Ser ou não ser comunista? "Não é possível uma sociedade perfeita, mas seria um passo para a humanidade importantíssimo"
Pedro Tadeu, jornalista e cronista, militante do PCP, um dos programadores da Festa do Avante. Em entrevista à TSF, fala sobre o livro “Porque sou comunista” (Zigurate, 2025)
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Há duas frases na capa do livro: “confissões de um jornalista burguês” e “porque sou comunista”, que é o título. O título é uma pergunta ou uma resposta?
É as duas coisas. Pode ser uma pergunta “porque sou comunista?”, e então eu tento explicar no livro o que é que isso quer dizer. Ou então pode ser o contrário: eu digo isto porque sou comunista. Uma afirmação ideológica sobre a forma de pensar e a forma de compreender o mundo. É isso que eu pretendo mostrar no livro.
Porque depois, lá dentro, aparece com o ponto de interrogação...
Aparece no primeiro capítulo. Mas depois, cada um dos capítulos seguintes, são respostas a essa primeira pergunta. A leitura e o desenvolvimento implica uma abordagem sobre o mundo, sobretudo coisas que têm a ver com o pós-25 de Abril. Eu tentei analisar mais as coisas contemporâneas, mais o tempo que é o único que nos é próximo, do que propriamente o passado do século XIX, da raiz do comunismo, ou aquilo que se passou ao longo do século XX, para tentar demonstrar que a ideia comunista, apesar dos anátemas que existem sobre essa ideia, nomeadamente associados aos crimes cometidos durante o tempo da União Soviética, ou associado a um anacronismo que não faz sentido no século XXI, eu tento provar que não. Que faz sentido, e que essa comparação com os crimes da União Soviética também é injusta, porque depois não se explicam e não se comparam com os crimes do capitalismo, aquilo que o comunismo se opõe, não é? O comunismo em si é uma oposição ao sistema capitalista, que hoje é hegemónico e quase totalitário.
Na tua opinião, o comunismo é a resposta que a sociedade procura ou é apenas a tua resposta?
No meu livro, é a minha resposta e a minha visão, eu não falo em nome de partido comunista nenhum, não falo em meu nome, não é? Embora eu seja militante do Partido Comunista Português, mas vejo que a maioria dos comunistas portugueses pensam como eu, senão não fazia sentido eu reivindicar-me desse partido. Por outro lado, também é preciso respeitar a especificidade de cada país e de cada povo e de cada nação, e portanto há muitas formas de entender o comunismo, como, aliás, há muitas formas de entender o capitalismo. O capitalismo é imensamente plástico, porque tanto se adapta a uma ditadura como a uma democracia de características liberais. O comunismo também pode, quando for implementado, ter diversas formas de se institucionalizar e de funcionar. Mas aquilo que eu mostro no livro é o meu pensamento. E, desse ponto de vista, é uma expressão individual, embora o comunismo seja um pensamento de características coletivas. Digamos que há, no livro, uma tentativa de introduzir o individual no coletivo e como é que isso funciona, como é que isso pode encontrar o equilíbrio ideal. Mas, basicamente, o que eu penso é que o comunismo é a melhor solução para a humanidade, é melhor para todos.
Ser comunista é hoje mais ou menos desconfortável do que quando aderiste ao Partido? Tive duas fases. Eu aderi ao Partido – não sei a data exata - em 83, 84, talvez 85, e nessa altura havia uma grande implementação do Partido Comunista no país, comparativamente com o que existe hoje. Eu comecei a ser jornalista em 83, e nos jornais, havia um refluxo a seguir ao 25 de novembro e os comunistas eram olhados com desconfiança e com muito preconceito. Depois isso, com o tempo foi-se esbatendo. Curiosamente, quando fui nomeado chefe de redação de um jornal diário relevante - que foi A Capital, um jornal de Lisboa e já foi nos anos 90, em 96, salvo erro - pela Helena Sanchos de Osório, que era a diretora do jornal, e isso foi assinalado. Um chefe de redação comunista num jornal que não é comunista. Havia, sim, um bocadinho esse preconceito. Mas a verdade é que na profissão fui sempre bem tratado. Pelos meus colegas de trabalho, pelos meus superiores e mesmo pelos administradores, não tenho razão de queixa pessoal sobre a forma como fui tratado. Hoje em dia sinto, com a ascensão de ideias de extrema-direita, quase fascistas e mesmo fascistas, e também com, digamos, uma hegemonia em relação à globalização, em relação ao sistema, ao entendimento de um mundo em que só o sistema capitalista é que pode realmente funcionar, em que não há uma alternativa e em que os comunistas são vistos com uma grande desconfiança e até - e é uma das razões porque eu escrevo o livro - até com tentativas de proibição em muitos países do mundo de que existam comunistas.
