"Rui Rio não tem obrigação de ganhar as legislativas"
Alberto João Jardim defende que o projeto de Rui Rio é de médio prazo. Em entrevista à TSF, Jardim elogia também o novo líder por ter assumido disponibilidade para apoiar um governo minoritário do PS.
É daqueles que acha que Rui Rio tem a obrigação de ganhar as legislativas de 2019?
Tudo depende.
Não tem essa obrigação?
Não tem essa obrigação. Tem a obrigação de fazer tudo para ganhá-las. O que é diferente. Aí, nem o PS nem o PSD têm obrigação de ganhar. Aí decide o povo português. Tem obrigação, permita-me a correção, de fazer tudo para ganhá-las, que é um pouco diferente.
Há quem no PSD, já tenha colocado essa fasquia.
Isso são uns indivíduos que estão sempre com a esperança de voltar. Eu estava-lhe há pouco a dizer que vão haver mudanças ideológicas e estratégicas mas também vão haver mudanças pessoais. Vamos ser francos. Acho que é preciso voltar a subir a qualidade do Partido Social Democrata. O PSD caiu numa mediocridade mesmo pessoal. É fundamental que haja uma seleção e um subir da qualidade. Isto não quer dizer marginalizar ninguém. É, como diz o povo, "pôr cada macaco no seu galho". Chamar as pessoas de qualidade e atribuir-lhes tarefas e missões. Esses que estão à espera de que as coisas não corram bem e que querem que Rui Rio em ano e meio descubra o caminho marítimo para a Índia, são os que já estão de má-fé, à espera que as coisas corram mal para poderem, novamente, criar perturbação dentro do partido.
Não é exigível que Rui Rio ganhe as eleições. É exigível que ele faça tudo para ganhá-las: apresente bons candidatos, um programa que, não sendo demagógico, mereça a concordância não da população de Lisboa, mas do povo de todo o país. Que todo o país se reveja nesse programa. É também necessário que ele vá desmistificando algumas coisas: a baixa do desemprego que é feita à custa de subsídios de fundos europeus, à custa de subsídios a empresas, à custa de exportação de mão-de-obra, subidas do PIB que não se traduz em investimento nem em desenvolvimento, etc... é preciso começar a desmontar. Porque, atenção, o PS na sua história depois do 25 de Abril tem uma coisa que eu tiro-lhes o chapéu. Eles quando vão para o poder controlam tudo, desde as nomeações até à influência na informação. Portanto, eles têm uma máquina muitíssimo bem montada. Reconheço a inteligência de António Costa em ter enrolado o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda. O termo é mesmo este. Estão enrolados. Estão a fazer uma figura desgraçada. Parecem uns cãezinhos amestrados que estão ali à volta de António Costa com o argumento de que é preciso evitar a direita no poder quando o PCP e o BE são a direita, porque defendem um regime totalitário, quando o país deve, de facto, a António Costa algo que é ter evitado a direita no poder. Mas evitou o PC e o BE porque eles de facto não estão no Governo, de maneira que tiro-lhe o chapéu por ele ter evitado a direita no poder.
Quando diz que Rui Rio não tem a obrigação de ganhar em 2019, presumo que se ele não ganhar, o senhor não defenda que ele deva deixar a liderança do partido.
Eu para já defendo que Nosso Senhor Jesus Cristo me dê saúde e vida para daqui a dois anos eu ainda estar vivo. Eu já tenho a jovem idade de 75 anos portanto o primeiro passo é eu estar vivo para assistir a isso. Em segundo lugar, se Rui Rio não ganhar as eleições isto é um projeto a médio prazo. O PSD tem experiência destas coisas.
O senhor sabe como funcionam estes partidos grandes como o PSD ou como o PS, são partidos de poder que, quando não têm o poder, tipicamente é o líder quem sofre as consequências ou não?
É verdade que há isso na história dos dois partidos, mas a verdade também é que é altura de ter juízo. Se afastar Passos Coelho já foi um ato de juízo, acho que é preciso continuar a ter juízo senão, daqui a dias, andamos outra vez nas ruas da amargura. Eu penso que se o partido for assumido por pessoas de qualidade que saibam falar aos militantes e, sobretudo, à população, não se corre nenhum risco de instabilidade interna em função dos resultados daqui a um ano e meio.
Até às legislativas de 2019, Rui Rio é o líder da oposição. Que postura é que ele deve ter como líder da oposição, deve estar, por exemplo, disponível para fazer acordos com o Partido Socialista?
