, como era a proposta do PS".
A deputada socialista lamenta que o país "provavelmente" vá para eleições, mas, garante que o PS "está preparado": "Lamentamos que esse seja o cenário, mas estamos preparados." Marina Gonçalves recorda ainda que a queda do Governo aconteceu porque o Executivo "apresentou a moção de confiança, já sabendo qual seria o resultado".
Já o deputado social-democrata António Rodrigues adianta que o partido vai explicar a Marcelo Rebelo de Sousa a "situação decorrente do chumbo da moção de confiança" e esperar que o Presidente ouça os restantes partidos. Na impossibilidade de constituir Governo, o PSD também vai mostrar-se "disponível" para eleições antecipadas.
Já sobre se Montenegro é o candidato do partido às legislativas previstas para maio, António Rodrigues sublinha que o "Governo dele foi chumbado pelo Parlamento, o que não quer dizer que não mereça a confiança dos portugueses".3
"Sem qualquer margem para dúvidas, será ele [Montenegro] candidato a primeiro-ministro nas próximas eleições", assegura.
Questionado na TSF sobre se uma eventual derrota do PSD nas eleições legislativas dita o abandonado da liderança do partido por parte de Luís Montenegro, o social-democrata "não vê razão" para tal, argumentando que "é um líder legítimo, com capacidades demonstradas publicamente". Admite que o PSD vai a eleições "para ganhar", mas sublinha partido "está unido à volta de Luís Montenegro" e o próprio "sente isso".
Sobre o debate acesso desta terça-feira na Assembleia da República, António Rodrigues encara com naturalidade a situação. Na sua perspetiva, o que aconteceu "foi o Parlamento a ser Parlamento". Admite que esta instituição reflete "o sentimento dos portugueses" e, por isso, não entende este tenha sido um episódio "estranho", até porque a "política portuguesa está cada vez mais radicalizada e crispada".
É cada vez mais difícil conseguir ter um entendimento entre vários partidos que assumem posições cada vez mais suas e menos de conjunto
Relativamente ao debate da moção de confiança, a deputada admite ter "dificuldade em entender o resumo" feito por António Rodrigues.
"O Governo tentou negociar o silêncio do Parlamento. Não estávamos num debate de negociação nem estávamos a discutir uma CPI, estávamos a discutir uma moção de confiança", afirma, acusando os partidos do Executivo de "vitimização".
"Foi o Governo que preferiu negociar o silêncio para não ir a eleições", atira, sublinhando que o PS foi "responsável" ao não viabilizar as duas moções de censura. "O Governo decidiu apresentar moção de confiança, foi um ato de cobardia, colocando no Parlamento, o ónus de uma decisão que devia ser feita internamente pelo Governo", considera.
Considerando que a sessão de terça-feira foi "um teatro", Marina Gonçalves refere que o PSD e o CDS é que são "radicais". "O radicalismo com que foi colocada a questão, tentando trazer um tema que não era do debate para tentar fugir à responsabilidade... preferiam o silêncio, o que mostra quem foi o radical na sala", diz.
O social-democrata devolve a acusação, lamentando que não tenha havido consenso para que a moção de confiança fosse viabilizada, apesar do chumbo de duas moções de cesura prévias, deixa um alerto.
Não foi possível criar uma posição, nem sequer digo valorizar ou votar favoravelmente a moção de confiança, mas pelo menos que os partidos mais responsáveis se tivessem abstido. Não o quiseram fazer, estão no seu direito legítimo, mas responderão pelo radicalismo das suas atitudes
Sobre as propostas social-democratas para interromper a sessão, explica que, "na impossibilidade de conseguir um entendimento prévio, foi publicamente" que Montenegro procurou fazê-lo. Lembra que o próprio PS "desafiou" várias vezes o Governo a recuar na apresentação da moção de confiança e insiste que o primeiro-ministro "tentou evitar até ao limite do possível" a votação.
Apesar de "não ser agradável" ir agora a eleições, afirma ainda que os partidos não podem nunca "descurar" a importância de perguntar aos portugueses "o que querem para o futuro" e é isso mesmo que está agora em causa.
Questionada sobre uma eventual derrota do PS no caso de eleições antecipadas, Marina Gonçalves é clara: "O PS vai vencer, não coloco outro cenário em cima da mesa." A deputada acredita que o ambiente de crispação que se sentiu na terça-feira "não afastará" os portugueses das urnas. Ainda assim, assegura: "É preciso avaliar o que tem acontecido na AR, ontem não foi momento bonito, lamentamos o que aconteceu, os portugueses têm de acreditar no que o Parlamento representa e que estamos concentrados na resolução dos problemas dos portugueses."
Já António Rodrigues é mais pessimista e defende que o "principal desafio" para o próximo ato eleitoral vai ser explicar aos portugueses que é "necessário participarem para escolherem o seu futuro". O social-democrata considera serem "precisas" maiorias no Parlamento, para que a situação que o país vive agora não se venha a repetir.
"Durante todo este ano, foram raros os momentos em que se conseguiram criar maiorias estáveis e fortes dentro do Parlamento", assinala.
Mostra, por isso, confiança de que no próximo ato eleitoral possa emergir uma "solução verdadeiramente representativa, mas, acima de tudo, com força suficiente" para fazer prevalecer as suas políticas.