Santana Lopes visitou o bairro da Jamaica. "Se morasse aqui também me sentiria revoltado"
O antigo primeiro-ministro visitou algumas habitações e apanhou boleia da presidente da comissão de moradores. Recusa que Portugal seja um país racista e diz que "o prisma do debate" tem de mudar.
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Pedro Santana Lopes diz que é preciso que o debate em torno do bairro da Jamaica deixe de estar centrado na questão da violência e da intervenção policial, preferindo falar na procura de soluções que melhorem as condições de vida dos habitantes do bairro.
O líder do partido Aliança esteve, esta segunda-feira, no bairro do Seixal onde se registaram incidentes violentos com a polícia a 20 de janeiro. Depois de se reunir com a comissão de moradores, Santana Lopes defendeu as autoridades, mas sublinhou a importância da "integração" e do respeito por todos.
"A essência e a idiossincrasia de Portugal é a integração, a vivência em comum de todas as raças, religiões, etnias - pelo mundo fora e cá", afirmou, salientando, no entanto, a necessidade de relevar o papel das autoridades. "Nunca podemos esquecer que as forças de segurança são essenciais. Mas, se alguém exagera, do lado da população ou das forças de segurança, deve agir-se em conformidade", disse.
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Aos jornalistas, já no final da visita - que durou cerca de hora e meia e durante a qual entrou em várias habitações, conversou com algumas pessoas e fez uma curta viagem de carro à boleia da presidente da comissão de moradores -, o antigo primeiro-ministro recusou que Portugal seja um país racista e defendeu que é preciso mudar o debate "desse prisma, que radicaliza e acirra ódios".
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O processo de realojamento dos moradores começou em dezembro e deve estar terminado em 2022. "Acho muito tempo, mas importante é já ter arrancado", comentou Santana Lopes.
E acrescentou: "Eu não quero entrar aqui em cores políticas. O que quero é juntar a voz ao apelo para que isto acabe muito depressa. Porque tinha sido possível, mesmo com problemas jurídicos, mesmo com imbróglios de propriedade, mesmo com falências de empresas... A questão que estava aqui em cima da mesa era tirar estas pessoas daqui para outras casas e aqui construir outras casas não implicava nada de problemas jurídicos".
Durante a visita, o líder do Aliança admitiu ainda que se fosse morador no bairro da Jamaica também se sentiria "revoltado" e "excluído", lamentando que se tenham passado décadas sem que fosse posto em prática um programa de realojamento.
"Se eu morasse aqui, devo dizer que também me sentiria revoltado, também não estaria integrado de certeza absoluta, também me sentiria excluído. Eu ou qualquer pessoa que aqui viva. Acho extraordinária até a capacidade de adaptação que as pessoas têm", disse.
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No domingo passado, a polícia foi chamada a Vale de Chícharos - onde fica o bairro da Jamaica - após ter sido alertada para "uma desordem entre duas mulheres", do qual resultaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente.
O incidente motivou uma manifestação contra a violência policial em frente ao Ministério da Administração Interna, em Lisboa, que resultou em quatro detenções por apedrejamento aos agentes da PSP.
Ouvida pela TSF, depois de conversar com Santana Lopes a bordo do seu automóvel, a presidente da Associação de Moradores do Bairro da Jamaica, Dirce Noronha, apelou à calma e defendeu que é preciso aguardar pela investigação das autoridades competentes. "Temos de apelar às pssoas que fiquem calmas, que cheguem a um entendimento. Há leis e pessoas competentes para resolver o assunto".
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