Deve ser ele próprio, em primeiro lugar. Não há regras de postura, eu nunca tive postura e, em segundo lugar, era indiferente ao que pensavam sobre as minhas posturas. Eu tenho uma qualidade de filho único que é não ligar ao que dizem, de maneira que fazia o que me apetecia. Portanto, eu não tenho de dizer qual é a postura. Agora, acho que está na altura de, patrioticamente, independentemente de o PSD estar ou não estar no Governo ou do PS estar ou não estar no Governo, os dois maiores partidos portugueses se entenderem e fazerem ainda as grandes reformas de que o país precisa.
Deixem lá as leis laborais! Eu acho que temos boas leis laborais, tem havido uma certa concertação social em Portugal. Os únicos sindicatos que abusam da paciência popular são os sindicatos dos transportes e os sindicatos do setor da saúde e, aí, para grandes males, grandes remédios, é o que se deve fazer à minha maneira. Portanto, as grandes reformas são a descentralização política do país; a despolitização da Justiça que inclui uma alínea que é a Justiça não ser explorada pelo mediático; depois, em terceiro lugar, nós não podemos estar a captar investimento estrangeiro e serem precisos 20 ou 30 papéis e ir a não sei quantas repartições. Tem piada, eu ouço todos os partidos e todos os governos a falar de reforma administrativa. Ela não está feita em Portugal, é preciso uma porção de papéis para coisas simples, não está feita e isso tem de ser atalhado. Estas são as grandes reformas, parem de me falar das leis laborais! As leis laborais nunca atrapalharam o desenvolvimento do país.
Portanto, Rui Rio deve estar disponível para, juntamente com o Partido Socialista, fazer essas grandes reformas, mas há uma outra questão que marcou de alguma forma a campanha interna do PSD que tem a ver com apostura que o PSD terá caso não ganhe as legislativas de 2019 e caso o Partido Socialista tenha uma vitória sem maioria absoluta. Rui Rio deixou claro durante a campanha que estava disponível para viabilizar um governo minoritário do PS, há quem ache que ele fez mal, há quem ache que ele fez bem. O senhor acha o quê?
Eu não acho nada, porque para viabilizar ou não viabilizar é preciso negociações e só depois de ver o conteúdo das negociações e o que está adquirido ou não está adquirido é que eu posso ter um julgamento de se acho bem ou acho mal.
Então Manuela Ferreira Leite não tem razão quando diz que o PSD deve vender a alma ao diabo para afastar a esquerda do poder?
Não, porque da esquerda o Costa tem-se encarregado. O Costa enganou-os e bem, de maneira que há que deixar esse papel ao Costa. O Costa é que está a varrer a casa e depois da casa varrida e arrumada é que nós vamos falar, agora deixe o Costa varrer a casa.
Desse ponto de vista, se fosse candidato à liderança do PSD não entraria nesse tipo de cenários?
Não, o que eu admitiria era o que sempre fiz na minha vida: cenário A, B, C, D e, muitas vezes cheguei a ir até ao cenário F.
Mas não acha que tenha sido um erro de Rui Rio durante a campanha?
Pelo contrário, pelo contrário. Acho que foi muito claro. Agora, o argumento para viabilizar o Governo do Costa não é para evitar que o Bloco de Esquerda e o PC entrem na área do poder, isso é um trabalhinho que o Costa vai fazendo, ainda não entraram até agora, vai-lhes dando umas gorjetas. É como aquelas atualizações que eles fazem de pensões, dão mais cinco ou sete euros e dizem que o povo está feliz, vão lá enganar o outro com essa conversa [risos]. A pobreza envergonhada continua a não receber nada e a classe média está sobrecarregadíssima de impostos. Isto está tudo errado. Mas deixe o Costa ir enrolando as duas organizações comunistas, BE e PCP.
O que tem de ser feito é o seguinte: o objetivo não é saber se o Costa está ou não com base numa maioria parlamentar que tem os comunistas, o que interessa é saber o que é que o Costa, em concreto, faz pelo país se o PSD lhe viabilizar o governo. O caderno de encargos tem de ser outro: as grandes reformas do país. Esta é a minha posição de Estado, senão vamos passar a vida inteira em Portugal a brincar aos partidos.
Leia e veja na íntegra a entrevista a Alberto João Jardim aqui.