Na mesma linha, tu achas que o comunismo ganha ou perde com este ressurgimento do fascismo, da extrema-direita?
Perdem as pessoas. Mas é evidente que se calhar para alguns poderá aparecer a ideia de que o comunismo é a força capaz de combater com mais assertividade a ascensão destas ideias. O comunismo é uma oposição ao fascismo, mas o fascismo é uma das expressões do capitalismo, portanto o comunismo quer outra sociedade organizada de outra maneira e com estruturas pensadas de outra maneira. O verdadeiro fascismo é especialmente perigoso. Aquilo que nós conhecemos, por exemplo, durante a nossa ditadura de Oliveira Salazar, reprime as pessoas, põe-nos na cadeia, é totalitário do ponto de vista de realmente implicar um pensamento único em todas as matérias da vida, e não só na matéria política, na religião, na cultura, até quase no desporto, na economia, etc. Portanto, tem essas características e depois tem como inimigo principal o comunismo porque põe em causa as oligarquias económicas que esse tipo de ditaduras cria. E, portanto, de facto, é mais perigoso para o comunismo – fisicamente, por um lado – a existência de cada vez mais regimes com características fascistas ou muito parecidas com essas. Mas, por outro lado, é também um motivo de luta e de afirmação que faz que eu que sou um tipo muito pacífico, achar que é melhor escrever um livro como este - embora a ideia não tenha sido minha, mas sim do editor Carlos Vaz Marques - mas, digamos, achei que era útil nesta altura, tentar demonstrar que o comunismo tem uma necessidade de afirmação cada vez maior e de presença pública, porque independentemente das pessoas estarem de acordo ou em desacordo com as ideias dos comunistas, há um patamar comum de resistência àquilo que pode ser muito negativo para toda a sociedade vindo destas ideias mais extremistas da direita e com características fascistas que urge combater. Portanto, o ideal comunista pode ajudar, e pode enquadrar-se nesse tipo de luta.
Um dos capítulos é sobre as mudanças das mentalidades. O comunista é necessariamente progressista ou pode ser conservador?
Eu tento... Este livro foi inspirado no título de um livro muito célebre do Bertrand Russell, que foi muito polémico na altura, e que tinha o título “Porque Não Sou Cristão” (Why I am not a christian, 1927). Ele é um filósofo, e não estou a comparar-me com ele. Mas a ideia do Carlos Vaz Marque surgiu porque teve esse título na cabeça e o Bertrand Russell tenta demonstrar na sua época, numa época em que o cristianismo era também, de certa forma, totalitário do ponto de vista ideológico, que uma pessoa sensata podia não ser cristã. É isso que ele tenta mostrar no livro, e eu tento mostrar no livro que uma pessoa sensata, não necessariamente conservadora, não necessariamente muito progressista, mas uma pessoa sensata pode ser comunista. É isso que eu tento mostrar.
Alguém que escolhe a visibilidade e que é pago por essa visibilidade é necessariamente burguês?
