Santos Silva quer que Moedas se "retrate" e reponha "verdade dos factos" sobre Jorge Coelho, mas não pede demissão
O socialista diz querer acreditar que na origem desta "acusação gravíssima e completamente infundada" está um "engano e falta de informação"
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Augusto Santos Silva pede ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, que se "retrate" e reponha "a verdade dos factos" sobre a demissão do antigo ministro socialista Jorge Coelho, que morreu em 2021.
Perante as declarações do social-democrata, Augusto Santos Silva, que à semelhança de Jorge Coelho fez parte do Governo de António Guterres, afirma, em declarações à TSF, que é um "dever" defender a memória de Jorge Coelho.
"Para nós, como membros do Governo na altura dos factos, somos testemunhas de que a única razão que levou Jorge Coelho a demitir-se foi a assunção da responsabilidade política e não qualquer falha prévia em que tivesse incorrido e de que tivesse conhecimento", vinca.
O também antigo presidente da Assembleia da República diz, contudo, querer acreditar que na origem desta "acusação gravíssima e completamente infundada" está um "engano e falta de informação".
Santos Silva espera, por isso, que Carlos Moedas se "retrate", já que a "a verdade dos factos é exatamente o contrário do que ele disse".
"Jorge Coelho foi um estadista, uma pessoa notabilíssima, a quem todos devemos muito, independentemente do partido a que pertençamos. Deve pelo menos um gesto que repõe a verdade dos factos e que possa corrigir a posição falsa em que ele próprio — espero que não intencionalmente — se colocou", insiste.
A TSF já contactou o líder da Câmara Municipal de Lisboa sobre este pedido, mas ainda não obteve resposta.
Já quando questionado sobre se Carlos Moedas se deve demitir depois do acidente com o Elevador da Glória, que matou 16 pessoas, o socialista subscreve a posição do secretário-geral do PS e da candidata do partido a Lisboa, Alexandra Leitão: não há "razão para precipitar uma demissão de um presidente de Câmara", numa altura em que falta pouco mais de um mês para as eleições autárquicas.
No domingo, durante uma entrevista à SIC sobre as causas do acidente mortal com o Elevador da Glória, em Lisboa, Carlos Moedas foi confrontado com o exemplo do falecido socialista Jorge Coelho, em 2001, que se demitiu das funções de ministro de ministro do Equipamento Social na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios, no rio Douro. Carlos Moedas recusou a comparação e disse que o gabinete de Jorge Coelho tinha recebido informações que apontavam para a fragilidade da ponte ainda antes do acidente, enquanto no caso dele, pelo contrário, não recebeu qualquer sinal nesse sentido em relação ao Elevador da Glória.
“Nós, companheiros de Jorge Coelho no Governo de António Guterres aquando da queda da ponte de Entre-os-Rios, queremos manifestar a nossa indignação pelas falsidades proclamadas pelo engenheiro Carlos Moedas sobre o que se passou em 2001. A atitude de Jorge Coelho foi um contributo importante para a defesa de Democracia nos últimos 25 anos”, escrevem, numa nota enviada à agência Lusa.
Além do ex-primeiro-ministro António Costa, assinam a nota Alberto Martins, Augusto Santos Silva, Eduardo Ferro Rodrigues, Guilherme Oliveira Martins, Luís Capoulas Santos e Nuno Severiano Teixeira.
Na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios, em 2001, entre outras investigações, a Assembleia da República constituiu uma comissão de inquérito que meses depois produziu um relatório aprovado sem votos contra. O documento teve os votos a favor do PS, PSD, PCP e CDS, com as abstenções de PEV e do Bloco de Esquerda.
Na sequência dos inquéritos, entre outros episódios, demitiu-se o então presidente do Instituto de Navegabilidade do Douro (IND), Mário Fernandes. O IND foi responsabilizado pela queda da ponte, enquanto organismo que licenciava e fiscalizava a extração de areias no canal navegável do rio Douro.