No comentário na TSF, Francisco Louçã analisou as moções de Santana Lopes e Rui Rio apresentadas nas candidaturas e encontrou poucas ideias. A única certeza parece ser a derrota nas legislativas.
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Falta ponderação, rigor, respostas de fundo e estratégias nos programas dos candidatos à liderança do PSD. A ideia é defendida por Francisco Louçã, que salienta que as estratégias que encontrou nas moções de Rui Rio e Pedro Santana Lopes limitam-se a sobre como responder a uma vitória do partido socialista em 2019. "Ambos os candidatos parecem muito concentrados e preocupados, dando por certo que são derrotados daqui a dois anos", salienta, "digam o que disserem, apesar de tudo é esse o contexto do seu debate".
No comentário semanal na TSF, Louçã defende que quando há diretas num grande partido o grande debate deve ser sobre alternativas políticas e, neste caso, os programas são pouco explícitos. "Aparecem muitas frases vagas a promover o tecido empresarial, um país mais inteligente, modernizar o estado... coisas que rigorosamente não querem dizer nada".
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Para além disso, o antigo líder do Bloco de Esquerda realça que nos debates durante a campanha surgiram propostas que não estão inscritas nos programas.
Francisco Louçã aponta como exemplo a proposta de Rui Rio de que uma parte das pensões pagas aos idosos dependa do ciclo económico, "o que quer dizer que, se houver uma recessão, como aconteceu nos últimos anos, as pensões são cortadas automaticamente, sem que apareça ninguém a dar a cara por isso. É fingir que não é uma decisão do governo, mas na verdade é uma regra implícita, implacável, a cortar as pensões".
Louçã considera que esta é uma medida que cria pobreza e prejudica a economia ao reduzir a procura. "É a medida mais desumana e mais estúpida que se pode fazer", defende.
O comentador destaca ainda uma proposta de Pedro Santana Lopes que surge esta sexta-feira em entrevista ao jornal Público. O candidato defende o plafonamento das pensões, em que o Estado só deve pagar as pensões até um certo nível e os contribuintes devem descontar obrigatoriamente para setores privados. A esta proposta, Santana Lopes junta ainda a ideia que 2% do que os trabalhadores descontam para a pensão futura seja entregue desde já a fundos privados. Louçã lembra que o sistema foi aplicado no Chile e faliu; deixaram de ser pagas pensões porque os fundos privados faliram.
O antigo líder do Bloco de Esquerda comenta ainda a ideia de Santana Lopes de que o salário mínimo deve depender da produtividade. Neste caso, como toda a produção é dividida por todas as pessoas empregadas, em caso de diminuição dessa produção a produtividade é alterada, mesmo que as pessoas continuem capazes de produzir. "A criação de mais emprego, por exemplo, faz diminuir na estatística da produtividade."
Francisco Louçã conclui que os programas dos dois candidatos ao PSD apresentam pouca ponderação e rigor e, acima de tudo, falta de respostas de fundo e estratégias.
"Todas estas ideias, quando parecem concretas, não parecem estudadas; quando estão estudadas, parecem prejudiciais. E todas as outras parecem ideias muito vagas para fazer uma espécie de panfleto eleitoral, quando em eleições como estas se exige sempre muito mais."
Todas as sextas-feiras, depois das notícias das 9h, Francisco Louçã comenta os assuntos económicos na atualidade na TSF.