Não, eu sou burguês por origem familiar. É isso que eu também tento explicar. E, portanto, isso não é uma coisa que se abandona culturalmente. Eu sou um burguês, de facto. A minha família era uma família, de um lado, de comerciantes relativamente abastados, não ricos, mas hoje em dia seria de classe média, talvez média alta. Do outro lado da família são pessoas com proprietários no norte. A minha mãe, por exemplo, teve aquela educação tradicional das mulheres dessa época que era uma sociedade muito patriarcal. Eu nasci há 62 anos. Ela foi criada em casa, tirou um curso na Escola Lusitano Feminina, onde andavam as meninas bem. Saiu de casa para casar, provavelmente com o primeiro namorado que teve, que foi o meu pai, e depois montaram casa, tinham uma criada dentro de casa, portanto, é nesse ambiente que eu sou criado. Depois, há aí uma precipitação que faz com que eu comece a ver o mundo de outra forma, que é quando o meu pai morre num acidente de automóvel e toda a construção financeira da casa cai e a minha mãe tem que trabalhar como datilógrafa. Tem que fazer-se à vida e resolver como sustentar uma casa com três filhos. E nessa altura era muito difícil. O meu pai morreu em 72, o 25 de Abril foi em 74, o primeiro ordenado mínimo foi nessa altura e era 3,3 contos (3300$00), salvo erro, e a minha mãe ganhava 2 contos (2000$00). Portanto, ela ganhava menos que o ordenado mínimo, e houve um precipício económico lá em casa que me fez a perceber e começar a ter consciência de que havia um problema económico no mundo. Que quem não tinha dinheiro estava tramado. Depois conheci pessoas muito pobres e houve um momento já quando eu andava no chamado ciclo preparatório – os atuais 5.º e 6.º anos de escolaridade – em que eu vou a casa de um dos meus amigos de escola e dou-me conta que ele vivia a 100 metros da minha casa e era um bairro de lata escondido atrás de uns prédios mais ou menos de luxo. Não digo de luxo, mas, enfim, prédios bons. As desigualdades estavam à vista, e a partir daí começo a perceber que há muita gente desfavorecida por razões que eu não compreendia muito bem. Depois, ao longo da vida, cheguei a uma conclusão. E é por isso que eu sou comunista, independentemente das teorias filosóficas, ideológicas, políticas, de filosofia política que depois aprendi. Há uma base de que eu parto que é: se não é o mundo do trabalho a mandar no mundo, o mundo do trabalho e a maioria das pessoas está tramada. E, portanto, é por isso que eu sou comunista.
Ainda mantendo a ideia do burguês, o burguês continua a ser o tipo que ganha dinheiro sem sujar as mãos?
Não, o burguês, no momento em que aparece, é um progresso na humanidade. Ele aparece como a oposição a uma casta social de nobres, aristocratas, clero e representou um grande processo de libertação até do mundo. Por exemplo, a nossa Revolução de 1383 é uma revolução burguesa aqui em Lisboa e tem algumas características de revolução burguesa, e isso foi bom na época para uma série de pessoas e construiu uma evolução positiva na humanidade. O ser burguês, à partida, não é uma coisa negativa. O grande capitalista que depois o burguês cria e que desperta todos os outros é que, digamos, pode ser considerado o grande inimigo do equilíbrio social justo na humanidade. E que para isso depois há uma ideologia burguesa que depois contamina os próprios burgueses, digamos, os burgueses de classes médias ou de pequena e média burguesia, que faz com que aspirem a um nível de competição e de relações sociais que implica sempre a discriminação sobre o outro. E isso torna a burguesia um fator negativo para o resto da sociedade. Portanto, o indivíduo burguês pode ser uma ótima pessoa.
Eu sou burguês, considero-me uma pessoa razoável, não digo uma ótima pessoa, mas como acho que para a humanidade o melhor era que os trabalhadores mandassem e não os burgueses, prefiro aliar-me à classe e trair a minha e aliar-me à classe dos trabalhadores. Ora, a propósito, há uma ideia interessante que tu desenvolves no livro que é precisamente a da traição. Há contradição entre coerência e traição quando falamos de uma ideologia?
