A GNR enalteceu ainda a importância de não se vender álcool nas zonas VIP dos estádios, o que acontece atualmente.
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As forças de segurança aplaudem globalmente a proposta de lei de combate à violência no desporto, mas salientam que é preciso "adequar a redação da lei às várias realidades" de espetáculos desportivos, já que diferentes fatores podem determinar diferentes riscos, e mostram-se "frontalmente" contra a venda de bebidas alcoólicas nos recintos.
Vedar o acesso a espetáculos desportivos por elementos não inscritos, equiparar os artefactos pirotécnicos ao regime das armas, alargar as regras aos recintos de treino, locais de estágio ou de festejos por vitórias de equipas são algumas das propostas apontadas pelas forças de segurança.
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Ouvido ao início da tarde pelo grupo de trabalho que avalia a lei na Comissão Parlamentar de Desporto, o superintendente Pedro Neto Gouveia, responsável da segurança privada da PSP, deixou clara essa oposição por parte da polícia, tendo em conta que "a violência é uma realidade transversal a todas as modalidades".
"Quem reage com violência pertence aos mesmos grupos e vai movimentando-se entre as várias modalidades, mas sempre pertencendo à mesma ideologia de grupo", começou por esclarecer. Deste modo, o membro da PSP deixa claro que "é muito importante que não possamos dar volte-face naquilo que tem sido o edifício legislativo do combate à violência no desporto".
Sobre o álcool, o superintendente Pedro Neto Gouveia foi perentório: "A PSP está contra a possibilidade de se fazer a venda de álcool. É uma falsa questão o baixo teor e do baixo teor, é álcool e, desde que tenha álcool, altera o indivíduo e somos contra."
Na mesma linha e ouvido também esta tarde na mesma comissão, o tenente-general Pires da Silva, da GNR, considerou que a venda de álcool não deve ser permitida, mesmo nas chamas zonas VIP dos estádios, onde os adeptos têm acesso a essas bebidas.
"Relativamente ao álcool, a nossa posição também é contrária ao uso do álcool", esclareceu, frisando que "esta diferença [referindo-se às zonas do estádio] que cultivamos que nos leva a termos problemas noutras áreas".
Também ouvida pelos deputados do grupo de trabalho que avalia a nova lei do combate à violência no desporto, a Associação dos Diretores de Segurança concorda que nem todos os espetáculos desportivos são iguais, mostrando-se contra a obrigatoriedade de videovigilância nos recintos, mas é mais branda na questão do álcool.
"Os limites têm de ser muito bem definidos, mas não gostávamos que fosse totalmente posta de parte esta questão. Tem ainda uma vantagem: com o consumo de bebidas alcoólicas de baixo teor conseguimos que as pessoas venham mais cedo para dentro dos estádios e que não fiquem a beber nas rulotes", explicou Nuno Constâncio.
A ideia de haver álcool nos recintos desportivos é defendida por clubes de futebol para aumentar as receitas e o Governo revelou estar sensível à preparação de uma lei que quer impor regras mais apertadas para os adeptos.
Ouvido na segunda parte das audições do grupo de trabalho da Comissão, José Pereira, da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, lembra que a venda de álcool nos recintos desportivos "é uma realidade em toda a Europa", havendo países conservadores, como Inglaterra, onde a lei permite a venda de álcool nos estádios, e defende uma posição distinta da das forças de segurança. Garante ainda José Pereira que "não há nenhum estudo que indique que o consumo de bebidas alcoólicas aumenta a violência no desporto".
"Eu acho que as pessoas têm uma propensão maior ou menor para a violência. Se eu for uma pessoa pouco propensa à violência, tanto o sou quando estou são como quando estou mais alcoolizado, da mesma maneira que a pessoa que é violenta quando está sã, objetivamente que quando está alcoolizada vai ter esse tipo de comportamento das mesmas", esclarece.
Noutra audição, o responsável da Confederação Portuguesa das Associações de Treinadores deixou um apelo aos deputados da Comissão da Juventude e Desporto por uma "clarificação da lei", salientando que, os "riscos de episódios de violência" existem quer entre adeptos, quer entre jogadores, responsáveis dos clubes ou equipas de arbitragem.
Já Alexandre Gonçalves, da Associação Portuguesa de Árbitros, pediu "tratamentos diferentes para aquilo que é diferente", lembrando a "dificuldade existente na arbitragem de jogos das camadas mais jovens", onde "muitos pais são mais violentos" do que adeptos integrados nas claques.