Rui Rocha afirma que seria "não natural" viabilizar Governo PS e admite moção de rejeição
O presidente do partido liberal assume querer derrubar um eventual Executivo socialista e diz não temer os efeitos do apelo ao voto útil feito por Luís Montenegro.
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O líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, garantiu, esta quinta-feira, em entrevista no Fórum TSF, que não vai viabilizar um Governo socialista e que o partido admite “todos os cenários”, não excluindo a possibilidade de apresentar uma moção de rejeição.
"Não abdicamos de nenhum cenário que esteja nas nossas mãos, porque para nós é mesmo fundamental que não haja viabilização de um Governo PS", declarou o líder liberal.
Lembrando os últimos anos do PS no poder, Rui Rocha começou por deixar claro que “a visão, ambição e propostas para o país da IL são completamente diferentes” e, portanto, “seria até completamente não natural que houvesse alguma possibilidade” de viabilizar um Governo socialista, que aproveitou para criticar Pedro Nuno Santos, por ter recuado um passo e ter deixado a ideia de que a viabilização de um Executivo liderado por Montenegro, que já havia admitido, estaria dependente de que o PSD fizesse o mesmo compromisso.
"Eu não sei se Pedro Nuno Santos já mudou de opinião nos últimos dez ou quinze minutos, portanto, aconselha o bom-senso a esperarmos até mais ao final do dia para ver quantas posições sobre essa matéria Pedro Nuno Santos tem", ironizou.
O líder da Iniciativa Liberal reafirma-se disponível tanto para acordos de incidência parlamentar como para integrar um eventual governo da Aliança Democrática (AD), e diz não temer que os liberais sejam penalizados pelo apelo ao voto útil do PSD.
"Não receio. Não creio que isso vá mesmo acontecer", declarou, afiançando que só a Inicitiva Liberal poderá "pegar naquilo que é algum conformismo que se instalou no PSD e fazer com que o PSD possa trilhar um caminho de reformismo" e que isso será tido em conta pelos eleitores. De resto, as expectativas da IL de fazer crescer eleitoralmente permanecem "intactas", assegura Rui Rocha, apesar de as sondagens nem sempre apontarem para isso.
Em termos de projeto para o país, Rui Rocha acusou os socialistas de não terem conseguido “resolver uma pobreza persistente” e de terem levado Portugal a um envelhecimento demográfico com “a perda de milhares de jovens todos os anos e das suas qualificações” para o estrangeiro. “O PS trouxe um país de baixos salários e de baixa ambição quando olhamos para o futuro. Estamos do outro lado.”
Para o porta-voz da IL, estar do outro lado significa assumir posições diferentes, por exemplo, ao nível de salários e saúde.
Rui Rocha quer estabelecer um valor mínimo de referência com base na inflação e custo de vida, mas que “depois os setores tenham mais autonomia e força para negociar esses salários”. Questionado sobre a possibilidade de um empregado de café receber mais do que um secretário de mesa, Rui Rocha esclareceu que a medida da IL entende que “os setores têm diferentes capacidades” e rentabilidade.
“Nós entendemos que essa referência deve ser comum e é sobre essa referência que se deve construir essa ambição”, esclareceu.
Relativamente à Saúde, a IL quer o setor público enquanto "subsistema", que concorre com outros, nomeadamente o privado - sendo o Estado, mais do que apenas providenciador de serviços de Saúde, regulador dos vários "subsistemas" existentes.
"Um subsistema que pode ser, por exemplo, de natureza social, um subsistema que pode ser, por exemplo, ADSE, um subsistema que pode ser de natureza privada, e estes subsistemas dão diferentes escolhas às pessoas", explicou Rui Rocha, esclarecendo que estes "subsistemas" estariam em concorrência entre si e que cada um teria mais vantagem em ter mais aderentes, levando a uma predisposição para o aumento da qualidade de oferta.
Nesta passagem do presidente da Iniciativa Liberal pelo Fórum TSF, houve ainda espaço para discutir propostas dos liberais como a redução da carga fiscal, a desburocratização, um novo modelo de financiamento de pensões (garantido por uma espécie de planos "poupança-reforma") financiado pela privatização da Caixa-Geral de Depósitos. Mas também o tema das forças de seguranças foi trazido a debate, com Rui Rocha a explicar por que não defende que os polícias tenham direito à greve e a acusar de falta de responsabilidade as forças políticas que o fazem.
"Ninguém vai ficar doente de propósito num dia em que os médicos fazem greve. Mas, no caso da segurança, é diferente. Onde a polícia fez greve, a atividade criminal aumentou, com prejuízo grave para as populações, com aumento de crimes graves", alegou Rui Rocha, para traçar as diferenças entre as forças de segurança e outros funcionários do Estado, no que toca ao direito à greve.
"As polícias têm um estatuto próprio, devem ter uma remuneração justa e competitiva, têm toda a legitimidade para se manifestarem, mas deve fazê-lo dentro da lei", sublinhou o líder liberal.
"Admitir o direito à greve dos polícias põe em causa a segurança dos cidadãos, portanto, a Iniciativa Liberal não defende e considera irresponsáveis os partidos, como o Chega e outros partidos de esquerda, que defendem esse direito", concluiu.
*Artigo corrigido, com substituição de referência a "moção de censura" por "moção de rejeição"
