Rui Tavares:"Não vale a pena balançar o barco antes de se saber o estado do mar"
Para Rui Tavares, ex-eurodeputado eleito pelo BE, Bloco e PCP, têm "consciência" de que austeridade "não se vira de um dia para o outro". Principal tensão pode ocorrer na discussão do OE2017.
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"Não vale a pena estar a balançar o barco antes de se saber exatamente qual é que vai ser o estado do mar daqui para a frente", avisa, em declarações à TSF, o líder da Assembleia do LIVRE, Rui Tavares.
Num olhar à esquerda, sobre como podem os partidos que apoiam o governo liderado pelo PS encarar os documentos que vão ser discutidos e aprovados em Conselho de Ministros, Rui Tavares diz não acreditar que, a curto prazo, bloquistas e comunistas possam vir a criar alguma tensão, mesmo que algumas das medidas acordadas com os socialistas tenham de esperar por uma evolução mais positiva da economia.
"Tanto o BE como o PCP têm uma consciência muito clara de que não é de um dia para o outro que se vira o jogo da austeridade e, portanto, que há medidas - algumas delas já em curso - importantes e que já foram conseguidas no diálogo com a esquerda. E que, depois, há um outro jogo, que já não é de curto prazo, como foi até agora, que é um jogo de médio prazo, a pensar no Orçamento de 2017 e que ainda esta no adro", afirma o ex-eurodeputado eleito pelo BE.
Nesse sentido, acredita Rui Tavares, ainda que pouco satisfeitos com uma eventual escassez de medidas que tenham em vista mais apoios sociais e a recuperação dos rendimentos do trabalho, BE e PCP serão capazes revelar uma "autodisciplina" e uma "capacidade de direção política interna" que pode vir a ser essenciais para a estabilidade governativa.
"Certamente não criarão problemas antes de haver medidas em cima da mesa e antes de, eventualmente, ser necessário criá-los", afirma Rui Tavares, que confia que, nas conversas entre PS, PCP e BE, haverá, por estes dias, um "pedido de paciência até que cheguem as medidas [que dizem respeito aos acordos políticos assinados o PS e os BE, o PCP e Os Verdes]".
Para o antigo eurodeputado, até maio, a "prioridade" deve passar pelo diálogo com as instituições europeias. Depois disso, e dependendo de como evoluírem as conversas com Bruxelas - e tendo em conta que a Comissão Europeia divulga, em maio, as previsões económicas da primavera - é preciso esperar para ver: "Aí, e quando começarem a aparecer medidas concretas, veremos se surgem, ou não, dificuldades à esquerda".
Sublinhando o membro do LIVRE que as previsões económicas que a Comissão Europeia divulga no próximo mês podem ser determinantes para "desencadear" a necessidade de o Governo ter de avançar com o "famoso plano B".
Em declarações à TSF, Rui Tavares considera ainda que, depois de algumas dificuldades nas negociações entre o Governo e a Comissão Europeia sobre o Orçamento do Estado para 2016, o executivo está agora à procura de melhorar o diálogo com Bruxelas, a fim de evitar qualquer possibilidade de vir a existir esse "plano B".
"Com previsões modestas no crescimento e ambiciosas no corte do défice, provavelmente esse diálogo poderá começar num plano mais positivo. É nessa tentativa de não ter de implementar nenhum plano B que eu creio que o Governo avança com previsões de crescimento e orçamentais que são tão favoráveis ao lado europeu", afirma.
Esta quarta-feira, depois de se reunir com os deputados do PS, o primeiro-ministro, António Costa disse aos jornalistas que a consolidação orçamental que o executivo se prepara para por em marcha assenta em estimativas "prudentes" de crescimento económico.