Traição, quer dizer, eu... Eu respeito a pessoa que muda de ideias. Obviamente que é compreensível que pela experiência de vida, pelos estudos, pela própria mudança que o mundo tem, que haja pessoas que mudam de ideologia. Eu compreendo isso. O que eu não compreendo muito bem, é a renegação da ideologia anterior implicar uma espécie de mecanismo de matar o pai que leva a uma crueldade que acaba por ser traiçoeira e acaba a com a pessoa a trair-se a si própria, trair o próprio passado. Mas nem é isso que eu falo nesse capítulo. O que eu falo, em primeiro lugar, é que há de facto uma ideia entre os comunistas que criam uma comunidade, e como eles próprios estão sempre mais ou menos ostracizados e olhados com desconfiança pelo resto da sociedade em muitos aspetos e acabam por criar um núcleo de resistência a essa agressividade exterior que os leva a fecharem sobre si próprios e a classificarem de traidores todo e qualquer um que apresenta um pensamento um bocadinho diverso. E isso é uma crítica que eu faço. Por outro lado, é também uma força. É isso que garante aos comunistas a sua capacidade de resistência a essa agressividade e ao constante adiar da sua extinção que está sempre a ser proclamada pelos seus adversários. É um fenómeno interessante. Eles não gostam de traidores, detestam traidores, todos os comunistas de facto têm essa característica e é nisso há aspetos positivos e negativos.
É mais fácil debater com um capitalista ou com um anticomunista?
Um capitalista, em princípio, é anticomunista por natureza, não é? Portanto, se for um grande capitalista, não pode ser comunista. Não pode ser, e não é por ser boa uma pessoa. É porque está contra os seus interesses. Eu penso que discutir com qualquer pessoa de outra ideologia que não a nossa é sempre estimulante e interessante e eu gosto dessa discussão.
O comunismo e o capitalismo, como conceitos, nasceram como uma espécie de duas faces da mesma moeda. Eu pergunto se ambas estas ideias ou estes conceitos podem ser derrotados?
Bem, eu acho que o capitalismo tem muito mais anos do que estás a dizer. Estás a falar do livro do Adam Smith, suponho eu, que é o que é considerado a origem da teorização do capitalismo, sendo que depois desse livro, muita gente esquece que tem dois volumes. Um primeiro volume, de facto, é sobre matérias económicas, e depois um segundo, que é o Adam Smith a defender uma ditadura para o mundo, e outras coisas muito esquisitas como a eugenia e coisas desse género. Mas o capitalismo, na verdade, surge com o mercantilismo no século XV e XVI. Tem um processo de implementação e de introdução na sociedade muito mais antigo do que os 70 anos que a União Soviética teve, que foi um tempo muito mais curto. Todos os riscos que se cometeram no início do mercantilismo também se cometeram (na União Soviética) e não tiveram tempo para ser amadurecidos e corrigidos. Mas em relação à pergunta que estás a fazer, eu penso que não são duas faces da mesma moeda, são faces de uma sociedade que está em evolução e não há fim da história.
Não podem ser derrotados?
Não, mesmo que um dia a sociedade viesse a ser maioritariamente comunista, não seria o fim da história e, provavelmente, estaria alguém a trabalhar para construir outra sociedade diferente daquela porque a sociedade que fosse implementada não teria os seus defeitos. Como faz parte da condição humana, não é possível uma sociedade perfeita. Agora, que seria muito melhor do que a capitalista, isso acho que sim, e que seria um passo para a humanidade importantíssimo, também acho que sim. Neste momento, são oposição, porque são as duas conceções do mundo que estão mais sedimentadas no conhecimento humano, e são aquelas que parecem ser de leitura mais prática e mais consequente. Daí aparecerem como oposição.
Já disseste que estas reflexões que aqui estão são reflexões tuas e, portanto, não são reflexões do Partido Comunista (Português), mas elas partem exclusivamente da tua experiência e aprendizagem pessoais, ou da reflexão coletiva que também existe em permanência dentro do Partido e pelos membros do Partido?
