Quem não quer a sessão solene do 25 de Abril? "Quem a quer substituir pela mentira e quer a sua degradação"
No Fórum TSF, o BE diz que a questão de assinalar o fim da ditadura é "entre quem quer celebrar a democracia e quem a quer substituir pela gritaria". Já o Chega garante "não ter absolutamente nada contra" e a IL assegura que, com ou sem sessão solene, "o povo estará na rua"
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Com tudo em aberto relativamente à realização (ou não) da tradicional sessão solene do 25 de Abril no Parlamento, que será dissolvido, os partidos políticos garantem no Fórum TSF que não há motivos para que não se assinale a data.
O Bloco de Esquerda (BE) aponta que a Assembleia da República (AR) comemorou recentemente, de forma solene, o 25 de Novembro, sublinhando que não compreenderia uma eventual anulação da cerimónia que assinala a Revolução dos Cravos.
Por isso, Fabian Figueiredo desafia o presidente da AR, José Pedro Aguiar-Branco, a pronunciar-se "favoravelmente à realização desta iniciativa". Criticando a posição "muito vocal e muita clara" do Chega neste tema — que na quarta-feira, em Conferência de Líderes, pediu uma "reflexão" —, para o líder parlamentar do BE só há duas opções:
É uma decisão entre quem quer celebrar a democracia na sua diversidade, na sua pluralidade, quem valoriza o confronto de ideias que está no ADN da democracia, e de quem a quer substituir pela gritaria, pela mentira e quer promover a sua degradação.
Já pelo PS toma a palavra no Fórum TSF Alexandra Leitão (líder parlamentar), que está "convencida" que, na próxima Conferência de Líderes, Aguiar-Branco vai defender que haja comemorações do 25 de Abril na AR.
Pelo PCP, António Filipe lembra que as regras do Parlamento prevêem que a sessão solene do 25 de Abril seja "obrigatória". "Num ano com particular significado", em que se assinalam 50 anos desde as primeiras eleições livres em Portugal, resta saber, segundo o deputado comunista, qual é o "formato adequado para a fazer".
Por sua vez, Rui Tavares, fundador e deputado do Livre, não esconde a indignação com as dúvidas que pairam sobre o celebrar ou não do "regime que até agora mais liberdade deu aos portugueses": "Entristece-me, surpreende-me e, de certa forma, embora nós estejamos habituados agora a banalizar certos sentimentos, revolta-me um pouco que haja sequer esta questão." E avisa que o "autoritarismo e a censura estão certamente a regressar".
À direita, a Iniciativa Liberal (IL) não tem dúvidas. "Obviamente que a Assembleia da República deve cumprir o seu ritual anual", independentemente das circunstâncias em que se encontra, acredita o deputado Rodrigo Saraiva, acrescentando:
O povo estará na rua à tarde e os seus representantes estarão na Assembleia da República a celebrar o 25 de Abril. Portanto, é uma sessão solene com todos os 230 deputados ou, pelo menos, [com] aqueles que se orgulham da nossa democracia. Quem não quiser que haja esta sessão é porque embirra com a democracia e não se percebe porquê. A Assembleia da República tem de continuar a funcionar. A vida dos portugueses não pará e, portanto, a vida do Parlamento também não pará.
Da parte do Chega, o deputado Rodrigo Alves Taxa garante que o partido "não tem absolutamente nada contra" as comemorações oficiais dos 51 anos do fim da ditadura. Mas fala, "fruto do calendário das eleições", na possibilidade de "equacionar um novo modelo".
O PSD não respondeu ao convite para participar no Fórum TSF.
Já no Conselho de Líderes da TSF, Inês Sousa Real, deputada única do PAN, defende que "é fundamental que não se silencie os partidos políticos".
Paulo Núncio, líder parlamentar do CDS, não se opõe, referindo apenas que "é importante ter em conta" que o 25 de Abril este ano coincide com a altura de campanha eleitoral.
A Conferência de Líderes deverá tomar, esta quarta-feira, uma decisão final sobre as habituais comemorações da Revolução dos Cravos na AR - que até hoje não se realizou por quatro vezes.

