Raimundo quer PCP de novo em 'geringonça' para "obrigar o PS a fazer o que não quer"
O secretário-geral comunista pretende pôr os socialistas a aprovar a descida do passe intermodal para 20 euros, com a travessia do Sado incluída. Paulo Raimundo assume também o objetivo de voltar a colocar "Os Verdes" no Parlamento.
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“Gosto disto. Gosto mais disto do que dos debates”, assume Paulo Raimundo, enquanto percorre o centro da cidade, distribuindo panfletos, abraços e tiradas humorísticas por quem com ele se cruza na arruada da CDU.
É mesmo na rua que Paulo Raimundo gosta de estar e aqui, em Setúbal, a “jogar em casa”, é campeão. “O Cristiano Ronaldo? Não. JJ, se faz favor! Sou JJ!”, brinca.
O novo líder comunista sabe, ainda assim, que as botas que tem para calçar são grandes. “Não é fácil”, admite, quando é comparado ao antecessor. “Jerónimo é Jerónimo. É aquela máquina do terreno, aquela máquina do contacto”, afirma.
“O meu camarada Jerónimo tem umas características extraordinárias. Faz muita falta”, reconhece, mas acrescenta, logo de seguida, que o antigo secretário-geral “também anda aí, a dar ajuda nesta batalha”, prometendo que hão de cruzar-se ao longo da campanha.
E conselhos? Recebeu-os de Jerónimo de Sousa? “Não, não preciso”, responde Raimundo. “Ele bate-me no peito e diz-me assim: 'Sê como és.' E pronto, e eu sou como sou. Para o bem e para o mal.”
E, para o bem e para o mal, Paulo Raimundo atreve-se a falar daquilo que, afirma o líder comunista, querem que se fale. “De como é que vai ser a geometria. Como é que vão ser os arranjos, a 11 de março”.
Para isso, pede que “voltemos a 2015”, quando a então “geringonça” se entendeu e permitiu que fosse posto em prática o alargamento do passe social intermodal – que hoje, por 40 euros, permite viajar pelos 18 municípios da área metropolitana de Lisboa.
“O PS não queria nem nunca quis”, atira Paulo Raimundo. “Foi o número de deputados que nós tivemos em 2015 que obrigou o PS a vir a essa medida extraordinariamente importante para as populações.”
E, por isso, Paulo Raimundo quer repetir essa “geometria” após estas eleições. Formando uma nova “geringonça”, o líder comunista deixa já a promessa.
“O mesmo PS que rejeitou vai ser obrigado – mas é que vai mesmo ser obrigado! - a baixar para 20 euros o valor do passe e à introdução da travessia do Rio Sado no passe intermodal”, assegura. “Vai vir! Porque nós vamos obrigá-los!”
Para isso, contudo, é preciso que haja uma maioria de forças de esquerda – e a direita está a sacar das armas para crescer. O aparecimento de Pedro Passos Coelho na campanha do PSD não pode mexer com estes planos? “Deve ter mexido lá um lugar naquele comício do Algarve, foi preciso pôr mais um lugar para sentar o Passos Coelho, presumo. Deve ter sido só isso o que mexeu mais”, brinca o líder comunista. “É revelador”, continua, já mais sério.
“Ainda bem que veio, porque assim ninguém fica com dúvidas do que se quer por parte do PSD, do CDS, e também do Chega e da Iniciativa Liberal – que olham para Passos Coelho como se fosse o 'El Dorado'." O que querem, aponta Paulo Raimundo, é o regresso dos tempos da troika. Mas esses, no que depender do PCP, garante o secretário-geral comunista, não são para voltar.
Em vez disso, quem o PCP quer ver regressar é o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), parceiro de coligação dos comunistas. No final da arruada, Paulo Raimundo segue para um almoço em Palmela e é lá que, perante a própria Heloísa Apolónia, deixa o repto aos setubalenses.
“O povo do distrito de Setúbal tem a oportunidade e, eu diria, a responsabilidade e o dever de voltar a pôr o PEV na Assembleia da República e eleger a nossa amiga Heloísa Apolónia”, declarou. “É uma oportunidade que não pode ser desperdiçada.”
Heloísa Apolónia – que, depois de 24 anos no Parlamento, falhou a eleição como deputada em 2019 - é agora a número três da lista da CDU por Setúbal, encabeçada pela atual líder parlamentar comunista, Paula Santos.