Sim, obviamente que também inclui na minha experiência de vida, pelo facto de eu ter trabalhado nove anos num jornal como o Avante, que é um jornal do Partido Comunista Português e de ser militante do Partido Comunista e frequentar as reuniões e debater com os meus camaradas militantes do Partido Comunista todas as questões que estão abordadas nesse livro. E, portanto, reflete certamente também o trabalho coletivo no sentido. Até diria que é a minha interpretação individual desse trabalho coletivo, o que está aí nesse livro.
Onde é que achas que o comunismo foi melhor praticado?
Eu não consigo julgar isso assim porque cada país tem que ter a sua história, tem o seu percurso. Posso achar que em Cuba aquilo que se está a tentar fazer, que é construir uma sociedade comunista, tem aspetos muito positivos e alguns aspetos negativos, mas os cubanos é que sabem se aquilo é bom ou mau. Posso achar que, na Coreia do Norte que é uma coisa... que aquilo é péssimo, mas se calhar para os coreanos, aquilo faz sentido. Acho que é difícil avaliar isso assim. Mas há uma história que é uma história política, de combate ideológico e a interpretação que fazemos sobre ela está contaminada pelo nosso próprio pensamento político e ideológico. Se eu for um liberal, do ponto de vista económico, não posso olhar para nenhum país comunista fazendo a história dele de uma forma positiva. Se eu for um estalinista completamente ortodoxo, posso olhar para a União Soviética e achar que aquilo foi tudo maravilhoso. Mas o que eu acho que deve prevalecer é a contextualização dos factos no tempo em que eles ocorreram e no contexto em que eles ocorreram no mundo real em que esses factos aconteceram. E a interpretação mais legítima é dos próprios povos que viveram esses factos e não as interpretações exteriores.
Tu estás também envolvido na organização da Festa do Avante, É uma reunião maioritariamente de comunistas ou já não é isso?
Acho que nunca foi. Em termos de pessoas que visitam, nunca foi uma coisa maioritariamente comunista porque há a quantidade de gente que lá aparece e depois o que os resultados eleitorais que acontecem a seguir, não correspondem. Acho que isso é quase uma conclusão óbvia. Agora, é uma festa de construção comunista e com construtores comunistas. Diria que sim, que claramente que é. Continua a ser, ao fim de 49 edições e isso acho que é notável. Uma festa construída não exclusivamente, mas sobretudo de trabalho de pessoas que se voluntariam, tiram férias para irem lá trabalhar e construir aquilo. E isso é absolutamente notável. Há uma frase que eu escrevo no livro que eu acho que é significativa: “é o sítio onde faz mais sentido ouvir a palavra camarada” porque ali todas as pessoas ajudam-se num trabalho, desde o planeamento à concretização de todos os aspetos da Festa do Avante, e são muitos e muito complexos. É de facto uma notável obra coletiva que ali está.
Uma ideia, a partir de uma ideia de comunismo que é expressa mais ao nível cultural ou mais ao nível político?
Tem a expressão política imediata, da política corrente, no comício que é protagonizado pelo secretário-geral ao domingo. Mas, no resto dos 3 dias, é de facto uma expressão cultural também com aspetos políticos. Tem as posições que normalmente abordam a luta das classes trabalhadoras portuguesas, nomeadamente no chamado Pavilhão Central, que é um pavilhão essencialmente político. Claro que se sobrepõe a popularidade dos espetáculos, a questão da gastronomia, da gastronomia regional. Há todo um contexto cultural envolvente e muitos debates sobre matérias culturais, o teatro, o cinema, etc. Há todo um conjunto de iniciativas culturais que tentam fazer essa ligação entre o que seria uma sociedade em que o valor da cultura popular é elevada ao nível da cultura erudita. Ser comparável àquilo que, do ponto de vista erudito, se faz e criar condições para que a cultura popular tenha essa capacidade de afirmação e de evolução, e não ficar estagnada e evoluir. E ao longo destes 49 anos, creio que a Festa ao Avante tem sido um espelho disso, focada principalmente na cultura portuguesa, e também a tentar mostrar que é possível criar relações sociais em que o indivíduo e o coletivo conseguem conviver de uma forma criativa e humanamente enriquecedora.