Ricardo Bexiga é o relator na comissão de inquérito a Tancos. CDS e PSD protestam
Centristas e social-democratas preferiam que o relator designado não pertencesse ao PS. PSD ainda propôs o nome da deputada Joana Barata Lopes, mas BE e PCP aprovaram o socialista Ricardo Bexiga.
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A comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos aprovou, esta quarta-feira, o deputado socialista Ricardo Bexiga como relator da comissão, mas, a decisão não foi unânime.
Com o socialista Filipe Neto Brandão como presidente da comissão, das bancadas do PSD e do CDS-PP partiu a sugestão de que fosse um membro de um outro grupo parlamentar que não o do PS a ficar responsável por redigir a proposta de relatório final da comissão que ainda agora dá os primeiros passos.
Berta Cabral, coordenadora dos social-democratas na comissão, avançou com o nome da deputada do PSD, Joana Barata Lopes, e justificou a decisão.
"O PS tem a presidência da comissão, apoia o Governo que está a ser escrutinado. Faria todo o sentido, até pela mensagem que passa pelo exterior, que o PS não queira açambarcar todos os lugares de direção e decisão dentro da comissão", disse a deputada, que sublinhou a necessidade de "transparência e independência" nos trabalhos e admitiu que, caso a proposta do PSD não fosse aprovada, os social-democratas estariam disponíveis para dar 'luz verde' a um relator pertencente aos grupos parlamentaras de CDS-PP, BE, ou PCP.
Ascenso Simões, coordenador dos socialistas na comissão, anunciou, desde logo, a rejeição da proposta do PSD, e deu exemplos de outras comissões. "A comissão de inquérito sobre a gestão do BES teve Fernando Negrão e Pedro Saraiva do PSD. A comissão sobre a aquisição de equipamentos militares teve como presidente e relator membros de PSD e CDS-PP, que integravam o Governo", argumentou.
Mas, os exemplos não foram suficientes para convencer as bancadas mais à direita. António Carlos Monteiro, do CDS-PP, que ainda sugeriu um grupo de trabalho com membros dos vários grupos parlamentares, acusou a esquerda de não querer consenso.
"Aquilo que percebemos é que, já no início dos trabalhos, a esquerda se uniu para impor um relator", lamentou o deputado, que pouco depois ouviu Berta Cabral, do PSD, insistir nas críticas ao PS, mas também a BE e PCP. "Tenho pena que o PS, o BE e o PCP não tenham compreendido a verdadeira razão pela qual propusemos um relator, seria um extraordinário sinal para o exterior", disse.
Apesar dos protestos de centristas e social-democratas, durante a reunião, foi designado - com os votos a favor de PS, PCP e BE, e com votos contra de CDS-PP e PSD - o nome do deputado socialista Ricardo Bexiga como relator. À comissão, o deputado garantiu que irá trabalhar com "transparência e total imparcialidade".
Os trabalhos da comissão vão interromper até ao início do novo ano. A 8 de janeiro, os deputados vão visitar os paióis de Tancos, de onde foi furtado o material militar, e a base de Santa Margarida, para onde foi transferida boa parte do material. As audições arrancam no dia seguinte, a 9 de janeiro, e começam pelas estruturas militares.