Antigo líder socialista pede parcimónia nas promessas eleitorais e respeito pelos eleitores, falando verdade. No congresso dos agentes de seguros, António José Seguro alerta para os riscos do populismo e critica “doideira” de não se poder fazer acordos.
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“É um enorme prazer para mim estar no meio de tantos seguros.” É com uma tirada quebra-gelo que António José Seguro coloca de lado a parcimónia nas aparições públicas desde que deixou a liderança do PS e logo em altura eleitoral para defender entendimentos e alertar para riscos de populismo.
A discursar no Congresso Nacional dos Agentes e Corretores de Seguros, em Lisboa, o antigo secretário-geral do PS muito falou sobre economia e sobre democracia, mas não deixou também de dar uns toques na política e no atual contexto eleitoral.
“Vou ser muito comedido, está bem?”, pergunta à plateia, para notar logo em seguida que “cuidar da democracia” implica “mais parcimónia nas promessas eleitorais que se fazem” e “mais respeito pelos eleitores, falando verdade e apresentando propostas exequíveis”.
E a lista segue: “mais transparência nos dinheiros públicos para que fique claro que, quem gere o que não é seu, o faz com grande rigor; prestação de contas, em vez de desculpas, assunção de responsabilidades, falhou”.
Para António José Seguro há uma pergunta na ponta da língua: “Que doideira é esta que não se pode fazer acordos e entendimentos?” Questiona o socialista que, “na Europa, cooperamos com outros países, nalguns casos até são regimes híbridos, e em Portugal não somos capazes de nos entender e dialogar? Parece que é um sinónimo de fraqueza”.
“As campanhas são tempos de escolhas – e cada um de nós vai fazer as suas escolhas – mas a seguir não há possibilidade de convergirmos em três ou quatro aspetos? De nos pormos de acordo? Nós precisamos de um propósito comum”, alerta Seguro.
O antigo secretário-geral socialista ainda deixou um alerta sobre o populismo, até considerando que “na outra encarnação” dele, enquanto político no ativo, também pode ter tido “algum bocadinho de populismo, alguma frase que escapou”. No entanto, os tempos agora são mais graves.
“Se eu ingerir involuntariamente 0,0000001% de um veneno, posso ter problema no estômago, posso ter de ir ao hospital, mas não morro. Mas, se o veneno for numa dose superior, eu morro. Um dos problemas é que hoje, na minha opinião, a tensão entre o ideal de democracia e o funcionamento em concreto é grande porque a distância é grande, a desilusão é grande e, portanto, a dimensão do populismo é muito grande”, sublinha.
António José Seguro que confrontado pelos jornalistas, no final, não quis acrescentar mais ao que disse no palco, como se vai ou não participar na campanha ou entrar em detalhes sobre algum dos protagonistas.
Mas ainda no palco, criticou a “cultura de trincheiras” na política portuguesa, disse que as televisões têm responsabilidade nessa mesma cultura e não afastou uma corrida presidencial quando questionado pelo moderador: “A única coisa que posso dizer é que eu sou uma pessoa livre e o facto de eu ter opinião não faz de mim candidato absolutamente a nada, faz-me apenas ser uma pessoa que, se for útil, posso ajudar as pessoas a refletir sobre preocupações”.