"Retornados: e a vida nunca mais foi a mesma." As histórias até agora não contadas dos que vieram
"Retornados: e a vida nunca mais foi a mesma" é um conjunto de 21 histórias de fuga e sobrevivência, num dos mais agitados períodos sociais e políticos da história de Portugal. A TSF falou com a autora.
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Mais de meio milhão de portugueses, maioritariamente brancos, fugiram ou foram expulsos das antigas colónias durante os processos de independência de Angola e Moçambique, especialmente. Muitos nunca contaram na íntegra as histórias dos últimos dias antes da viagem, da própria viagem e, depois, da forma como foram recebidos no que sobrava de Portugal depois do 25 de Abril.
A jornalista Marta Martins Silva, filha de uma dessas viagens, decidiu ouvir uma vintena de relatos e registá-los em livro.
São histórias de quem não concordou com a saída, mas precisou de salvar a vida. E de quem se sentiu sem pátria, porque foi empurrada do sítio onde nasceu e viveu, e depois empurrada e descriminada, no sítio onde lhe disseram que era o país natal.
Numa conversa com a TSF, Marta Martins Silva diz que as histórias estão enterradas na memória de muitos e se alguém não for desenterrá-las vão perder-se para sempre, porque nem os familiares conhecem alguns detalhes.
Estes 600 mil portugueses mudaram muita coisa na sociedade portuguesa, pelos hábitos que trouxeram das antigas colónias, tanto ao nível social e cultural, como económico. Mas o momento político que se vivia e o país ainda muito pobre que os recebeu dificultou muito a integração.
Houve familias inteiras acolhidas por familiares que nunca as tinham visto. E, depois, houve uma desconfiança pela forma como o Estado montou o acolhimento destes cidadãos, criando sentimentos de desigualdade dos que em Portugal continental nada tinham e viam o Estado apoiar os que chegavam.
Na conversa com a TSF, Marta Martins Silva conta que são outros que fizeram a viagem, mas ainda não contaram a história, que agora vão ter com ela, a agradecer a revelação destas histórias.