"Sentimento de abandono e promessas não satisfeitas" podem explicar terramoto Chega no Algarve
O partido de André Ventura venceu nos concelhos mais populosos da região ao sul. À TSF, o sociólogo João Eduardo Martins explica porque é que uma região que votava tradicionalmente à esquerda pode passar a votar no Chega.
Corpo do artigo
Foi um sismo político que abalou a noite eleitoral numa região que historicamente vota à esquerda. O Chega ficou à frente com mais quatro mil votos do que o Partido Socialista (PS), no Algarve, e venceu a noite eleitoral na região com 27,19% dos votos.
O PS, que tinha cinco deputados eleitos pelo Algarve, perde dois para o partido da extrema-direita parlamentar. O Chega fica com três mandatos no Parlamento nesta região, tantos como o PS e a Aliança Democrática. Com exceção de Faro, onde venceu o PS, o partido de André Ventura ganhou os concelhos algarvios mais populosos: Portimão, Albufeira, Loulé, Olhão e Lagoa.
Silves, o único concelho onde habitualmente vence a CDU, deu uma volta de 180 graus e também votou Chega em todas as freguesias, exceto em S. Marcos da Serra onde ganhou o PS.
Além disso, este partido passa também a ser a segunda força política em Lagos, Vila Real de Santo António, Vila do Bispo, Aljezur e Castro Marim.
No total, o Chega conseguiu 64.228 votos, representando 27,19% dos eleitores, o PS ficou em 2º lugar com 25,46 % ( 60.123 votos) e a Aliança Democrática com 22, 39% (52.885 votos). Em 2022, o PS tinha alcançado quase 40% dos votos dos eleitores da região.
Como se explica que uma região que votava tradicionalmente à esquerda passe a votar Chega?
Em declarações à TSF, o sociólogo João Eduardo Martins explica que "o Algarve tem as suas especificidades" e traça uma região com "uma economia baseada na monocultura do turismo" e com "uma taxa de pobreza superior à média nacional".
"Há aqui um conjunto de características que potenciam o descontentamento e a frustração", nota.
João Eduardo Martins considera ainda que "O Chega ocupa um espaço deixado livre pelo PCP e pelo BE, que eram tradicionais partidos de protesto e que foram sustentáculos do Governo socialista nos últimos anos".
"Há um sentimento de abandono e de promessas não satisfeitas", conclui.