Ricardo Robles quer vender prédio que lhe pode render milhões. PSD pede demissão
Vereador da Câmara de Lisboa diz que não vê "contradição" em condenar a especulação imobiliária e vender um prédio que comprou há quatro anos por quase 13 vezes mais do que pagou.
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Ricardo Robles está a tentar vender um prédio em Alfama que comprou à Segurança Social em meados de 2014. Se conseguir pode amealhar, em conjunto com a irmã, uma mais-valia superior a quatro milhões de euros.
O caso é avançado esta sexta-feira pelo Jornal Económico , que recorda que o atual vereador da Câmara Municipal de Lisboa tem defendido que Lisboa se transformou numa "agência imobiliária" e na última campanha eleitoral acusou a autarquia de ser "promotora da especulação imobiliária".
O bloquista garante que não vê "qualquer contradição" entre as posições políticas e o seu investimento e justifica que a venda se deve a "razões familiares". " A minha conduta como coproprietário deste imóvel em nada diminui a legitimidade das minhas propostas para parar os despejos, construir mais habitação pública e garantir o direito à cidade", escreveu no Facebook , onde replica os esclarecimentos que transmitiu ao jornal.
https://www.facebook.com/RicardoAmaralRobles/posts/303329270234886
O PSD não concorda. Em comunicado enviado às redações, a Concelhia de Lisboa do PSD "exige a demissão" de Ricardo Robles por "manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade política".
"O cabeça de lista do Bloco de Esquerda nas últimas eleições autárquicas em Lisboa e atual vereador na Câmara Municipal de Lisboa deu a sua cara nos cartazes e nas ruas contra o bullying e a especulação imobiliária, contra os despejos, contra os abusos do alojamento local e contra a gentrificação. Afinal é ele mesmo um especulador imobiliário, que "despeja" inquilinos e que, pretende ganhar milhões e enriquecer com a especulação imobiliária na zona histórica do município onde é vereador".
O prédio junto ao Museu do Fado que Ricardo Robles e a irmã, Lígia Robles, compraram por 347 mil euros foi alvo de obras de reabilitação ainda não foi vendido, e neste momento não está no mercado, mas Robles admite que mantém a intenção de venda. No final de 2017 esteve à venda numa imobiliária especializada em imóveis de luxo com uma avaliação de 5,7 milhões de euros.
Ricardo Robles garantiu que nenhum inquilino foi despejado. Havia cinco inquilinos no prédio: um casal morava num apartamento e três inquilinos tinham lojas e um escritório.
O casal terá aceitado fazer um novo contrato de arrendamento com uma renda mais alta (170 euros segundo o bloquista) e um prazo de oito anos.
Os arrendatários de uma das lojas e do escritório renunciaram ao contrato mediante o pagamento de indemnização. Uma outra loja, devoluta, foi entregue sem qualquer indemnização.
Ao inquilino de uma das lojas foi apresentada uma proposta de aumento de renda de 270 euros para 400 euros mensais, que foi recusada. O inquilino saiu do prédio em 2016 mas pediu uma indemnização de 120 mil euros por obras realizadas na loja, valor que não agradou aos irmãos Robles. O processo ainda decorre em tribunal.