Rita Matias: Mudanças do PSD para o Chega mostram que é "o único projeto de rutura"
A jovem deputada é a mandatária nacional do partido para as eleições de 10 de março.
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A Rita foi anunciada como a mandatária da candidatura do Chega a nível nacional. Pergunto-lhe o que é que traz ao partido ter a Rita como cara do partido nestas eleições? É afastar uma ideia de um partido retrógrado? Ter uma mulher jovem à frente é suficiente para afastar essas ideias?
Bem, o Chega quer dar um sinal muito claro às novas gerações de que estamos comprometidos com as suas causas, sobretudo num contexto em que temos este dado presente, o de que 30% dos jovens portugueses estão a viver fora do nosso país, emigrados. Temos um terço das mulheres portuguesas em idade fértil fora do nosso país também, e isto traz desafios a vários níveis, desafios à vida concreta das famílias portuguesas, mas faz-nos também pensar nos desafios à sustentabilidade do nosso país, que futuro poderá ter Portugal se continuarmos a ver as nossas mulheres, os nossos jovens partirem. Então penso que este é um sinal que o Chega dá, de querer ter uma mulher jovem também com uma voz amplificada nesta fase, para fazer voz e para fazer, no fundo, presentes estas necessidades e estes desafios que tantas pessoas nos dizem que são esquecidos por outros partidos e que querem ver de forma mais presente nesta campanha, e eventualmente num próximo Governo.
Outro sinal que o Chega quer dar - foi admitido aqui por André Ventura nesta convenção - é tornar-se num partido com imagem de um partido de Governo, afastar a imagem de um partido de protesto. Pergunto-lhe como é que o Chega pretende fazer essa transição? Qual será a estratégia, uma vez que desde a origem se assumiu como partido de protesto?
O Chega tem feito essa a transformação gradualmente, penso que de congresso para congresso vê-se um crescimento. Passa sobretudo por deixarmos de ser apenas um partido de combate, mas também de ideias. E é isso que temos estado a fazer nesta convenção. Os vários dirigentes, mesmo os militantes, apresentam-se com moções, com ideias concretas, com pastas setoriais. É esta a mensagem que nós queremos passar, a de que estamos preparados para governar Portugal. Temos este anseio, este desejo de transformar, de fazer diferente. Assumimos por algum lado inexperiência na governação, mas reconhecemos e queremos dizer aos portugueses que isso muitas vezes é positivo. Não temos cadastro, então pedimos um voto de confiança em quem nunca traiu a confiança dos portugueses e em quem, de uma vez por todas, pode tentar fazer diferente. Esta é a grande mensagem que queremos passar aqui neste congresso.
Não temos cadastro, então pedimos um voto de confiança em quem nunca traiu a confiança dos portugueses
Ir buscar estas caras, estes ex-nomes do PSD e do CDS ajuda a essa estratégia, a construir esta credibilidade por irem buscar a partidos que já estiveram no executivo?
Acho que neste momento todos são necessários e tudo ajuda. Este tem sido um dos principais temas que tem estado a ser tratado na opinião pública nas últimas horas, porque o Chega, de facto, tem tido alguns nomes de outros partidos em cima da mesa. Isto mostra uma evolução das ideias, as pessoas mudam, reconhecem que nos partidos que integravam não poderiam fazer avançar algumas ideias importantes para transformar Portugal e percebem que o único projeto de rutura e de mudança, neste momento, com arrojo, com garra, com determinação e, acima de tudo, com a confiança popular - porque esta adesão que o Chega tem nas ruas é notória - é o Chega. Então, qualquer pessoa que quer ver transformar Portugal, ou vem para o Chega, ou então mantém-se em partidos que pouco ou nada farão para transformar.
É um ponto a favor para esta viragem de imagem que é pretendida aqui?
Penso que sim. Nesta fase, todos os pontos a favor são necessários até, de facto, termos a votação expressiva que queremos, que confiamos que vamos ter, e de que necessitamos para chegar ao Governo.
Só para terminar, deixe-me perguntar-lhe: nesta convenção o Chega tem tentado anular, de certa forma, o PSD e assumir-se como o adversário principal do PS nestas eleições. Não estará a dar um tiro no pé se for necessário, depois, construir uma maioria de direita após as eleições?
O Chega está concentrado em ficar no primeiro lugar nas eleições e em de facto assumir-se como alternativa ao socialismo. Não porque não queira negociar, não porque não queira falar com nenhumas outras forças, mas porque as outras forças já deixaram claro que com o Chega não, que com os votos do Chega não contam, mesmo que tenhamos uma expressão cada vez maior, mesmo que saibamos que 15, 16, 17% dos portugueses confiam no Chega para ser essa voz. Então, se estes partidos dizem que os votos do Chega servem apenas para ser muleta, como um palanque, como um degrau para alcançarem o Governo, mas sem se comprometerem verdadeiramente com as causas do Chega, então nós dizemos que também não precisamos deles e que estamos comprometidos em ganhar sozinhos e em sermos, então, esta alternativa ao PS. É com o regime socialista que nós queremos romper, não queremos entrar nesta dialética de disputa entre a direita. A direita devia estar unida, uma vez que a esquerda já eliminou todas as barreiras e fronteiras, mas na ausência de capacidade de diálogo, o Chega escolhe focar-se no PS e ganhar expressividade e ganhar eleitores suficientes para ser alternativa.
A direita devia estar unida, uma vez que a esquerda já eliminou todas as barreiras
Mas já vimos líderes sociais-democratas - por exemplo, Miguel Albuquerque, na Madeira - a dar o dito por não dito, a voltar com a palavra atrás. O PSD pode vir a precisar do Chega, o Chega pode vir a precisar do PSD e esse laço ficar quebrado?
Na verdade, o PSD já precisou do Chega. O PSD precisou do Chega nos Açores e, de facto, nessa altura não tiveram tantas complicações, não tiveram tantos receios e agora, sim, decidiram traçar essas linhas vermelhas. A incoerência é do PSD, não é do Chega. O Chega manteve as mesmas bandeiras, as bandeiras dos Açores eram as bandeiras do combate à corrupção, da redução do número de membros no Governo, de redução do subsidiodependência, bandeiras que o Chega traz desde a primeira hora e que o cidadão comum lá em casa ouve e pensa que são medidas de razoabilidade, não são medidas extremistas. Portanto, se o PSD, que tem um espetro muito lato de negociação - reparem que se senta com o partido progressista PAN, o PSD tem esta capacidade de meter, na mesma mesa, o CDS conservador e o partido progressista das casas de banho mistas PAN -, portanto se todos estes conseguem dialogar e se dizem que, com os eleitores do Chega, que crescem cada vez mais, que são a terceira força política na Assembleia da República, não, então de facto o problema não é o Chega, o problema é do PSD, que tem esta atitude incompreensível, algo até esquizofrénica, se é que posso usar esta expressão. O Chega, então, decide estar comprometido e alcançar o melhor resultado possível para que não precisemos de depender de ninguém e, acima de tudo, para que possamos derrotar o socialismo em março, que isso é que é verdadeiramente importante.