Rua da Graça "apertou" com Alexandra Leitão no primeiro dia de campanha para as autárquicas
A campanha da coligação Mais Lisboa cumpriu um clássico e desceu a Rua da Graça. Ainda não é bem o mesmo que a descida do Chiado nos últimos dias, mas também está lá tudo o que um candidato pode desejar
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A rua é estreita e serpenteia com as linhas dos elétricos aos ésses. Os passeios mal dão para uma pessoa. Os moradores limpam muitas vezes o pó aos carros e as caras pálidas dos turistas ficam por vezes a 20 centímetros da nossa. "É apertado, é muito apertado", queixa-se também Alexandra Leitão. A comitiva, com um pé ora no passeio, ora na calçada rente às rodas, confirma.
O pessoal da comitiva não é muito. Só um grupo de jovens puxa de vez em quando pelos slogans. É muito barulho também com a azáfama dos moradores e o caos do trânsito estrangulados por gente de bandeirinhas.
Não há lojista nesta rua que não conheça isto de cor.
"Hoje é a primeira comitiva eleitoral, a Rua da Graça é muito popular, tem muita gente" justifica a dona de um restaurante, com um sorriso de quem acaba de cumprimentar Alexandra Leitão e anunciar às câmeras de televisão que ali também há fado: "Às quintas-feiras". A candidata não pega na deixa, limita-se a um: "É bom saber".
Mas a rua ainda está no princípio. Alexandra Leitão corrige a atitude e entra com quem consegue enfiar-se na pequena frutaria. Lá ao fundo está a dona Carmelinda, numa cadeira de rodas.
"Vivo aqui numa cave, numa casa arrendada, para ir da sala à cozinha tenho de me deslocar com uma cadeira de secretária..."
Nem a propósito, a candidata tem "um plano para apoiar as obras nas casas de Lisboa onde vivem pessoas com problemas de mobilidade". Carmelinda não deixa transparecer se acredita, mas agradece. Agradece ainda mais quando Alexandra Leitão completa a visita: "Prometer não prometo, eu não faço promessas, mas fica o meu compromisso." Carmelinda fica a pensar se será desta que deixa de "dar trambolhões" lá em casa.
Uns minutinhos mais à frente uma mulher espera pacientemente para falar em voz baixa com a candidata. É uma das residentes que ficou sem casa na queda de um prédio que desmoronou por causa de uma construção nova mesmo ao lado.
A mulher lamenta-se de viver numa casa de dois quartos sem saber quando terá lar outra vez, mas aqui a candidata não faz promessas, só ouve atentamente, paciente e concorda com a cabeça, como quem entende o que será viver uma vida provisória sem saber quando se tornará previsível.
A meio caminho, Alexandra Leitão cumpre outra "regra" de campanha e faz uma paragem para falar aos jornalistas numa zona com um pouco mais de espaço.
Vira-se para a habitação, indignada com uma das últimas propostas do Governo: "Num país onde o salário médio anda nos mil e cem ou mil e duzentos euros, é fácil perceber que uma renda de dois mil e trezentos euros é uma renda absurda." Parece esquecer-se do que prometeu a Carmelinda e garante: "Se eu ganhar não haverá rendas apoiadas com valores desta ordem. Irei criar rendas verdadeiramente acessíveis, nunca acima dos 30% do vencimento das famílias." E acrescenta outra inevitabilidade, a crítica: "Não se ouve uma palavra ao ainda presidente de câmara..."
Já a chegar ao Largo da Graça um encontro que estava previamente combinado. Augusto Teixeira está frente à Pastelaria Ideal, ela, não ele ,"desde 1931", está escrito no letreiro por cima da porta.
"Vou fechar, isto foi comprado por uns franceses", uma história velha ainda que muito mais nova que Augusto. "Para manter a pastelaria tínhamos de comprá-la... era muito dinheiro". Os funcionários já aceitaram um acordo, "dois vão para ali", aponta a pastelaria do outro lado da rua.
A esplanada da Pastelaria Ideal está cheia. Aqui uma família de asiáticos, ali uma mesa com um casal muito louro de mochilas, entre os "de fora" há mesas de gente do bairro. Mesas com croissants, bitoques, torradas.
Amanhã a Pastelaria Ideal já não abre ao público. Depois de amanhã já não abre para ninguém. Vai para obras com o resto do prédio de azulejos. A próxima campanha autárquica já não para aqui.