Retrocesso na política de imigração? Leitão Amaro junta-se a jornalistas migrantes para refletir sobre impacto das novas regras
As perguntas para o governante ainda estão a ser trabalhadas, mas os temas estão escolhidos. A brasileira Juliana Iorio assegura à TSF que os jornalistas migrantes sabem exatamente sobre que assuntos querem respostas
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O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, vai estar reunido com jornalistas migrantes na sexta-feira, para refletir sobre "o impacto das novas políticas da imigração".
O encontro, que está marcado para as 16h00, nos Jardins do Bombarda em Lisboa, vai encerrar o Migrant Media Project, "Portugal pelos Olhos de Jornalistas Migrantes", uma iniciativa da Associação Pão a Pão.
As perguntas para o governante ainda estão a ser trabalhadas, mas os temas estão escolhidos. A brasileira Juliana Iorio assegura que os jornalistas migrantes sabem exatamente sobre que assuntos querem respostas.
"A atração de imigrantes altamente qualificados, em detrimento dos menos qualificados, a questão do reagrupamento familiar, a questão da deportação de imigrantes com anuência do Governo e também vamos tocar um pouco na questão do aumento do discurso de ódio e do medo que se tem promovido em Portugal", adianta, em declarações à TSF.
A jornalista argumenta que estas são questões particularmente relevantes porque, quando se diz que "é preciso expulsar mais imigrantes", gera-se um "medo" que afeta não só os imigrantes que cá vivem e aqueles que "querem vir", mas também "a sociedade portuguesa".
É como se de uma maneira que não fosse direta você estivesse dizendo 'Os imigrantes não são boas pessoas'.
Há 25 anos em Portugal, esta jornalista, que entretanto decidiu dedicar-se à vida académica, entende que as novas políticas de imigração representam um retrocesso.
"O que eu vejo com as novas políticas de imigração hoje é que basicamente está se voltando para o que era há 25 anos. Então, todas as dificuldades que eu passei para conseguir me regularizar, para conseguir trabalhar, para conseguir várias coisas aqui, que ao longo desses 25 anos foram sendo facilitadas, agora eles estão promovendo voltar-se a essas dificuldades e eu acho que isso é muito mau", alerta.
Juliana Iorio sublinha que, quem trabalha e faz os descontos para a Segurança Social, tem de ver os seus direitos "assegurados".
Quanto aos desafios de ser jornalista estrangeiro em Portugal, Juliana Iorio assegura que são muitos. Apesar de falar a mesma língua, nota que quem vem do Brasil e África não fala "português da norma europeia" e isso dificulta a entrada em qualquer órgão de comunicação social.
"Ainda mais se for televisão, rádio, então aí esquece. Como estou há muito tempo em Portugal, eu já acabo hoje em dia escrevendo mais o português de Portugal do que do Brasil. Mas eu não mudei o meu sotaque. Então, quando eu abro a boca, eu continuo sendo brasileira para quem me ouve e isso já fecha muitas portas", lamenta.
Juliana Iorio garante, por isso, que a dificuldade é ainda maior para jornalistas que não falam português.
Após esta discussão, segue-se um debate sobre "a forma como os media falam e representam as pessoas migrantes", e ainda uma conversa com duas jornalistas norte-americanas exiladas em Lisboa.