OE2019: "À quarta vai ser mais fácil negociar", é a resposta de Costa à esquerda
No parlamento, o primeiro-ministro garantiu à esquerda que não falha compromissos e que o que reduziu o défice foi "emprego, emprego, emprego". "Legislatura ainda não chegou ao fim", avisa.
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O debate quinzenal com o primeiro-ministro começou com uma intervenção de António Costa na qual o chefe do Governo respondeu, desde logo, aos receios da esquerda sobre a revisão das metas do défice para este ano, sublinhando que "na base dos resultados, no défice e na dívida pública não está qualquer corte, nem falta qualquer compromisso assumido".
Mas, das bancadas de BE, PCP e PEV ouviram-se várias vezes questões sobre o "porquê" de o Governo alterar - com o Programa de Estabilidade apresentado na semana passada - a previsão de défice inscrita no Orçamento do Estado para este ano, que contou com os votos favoráveis dos parceiros da esquerda.
"Nós estamos de acordo que existe folga, estamos divididos é sobre o que fazer com ela", atirou Catarina Martins, coordenadora do BE, que insistiu na necessidade de alocar verba ao investimento nos serviços públicos. Na resposta, António Costa, que foi dizendo a bloquistas e comunistas que "ainda falta" tempo para o fim da legislatura, afirmou: "A folga que existe é saber que vamos poupar 74 milhões de euros nas despesas com juros da dívida, isso é que é folga", disse, assinalando que essa será uma verba utilizada para investir em áreas como a saúde, a educação ou a cultura.
Ainda à esquerda, e depois dos esclarecimentos dados a Catarina Martins, foi depois o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, a insistir no tema, com o líder comunista a dirigir-se ao primeiro-ministro com uma ideia: não vale a pena o Governo falar em "compromissos assumidos", porque o que conta é "cumprir os compromissos que há com os portugueses". E, lembrando o "compromisso" do Governo em relação às longas carreiras contributivas, Jerónimo de Sousa atirou: "Há soluções além do fundamentalismo monetarista do Euro".
Acolhendo a crítica, o primeiro-ministro tentou, no entanto, tranquilizar o secretário-geral do PCP, e, aludindo ao "clássico" de futebol do passado fim de semana, atirou: "Todos sabemos bem que os jogos têm uma primeira e uma segunda parte e que esta legislatura ainda vai a meio", disse, afirmando, contudo, que faz parte do plano do Governo "garantir a irreversibilidade" de algumas das medidas aplicadas e que foram aprovadas pela esquerda.
Mas, se BE e PCP já tinham carregado sobre o assunto e questionado António Costa sobre a "mudança de estratégia" por parte do Governo, foi com a deputada Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista "Os Verdes", que o primeiro-ministro tentou, de vez, colocar uma pedra sobre o assunto e sublinhar a importância das "posições conjuntas" assinadas entre PS, PCP, BE e PEV.
"Foi uma saudade que lhe bateu?", pergunta Heloísa Apolónia
Referindo-se ao acordo assinado entre Rui Rio e António Costa sobre fundos comunitários e descentralização, Heloísa Apolónia, deputada do PEV, deixou a pergunta António Costa: "Essa opção do PS de negociar com o PSD o que significa, alguma saudade que lhe bateu ou uma tentativa ingénua de branquear as responsabilidades que o PSD teve na tragédia do nosso país?".
Na resposta, o primeiro-ministro garantiu: "Nem saudades nem vocação para o 'OMO' lava mais branco", disse, justificando a decisão com "matérias que transcendem claramente o horizonte do acordo desta legislatura e até da próxima, como a negociação do quadro financeiro plurianual, que tem de merecer o consenso social mais alargado possível".
Já no final do debate quinzenal, e tal como o BE já tinha avisado em relação à negociação orçamental, Heloísa Apolónia, do PEV, insistiu na necessidade de António Costa dar ouvidos às propostas da esquerda e mostrar-se disponível para negociar, salientando: "Na negociação do Orçamento do Estado espero nunca ouvir o Governo dizer que não pode ser porque o défice tem de ser 0,2%, isso não nos vai condicionar".
A concluir a intervenção, o primeiro-ministro, com alguns risos na bancada do Governo, acabaria por afirmar: "À quarta vai ser mais fácil negociar",disse, perspetivando o caminho até ao início das negociações do Orçamento do Estado para 2019 e, com isto, dando um claro sinal à esquerda: de que, apesar das divergências, a negociação orçamental poderá não ser tão difícil como foi no passado.
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