Santos Silva diz que "alimentação e justificação" de "discurso e atos de ódio" são "antipatrióticas"
"A pátria portuguesa é uma pátria habituada há séculos aos que saem e aos que entram", considera o antigo presidente da Assembleia da República
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O ex-presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva criticou esta quarta-feira o aumento do discurso de ódio nas escolas portuguesas e a discussão sobre a imigração como potencial tema central das eleições europeias.
A participar no Fórum KAICIID, iniciativa do reino saudita e do Papa Bento XVI, que se realiza em Lisboa, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros pegou num dos temas políticos do momento, a acusação de traição à pátria a Marcelo Rebelo de Sousa por causa das declarações sobre eventuais reparações às ex-colónias, para fazer a crítica.
"A alimentação do discurso de ódio - e agora já nem é o discurso, é a alimentação do discurso de ódio e a justificação de atos de ódio - é mesmo das coisas mais antipatrióticas que eu posso ver em Portugal, porque a pátria portuguesa não é isso. A pátria portuguesa é uma pátria habituada há séculos aos que saem e aos que entram, desde os Descobrimentos que nós temos em Lisboa gente de muita variada proveniência", disse Augusto Santos Silva.
O antigo presidente da Assembleia da República diz ainda que o mesmo acontece com todo o país: "É um país que saiu como imigrante e que acolhe imigrantes. É um país feito da influência cristã, da influência árabe, da influência judaica. É um país cujo principal feito histórico, que foram os Descobrimentos, foi feito exatamente porque nós fizemos a síntese da cultura portuguesa, da cultura italiana, do saber judaico, do saber árabe, e é isso que nós somos e quem quer dividir-nos, quem quer que nos odiemos uns aos outros, quem quer que nós sejamos intolerantes uns com os outros, esse está a pôr em perigo o essencial da pátria portuguesa."
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros abordou ainda as declarações do atual titular da pasta, Paulo Rangel, sobre a guerra na Faixa de Gaza.
"Eu percebo a argumentação do senhor ministro. Não queria comentá-la, porque me parece que uma das forças principais da política externa portuguesa é o consenso que ela merece entre as principais forças. Eu acho que esse é um ativo e não queria prejudicá-lo. O que eu acho que sucede em Gaza é infelizmente uma catástrofe motivada pelo ataque do Hamas, um ataque medonho, e pela reação desproporcionada de Israel e, portanto, eu não consigo falar de uma coisa sem falar da outra", afirmou.
Por isso, Augusto Santos Silva considera "muito importante que haja um acordo de cessar-fogo", mas acredita que para que isso aconteça "Israel tem de se envolver ativamente na construção desse acordo e o Hamas tem também de assumir as suas responsabilidades, designadamente na libertação incondicional dos reféns, porque há vários meses que o Hamas tem a reféns, pessoas, uns adultos, outras crianças, outros velhos, que sequestrou pela força e que se recusa a libertar".