“Qualquer tentativa de reparação por meios económicos nunca será suficiente para as antigas colónias”
Luís Fonseca, antigo secretário executivo da CPLP e preso político, lamenta, em declarações à TSF, que a memória das lutas pela liberdade “não esteja a ser salvaguardada”.
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Os alertas são do antigo secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e preso político, Luís Fonseca, em resposta à discussão que surgiu em Portugal pela mão de Marcelo Rebelo de Sousa. A tentativa de reparações históricas por meios financeiros “não é suficiente” para dar o que foi retirado às antigas colónias. Em declarações à TSF, em Cabo Verde, Luís Fonseca fala, sobretudo, numa questão ética e política.
Luís Fonseca foi um dos mais de 500 presos políticos no campo de concentração do Tarrafal e enveredou depois por uma carreira como diplomata. Lembra que a discussão sobre as reparações históricas não é de agora.
“Fala-se de reparação como se fosse uma indemnização por um dano. Mas não é isso. O processo é extremamente complexo”, avisa.
O valor do que foi retirado às populações “é demasiado para que seja possível uma reparação”, num curto espaço de tempo, sublinha Luís Fonseca, que destaca há um aspeto ainda mais relevante: a espoliação cultural.
“Qualquer tentativa de reparação por meios económicos, por mais importantes e necessários que sejam, nunca será suficientes para trazer o nível de conforto das antigas colónias”, aponta em declarações à TSF.
“Não tem sido dada atenção à história das lutas”
Luís Fonseca será o porta-voz dos presos políticos, no cinquentenário da libertação do Tarrafal, numa cerimónia que conta com Marcelo Rebelo de Sousa. O diplomata lamenta que a memória não esteja a ser salvaguardada.
“Não tem sido dada atenção à história das lutas. Estivemos presos porque havia uma luta de libertação. Essa luta não é suficientemente reconhecida pelas novas gerações porque não há interesse em passá-la às gerações futuras”, critica.
O diplomata espera, por isso, que a cerimónia do cinquentenário da libertação dos presos do Tarrafal, que além do Presidente português conta com o chefe de Estado de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, chame a atenção dos vários países para a luta pela liberdade de há 50 anos.